quinta-feira, 25 de março de 2010

Everyone I love goes away in the end.

terça-feira, 23 de março de 2010

Uns esclarecimentos no escuro


Eu não sei mais nada, sobre nada. Não sei que horas começam suas aulas e nem tampouco por que você sai tão cedo de casa, não sei se tem outra, se mente quando diz que não tem, se mente quando diz que me ama ou se mentia quando dizia. Não sei nem porque não diz mais, você diz que é porque cansou de dizer sempre e não ouvir nunca, e eu sempre acho que é mentira, talvez por um costume, uma tradição. Nunca acreditar no que os homens dizem.

Nunca entendi o real motivo, mas sempre carreguei esse fado comigo. “Nunca acreditar completamente no que tem uma possibilidade – mesmo que mínima – de ser falso”. NUNCA. E graças a isso minhas feridas não são abertas, graças a não deixar o homem se aproximar tanto minhas dores ainda são suportáveis. Porém, quando digo “homens”, eu quero dizer “seres humanos”, portanto: Nunca acreditar no que os seres humanos dizem.

Nós sempre mentimos quando nos convém, quando nos faz bem, quando nos traz proveito, lucro. Quando nem sabemos por que ou até mesmo quando sabemos, temos plena consciência de que não devemos, mas ainda assim, mentimos, como se pudéssemos depois dizer “Desculpa, foi por força maior” e como se o outro fosse um idiota para sempre responder com um “tudo bem,, eu entendo”.

Eles nunca entendem e nunca está tudo bem. Eu não entendo e não está tudo bem.

O ser humano não tem raça, não tem jeito, não tem mais solução. Somos todos tão perecíveis, limitados, sádicos, abra os olhos, a natureza vale mais. Mas enfim, o fato é que eu não sei em qual ponto estamos.

Não sei se é o ponto de partida, o ponto de chegada, ou ainda estamos nessa estrada que o fim não se vê daqui.

E vez ou outra eu paro para pensar nessa estória dos pontos e de repente me pego paquerando você, pensando em como poxa seus olhos podem ser tão bonitos e como poxa você consegue ser tão bobo e me fazer rir da menor coisa que pareça ter graça. Mas eu simplesmente não sei, oras, eu não sei.

Não sei por que não liga, não sei se sente falta, por que não sente falta, por que não me pergunta, não me diz, não me abraça.

Por que nunca quer acordar na hora certa, não sei por que é tão teimoso, tão desatento, tão mentiroso, tão amoroso, tão machista, tão egoísta, tão Away from here. Enquanto eu queria que fosse um pouco mais stay with me e talvez as dúvidas cessassem, ou talvez até fossem extintas de vez, ou quem sabe por um tempo determinado. Eu sei que algumas vezes essa minha couraça tira tudo de órbita e depois para colocar no eixo dá um trabalho danado, mas não adianta me criticar e me julgar sem me ajudar de alguma maneira. Ela não vai quebrar tão fácil – a couraça – mas talvez ela te proteja do frio, da chuva, do sereno, se você permitir.

Dê-me então uns esclarecimentos no escuro, onde mesmo com olhos abertos eu não possa enxergar, mas tente, não me deixe nesse vazio, nesse esquisito, nessa aflição.Sei que alguns passos parecem mais pesados e a força parece ser cada vez menor, sei que nisso tudo não há nenhum culpado, mas não deixemos nada disso ficar pior.Eu sei de pouco, de muito pouco, o que me interessa eu não sei. Eu quero as respostas, quero as respostas completas para elaborar novas perguntas e colocar a vida adiante. Eu vou seguir adiante, você vem comigo?
Não sei por que você não fala tudo, por que esconde, por que discute, por que insiste. Por que não me escuta meu coração trovejar, por que não me escuta pedir um cigarro ou não matar a minha bomba de sena. Não sei onde estão os escrúpulos, a paz, as juras de amor e as promessas de casório com véu e grinalda. Sim, eu sei que no século XXI não se fala mais nisso, mas essa coisa de atualidade não ajuda muito a gente. Eu sei que deveria ter nascido alguns muitos anos atrás e hoje te chamar de “Ow, meu filho”, mas já que não foi assim, já que nos aceitamos como somos, como queremos ser, pensa no cavalheirismo, na linguagem, nas carícias de anos atrás. Nos valores, pensa que os valores eram outros e são esses que eu quero para nós, ou como diria o Senhor Mendonça, para eu-e-você. Eu não sei mais se quer acordar ao meu lado, ou se ainda prefere suco de uva, ou se tem alergia a corante ou se pretende parar de fumar, ou se pretende voltar a beber. Não sei mais se tem meu número decorado e se ainda lembra bem do meu endereço. Não sei se quer vir, se quer ficar, se quer esquecer, se quer afastar, se não quer dizer por medo, por aflição, por vergonha, por dúvida, pro certeza. Eu não sei, eu não sei e é esse não saber que não me deixa mais em paz.

Não me deixe sem saber.

Não me deixa sem saber se volta, ou por que está indo, ou por que tantos risos ou por que nenhuma alegria. Não me deixa sem saber se quer um abraço meu, se precisa de um abraço meu, se precisa de algo que exista em mim, se lhe sirvo para algo, nem que simplesmente para te lembrar um fato, uma piada, uma canção. Eu não sei mais nada, eu não sei mais se me ama, se ainda pensa em mim, se virou costume, se virou rotina, se vai acabar um dia se já acabou e eu não vi e você também não mostrou. Eu apenas não sei mais e é esse não saber que me incomoda, me sufoca, que me tortura, que me machuca aos poucos. É aquele mesmo não saber que não me deixa em paz.

E não se preocupa não, quando eu fico meio desnorteada, sem chão, confusa, eu grito com os dedos, assim só os surdos podem me ouvir. Pode ser que depois eu venha aqui e apague isso tudo alegando que não passam de meras palavras, grande bobagem, espasmo momentâneo, mas no presente momento, é tudo o que eu mais quero lhe dizer.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Eu lembro que eu cantava assim:
"My girl, my girl, don't lie to me, tell me where did you sleep last night..."
Eu só não lembro quem me ouvia, sei apenas que tinha uns olhos triste, um riso doce e dizia baixinho "Não sei porque eu acho tão bonita essa canção."

''My girl, my girl... don't lie to me, tell me where did you sleep last night...
In the pines, in the pines... Where the sun don't ever shine... I would shiver the whole night through... ''

quinta-feira, 4 de março de 2010

"Não sentimos saudades um do outro."


- Antes fosse assim, mas tudo bem, isso também passa.
Eu ficaria com você o resto da vida, f i c a r i a.
Se eu não fosse assim tão desse jeito, se você não fosse assim tão desse jeito.
Algumas pessoas são impossíveis de tirar das nossas vidas.

TABACARIA (15-1-1928 ) Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real,
impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, e não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso?
Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente 0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri, E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira.
Vou á janela.
0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.


-F.P.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Vai doer, mas vai passar. É só doer que faz lembrar das palavras todas do português e juntá-las em um lugar só, e vai fazendo arte, vai criando arte, pintando os 7 com vontade de explodir. Transforma sorriso em quadro, transforma euforia em escultura, mas destrói por achar que a tristeza é mais bonita. E a tristeza é mais bonita. A tristezza é mais bonita. Com dois “Z”, para isso parecer mais triste, mais bonito.

...nYn

IV


Todos os dias eu fico olhando para você e me perguntando onde foi que eu errei, me perguntando se fui eu quem criou esse monstrinho que você se transformou ou se você sempre foi assim e eu que demorei a enxergar por estar acostumada a viver em meu quartinho escuro.
Sempre que te vejo sorrir eu me pergunto o porquê de você não ser mais como era no início, sempre me pergunto – esse sempre quer dizer t o d a s a s v e z e s .
Não sei onde esse seu “eu lírico” se escondeu esse tempo inteiro, não sabia nem que você tinha outro “eu” por baixo da manga. Ou talvez não estivesse tão por baixo assim – tudo culpa do maldito quartinho escuro.
Olhando bem para você, eu sei que deveria ter sido mais sutil, talvez um pouco mais adocicada, ou sei lá, mais fingida, mas preferi ser eu mesma e acabei lhe perdendo aos pouquinhos, sem que nenhum de nós dois pudesse perceber e agora eu vejo. Eu vejo o quanto você está longe e finge às vezes que está tudo bem, que não se afastou, que estará sempre aqui, que sente saudades e que ia ligar.
Agora eu vejo, haha, agora eu vejo. Você me tirou do quarto escuro e me jogou no mundo colorido que eu procurei por tantos anos, me fez despertar de um sonho sem futuro e passar a projetar outro sonho sem futuro ao seu lado, acreditando na máscara, no homem que eu pensei que fosse e na realidade não era, ou era, ou será. Na máscara. Ou talvez não fosse máscara, fosse a película escura que tapou meus olhos por tanto tempo, por tantos anos naquele tal quartinho escuro.
Agora posso dizer que se eu descobrisse alguma maneira de chegar de mansinho no seu afago, na sua mente e tomar conta dos seus sentimentos, e me apossar do seu amor e dizer que ele é meu e que ninguém vai tirar de mim, eu chegaria. Se houvesse um canto qualquer para eu te esconder e te alimentar com carícias, eu esconderia. Uma canção que eu pudesse cantar e te fizesse me amar, eu cantaria.
Contudo o que fui, o que fiz, ou que sou, o que faço, o que quero é trazer você do passado e lhe estacionar na minha sala de estar, em um presente profundo como o meu está sendo ultimamente. Quero parar de sentir falta do que você foi um dia, parar de sentir falta de velhos tempos e fazer novos tempos valerem muito mais a pena.
Quero cativar o seu sorriso, lhe convencer que sou eu e mais ninguém e que é você e mais ninguém, mais nada, mais nada, mais nada. Quero roubar a sua dor e colocá-la na minha caixa de sapatos e deixá-la lá até que vire poeira, deixá-la lá até que não vire mais nada, ou veneno para ratos, ou adubo para o jardim, ou qualquer coisa que não venha a atrapalhar meus planos, nossos planos.
Desde ontem que a minha manhã não tem cheiro de rosas. Incompleta, manhã incompleta. Sem beijo de despedida, sem sorrisos à distância, sem nada para unir o cansaço e a saudade.
Olhando bem para mim, estou sofrendo por dentro e procurando um escudo para apoiar e não cair. Olhando melhor ainda, estou chorando por dentro e passo o tempo inteiro com um sorriso no rosto ou uma seriedade qualquer para não dar liberdade à pena alheia. Olhando bem minuciosamente para mim, estou morrendo por dentro e fingindo que choro, fingindo que sofro para não pensar em desistir agora, para não te mostrar que por trás da armadura essa menina ainda é feita de carne, osso e coração.
‘Desistir’, a palavra que meu dicionário desconhece.
Saudade, a menina com armadura de ferro também sente saudade.
Amanhã de manhã eu prometo que serei eu mesma, sem nada a mais e sem nada a menos. Se você estiver aqui você vai me ver sorrindo, eu prometo. Café quentinho, sanduíche de queijo e presunto, um cigarro no ponto enquanto o ônibus não chega e um chiclete para quando ele chegar.
Se encontrar figuras indesejáveis, serei educada. Se encontrar pedras no caminho, eu vou passar por cima. Se fizer muito sol, eu vou pela sombra e se chover, eu passo correndo. Minha vida nunca foi das melhores para eu deixá-la para trás agora, já perdi tanto tempo que um segundo me parece uma eternidade. E se alguém tivesse a eternidade nas mãos, quem iria deixá-la partir?