sábado, 26 de fevereiro de 2011


  Depois de um tempo ficou difícil dizer que amava porque depois de um tempo não se sabia mais o que era o amor – E depois de ler tantos livros, sentia medo de descobrir se os poetas tinham mesmo razão-. Não sabia mais do que se tratava, como doía, como sarava, como fingia não sentir. Por isso foi mantendo o silêncio e deixando o cansaço se aproximar e aconchegá-la de pouquinho em pouquinho no braço largo do sofá. O café já estava frio e escorreu por todo o forro que protegia o alcochoado, mas quem iria se importar? Não tinha ninguém na casa, nunca tinha ninguém na casa e nem ninguém que a amasse tanto e há tanto tempo a ponto de sentir de longe sua angústia. Por isso dormia. Por isso deixava a vida adormecê-la porque enquanto acordada nunca sabia o que fazer e tinha medo de tomar decisões verdadeiras, nunca saberia se seria o melhor para si já que nada dava certo. Só queria uma opinião, uma opinião qualquer de alguém qualquer por perto, alguém que nunca existia.
  Era fim de tarde, era o fim mais triste da tarde mais bonita que já pôde se observar daquela varanda, mas o alguém adormecido no sofá nunca consegue ver. Está sempre se perdendo em sonhos e viagens e tramas e aventuras que nunca saíram daquela sala, nem do braço do sofá. Sempre acha que o amor vai chegar, bater à porta e anunciar uma notícia boa. O amor não vai trazer notícia boa, o amor nem quer saber! O amor encontra a gente com as mãos atadas, corta a gente em pedaços, espalha os pedaços pelo chão, vai embora e a gente fica com as mesmas mãos atadas ainda achando que ele vai cuidar da gente. O amor é tão covarde, às vezes.
  E eu que nem passo minhas tardes me afundando em meu sofá, me satisfaço com um pôr do sol por entre os prédios, um café para manter a pose, um papel e uma caneta bem próximos para quando o amor chegar para bater na minha porta eu escrever alguma coisa sobre ele. Talvez quanto tem de altura, ou quanto deve pesar, ou até mesmo até onde vai a luz que resplandece do seu sorriso. O amor é tão traiçoeiro que ele vem camuflado de gente. Vem vestido de sorrisos e belas canções para depois dar um nó no pescoço da gente como faz com nossas mãos.
  E então teremos mãos, pescoços, corações, sofás, cafés, papéis e fins de tardes atadas. Tudo em um só nó.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"- Vai dar certo, eu volto já já.
- Naquele momento eu tinha certeza de duas coisas: Nada ia dar certo e ela não ia voltar já já."
Vai, garota, vai em frente, nós acreditamos piamente em você. Vai, dá um tiro no escuro, um tiro para cima, um tiro no pé, e daí se doer?
É assim que a gente ganha a vida.
Vem, amor, vem cá que eu não quero ver o sol nascer tão sozinha, e também quero ficar me imaginando sendo um pedaço do céu, ou um pedaço do próprio sol, ou só um pedacinho de mim enquanto fico ali sentada na beira do nada esperando o sol sair e me matar de calor.
Eu te faço um café.
Eu te faço um carinho, uns biscoitos, um chazinho.
Dispense o cigarro, o destilado, a conversa fiada. Fica calado, fica calado, fica calada.
Cala a boca e vem comigo ver o sol nascer, vai durar pouco, estilo parto normal. Uma emoção enorme, uma dor bem forte e de repente a paz.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Há dias que eu abro as páginas em branco da minha vida e tento escrever um poema, até mesmo um verso me parece ser tão difícil. Eu me encontro tão vazia, cada dia um pouco mais.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

B-day Dan

 Se eu pudesse, meu anjinho, eu te colocava nos braços e te mostrava o mundo. As falcatruas e todas as armadilhas que a vida armou para você e você malandrinho nem percebeu o quanto doeu. Mas doeu, doeu e dos seus olhos saíram lágrimas, mas você fingiu que nem percebeu e seguiu em frente. Seguiu.
Seguiu em frente porque andar para trás não ajuda muito na vida da gente, seguiu em frente porque você chutou o pau da barraca e depois precisou da barraca para dormir, por isso foi, por isso seguiu, em busca do que mais precisava. E depois de muito lutar, de muito correr atrás a barraca era pouco demais para a sua garra, e você passou a noite em um berço de ouro.
 Ah, meu anjinho, se eu pudesse. Se eu pudesse eu fechava sua alma para o frio e abria seus olhos para a realidade. Abraçaria-te eternamente para você nunca mais se sentir só e também moveria o mundo inteiro com as pontas dos dedos para te mostrar que nada nesse mundo dá medo quando a gente tem fé. Ah, se eu pudesse! Se eu pudesse eu tiraria o seu medo. O medo da eterna solidão, da dúvida, da certeza infiel safada que persegue a gente por toda a casa e derruba a gente da escada e depois ainda como quem não quer nada dorme ao nosso lado na cama.
 Você sabe que se eu pudesse, meu amor, se eu pudesse eu seguraria a sua mão com tamanha força que você jamais chegaria a cair, jamais sentiria o gosto de terra seca descer goela abaixo e nem a dor nos joelhos lhe impedindo de levantar. Eu não ia te deixar sofrer, nunca ia te permitir chorar.
 Se eu pudesse eu me agregaria a você, eu ficaria com você dia e noite para te garantir total porto seguro, total segurança, tudo o que eu pudesse lhe oferecer de bom.
Garantiria seus sorrisos, sua saúde e o brilho nos seus olhos que lhe fazem ficar muito mais bonito. Aquele sorriso que deus te deu, aquele humor que você cultivou, a alegria que você arranca tão de dentro de você que parece que não vai mais caber no mundo, parece que você é bem maior que o mundo. E eu queria ser ainda maior que você no quesito físico da coisa para poder te colocar embaixo das asas e não deixar a chuva te molhar, e nem o vento arder seus olhos e nem o sol queimar o desenho da tua pele.
 Se eu pudesse, oh, deus, se eu pudesse! Eu faria várias réplicas suas para espalhar pelo mundo para ver se pelo menos assim esse mundo tem jeito! Para dar mais esperança e alegria a esse povo tão sofrido, para espalhar você por todo o planeta porque eu acho tão injusto o fato de nem todo mundo ter você por perto. Todos deveriam carregar um pouco de você no coração, na canção, na chuva que cai, no sol que ilumina e faz florescer as rosas mais bonitas para depois encantar tantos jardins e tantos perfumes que agradam o olfato, e tantos doces que agradam o paladar e tantas histórias para boi dormir que a eternidade nunca esquece, nunca deixa a gente esquecer.
 Ah, se eu pudesse, anjinho. Se eu pudesse eu pegaria uma estrela e colocaria em uma caixinha toda feita de vidro para enfeitar o seu quarto. E colocaria uma Kombi verde na sua garagem, duas viagens para um lugar com neve e o livro mais interessante de se ler. O anel mais bonito e a árvore mais bonita da Jamaica eu plantaria no seu jardim. Mas acima de tudo, o meu dinheiro não dá!
 Se eu pudesse eu cuidaria de você e não lhe permitiria angústia, ou aflição ou decepção, mas não quero isso para nós. Eu queria que você não sofresse, mas meu amor, tem que ser assim, senão você não aprende com a vida.
Portanto caia mesmo! Rale o joelho, chore, sofra e aprenda muito com cada sofrimento seu! E sempre que precisar de um ombro para encostar, estarei aqui.
 Ah, meu amor, meu amor, que a eternidade seja muito curta para ficar contigo. Que a saudade seja muito seca para me machucar e que meu coração seja cada vez maior para suportar o que sinto por você.
Alguns dias sem te ver e já não dá para ser assim. Hoje é dia de te abraçar e você não está por aqui. Feliz aniversário, Dan!
Boi, boi, boi. Boi da cara preta, pega esse menino que tem medo de careta. Mata essa saudade com um tiro de escopeta.