quarta-feira, 1 de julho de 2015

Preciso parar de citar o cu. Que feio pra uma mocinha. :]
Ainda sendo meio da semana, o vinho tinto, barato, de mesa, gelado, acompanhou. Sentou naquele banco sujo e molhado e esperou. Ela sempre espera alguém, nunca ninguém chega. Milhões de ônibus levavam e traziam pessoas que nunca lhe chegavam. Os faróis passavam, encadeavam, paravam em cima da faixa de pedestres, na ciclovia, furavam o sinal. Cadê? Ninguém. Não ele. Buzinas ainda que já fosse tarde, os faróis novamente, mais e mais, ninguém. Acendeu um cigarro, depois outro, então mais um, e continuava dizendo que estava parando de fumar. Mentia para si mesmo porque a realidade já era filhadaputa demais pra não ser capaz de largar um vício sujo desses.
Apagaram as luzes, escureceu noite adentro. Vinho tinto, morgado, numa noite morgada, dois comprimidos de Diazepam e o sono também não desceu naquele ponto. Perdeu o Corujão, fio.
Mesmo depois de adulta não sabia o que fazer com seus sentimentos, era sempre a vítima, ainda que estivesse ciente de todas as regras e formas que não mudam nunca. Algumas pessoas acreditam mesmo nas outras pessoas. E sua ansiedade era tamanha que vomitava, cantava com o couvert do bar ao lado. Dançava discretamente porque seu organismo inteiro estava morto em uma enorme porcentagem. O amor quando é maltratado, ele padece o corpo. Estava frágil.
A solidão fode com a consciência do ser humano.
Chegou alguém, do trabalho, reclamando de como o dia havia sido cansativo. O sereno podia refletir na lente dos seus óculos. Ofereceu um copo de vinho.
- Quer um pouco?
- Só um pouco, estou com dor de barriga.
Detalhes que não precisavam serem ditos, mas notara que algumas pessoas não se importavam tanto assim e ela podia fazer isso também. Não necessariamente se tratando de dar uma cagadinha, é claro.
A garrafa acabou tão rápido que nem deu tempo de esquentar. Perdeu o isqueiro e a pólvora ficava nos primeiros tragos do milésimo cigarro de quem está parando de fumar.
- Cuidado, seus pulmões.
- Estou doando. Todos eles, tudo isso aqui. (Apontou para si mesma) 
Havia cansado demais de tudo isso. Sentia até piedade dos que mais sofrem e pedia perdão a Deus por reclamar tanto da vida. Mas havia mesmo cansado demais de tudo isso. Tudo aquilo.
A noite virou dia e Diazepam virou Tic Tac. Não fazem mais remédios como antigamente.
Dormir era um desafio e não pensar em quem não podia era uma guerra sem fim. Havia sido escolhida. Nasceu mesmo para tomar no olho do cu.