terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Acontece que você resolveu ir embora e tudo o que lhe disseram foi algo como ´”Espero que saiba o que está fazendo. Quer sanduíche?”
Certo, e o “Que tal não? Por que você não fica mais um pouco para pensar melhor?”
Eis a falta que você faz.
Algumas pessoas precisam ir embora, não porque queiram fugir de algo, não porque queiram chamar a atenção de alguém, algumas só querem ir embora porque descobrem que suas metas estão em outro lugar, seus caminhos guiam suas vidas para outra direção. Ou querem ir embora simplesmente porque cansaram de ser segundo plano ou nem ser. Você que quer fugir, quer porque descobriu que ali já é pequeno demais para você e para os outros, ou que é apenas pequeno demais para você e para a outra. Sua palavra não é mais ouvida, sua presença não é mais sentida, sua falta foi perdida. Pode gritar, espernear, colocar a música bem alta e sair dançando pelada pelos corredores que ninguém vai lhe dar a mínima atenção. E você quer? Não.
Tem um momento na qual você também cansa, tem um momento que você também não quer mais ninguém, não dá mais atenção, não vê passar. E é aí que você precisa ir embora, afinal para que continuar em um lugar onde moram estranhos? E dormem em quartos vizinhos como se fossem quartos de hotel? Que saem sem dizer Bom dia, vão na cozinha, fazem o próprio café da manhã e voltam para o quarto e assistem sozinhos à televisão e saem sozinhos e moram sozinhos rodeados de gente.
Alguns costumam trocar o velho pelo novo, trocar certos alguéns por ninguéns por saber que alguéns não poderão nunca ir embora porque nunca terão para onde ir, então abusam do humanismo de alguéns. Esquecem que são feitos de células e que possuem uma certa capacidade de inteligência e o colocam cada vez mais para trás, até perder no passado, no escuro, na neblina que impede todo mundo de ver.
Mas certos novos sempre vão embora, as novidades não são novidades para sempre e o vento sempre leva para outros lugares e nesse caso, quem precisa mais? Quem ficou só e aprendeu a lidar com isso ou quem procura quem mandou embora por ter medo da solidão?

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Lispector contou um dia:

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...
Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo.
Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram...
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer: - E daí? EU ADORO VOAR!

- Clarice Lispector