terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Vim dizer para que vim.



Não existe mais dia de luz, nem sol que ilumine o quarto por inteiro e tampouco calor que aqueça a todos no inverno. Mal existe o frio do inferno, das colinas, dos montes, da lua safada sorrindo lá de cima entre uma estrela que brilha e outra estrela que morre... Estrelas.
A noite chega e você finalmente vai poder ser você mesmo por baixo do travesseiro ainda molhado pelas lágrimas que não secaram da noite anterior. A noite foi longa, como esta e as demais. Você sabe que o travesseiro não vai secar na noite seguinte e nem em nenhuma das noites que possam haver até que o sonho deixe de ser sonho.
Grande sonho, grande merda. Se eu comesse o seu fígado no almoço eu ficaria bêbada e teria uma má digestão, mas ainda assim te preferiria. Não há maneira de ficar mais perto, há? Os beijos estão tão distantes, tão mais distantes e as mãos nem se tocam mais, as mãos nem apertam mais, elas até mal escrevem.
Eu vim aqui para dizer que te amo, para dizer que talvez não seja dessa vez, mas na próxima vida eu vou aprender a transparecer meus sentimentos, na próxima vida eu vou saber dizer Eu te amo sem precisar dizer nada, eu vou saber.
Vou saber cantar a música certa para te fazer dormir mais rápido, e te fazer ficar sonolento sem ter dor de cabeça. Talvez na próxima vez eu aprenda a fazer chocolate quente, nem muito doce, nem muito amargo. E fritar ovo inteiro sem quebrar a gema, com queijo por cima, com beijo por cima, com queijo ralado por cima e com outro beijo para encaixar no pão.
Não vou mais lhe acordar no meio da noite para reclamar das minhas cólicas e/ou dos meus sonhos ruins.
Eu vim aqui para arriscar dizer que te amo com o meu português errado e o meu vocabulário tão curto. Para explicar que parece que não, mas que saiba que sim.
E para dizer que o mundo parece grande, mas é bem pequeno quando minha mão encontra seu rosto e meu queixo encontra o seu queixo, o beijo encontra o beijo. E que fica menor ainda quando a noite cai. Quando dá para ver da janela do meu quarto a lua safada entre uma estrela que brilha e uma estrela que morre. Estrelas.
Mentira, é tudo mentira. Mentira, eu vim aqui para contar uma história. A história de uma menina que finalmente conseguiu se encontrar em outrem. Parece fácil?
A história é sobre uma menina que nunca aprendeu a sambar e acreditava piamente nos desejos remotos que lhe soavam ao pé do ouvido. Já está aos 19 e nunca aprendeu a fazer bolo, nem tricô, nem jogar xadrez, nem fazer gol e nem sexo. Nem sexo.
Vim para contar a história da menina que amou tanto um menino que cansou de amar e quando cansou ela amou outro e desse ela não quis mais cansar.
Eu vim para contar uma história sem fim, sem pé, sem cabeça. Uma história sem jeito de história, sem rima para poema, apenas uma história qualquer, um conto, um texto, um verso. Um parto mal partido, um prato sem comida e mal comido, uma história qualquer, apenas uma história. Sem narrador nem personagens, sem cenário e nem figurantes. Uma peça sem texto, sem palco, sem público, sem enredo, ator, diretor, posição, melhor ângulo, pior ângulo, iluminação no centro do palco. Ação!
Eu vim aqui para te contar uma história.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Ele voltou!
Passou o Natal com a gente, não teve a mínima vontade de usar drogas e está tão gordinho. Abaixa a cabeça e aparece o papinho gordo dele no pescoço!
Um sorriso mais simpático, o mesmo esparro, sempre falando coisa demais e falando palavrão demais.
Ele voltou, hahaha! Mas por pouco tempo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A cura do mundo dos duendes.

Reabilitação.
Estava na hora mesmo, ele precisava mesmo se tratar. Toda noite aquele fungado que não deixava o menino nem sequer jogar dominó, cada vez mais magro, cada vez mais pálido, com olheiras, sem sono. Cada vez mais distante, cada vez mais estranho, cada vez mais louco.
Eu dizia, eu pedia “Pedrinho, Pedrinho, procura ajuda médica, não deixa isso tudo piorar”. E o Pedrinho teimoso, mas que menino teimoso! Dizia que tudo ia dar certo e não mudava nada do lugar. Dizia que ia ali comprar cigarros e ficávamos esperando para devolver o isqueiro, vã ilusão. O Pedrinho quando saía para comprar bobagem só voltava no dia seguinte, dizia que ali “dá um mijão” e voltava três horas depois. Eu tinha medo, eu tinha tanto medo. Sabia-se lá com quem ele estava, o que ele ia fazer, que horas ele voltava, se ele voltava.
Hey, hey... Estava na hora mesmo, meu bem.
“Eu tenho medo de voltar e meus amigos não me considerarem como agora.”
No dia que eu te deixar para trás, Pedrinho, o dia não mais amanhecerá. Dá para entender? Você nunca vai ficar sozinho, meu anjo, nunca. E eu não sou a única que confia em você, na sua capacidade. Não sou a única que vai te esperar dia após dia e te dar um abraço aconchegante, um abraço honesto, sincero. Eu não sou a única.
Lembra daquela quinta-feira? Que nós fomos todos ao show do GOG e você sumiu. “Chico, cadê o Pedrinho?” “Rapaz, está por ai. Ele falou que ia comprar cigarros.” A banquinha estava fechada, Pedrinho, onde porra você ia comprar cigarros se a banquinha estava fechada? Eu tinha medo de como você ia voltar, mas de alguma forma, de alguma maneira eu sabia que você ia voltar, e voltou. Com os olhos arregalados, a boca seca, dava para perceber na sua maneira de falar. Sentados na grama estávamos os quatro: você, Gabi, Chico e eu.
Você começou a desabafar e a gente disse o que estava entalado na garganta, a gente queria te convencer de que a ajuda médica era a melhor opção, mas que para isso você tinha que realmente querer senão não adiantaria.
A tristeza transformou-se em uma película e começou a revestir seus olhos, você levantou olhou para mim e disse “Eu voltei a fumar crack, Suku! Tem noção? Eu voltei a fumar crack.” Foi nessa hora que a película escorreu dos seus olhos e sangrou dentro de mim revestindo o meu coração.
De novo, Pedrinho? Você conseguiu não usar por tanto tempo e de repente me aparece com essa? Por que não me falou antes? Foi a hora que eu vi que você mais precisou de alguém, sabia? E eu deveria ter te dado um abraço nessa hora, deveria mesmo, mas eu tentei não deixar transparecer minha tristeza, eu queria ser forte no momento em que você se sentiu tão fraco sem saber que precisava ter muita coragem para assumir diante de nós.
Eu fiquei calada, a Gabi falou algumas coisas que não foram decorrentes das latinhas de cerveja, o Chico – como sempre – não disse nada, mas eu sei que você entendeu os olhos dele. Você entendeu, não entendeu?
Entendeu quando depois de tanto silêncio eu falei que você ia conseguir e que eu sabia que era difícil, mas não dá para jogar uma oportunidade como essa na lata do lixo?
Você entendeu?
Entendeu quando eu disse que você era privilegiado por ter os pais que tem e a opção de ir se curar? Entendeu?
Eu só queria te explicar que você tem oportunidades que milhões de noieiros gostariam de ter e você estava jogando fora. Jogando fora. E agora? VOCÊ tem noção?
Você dizia que era igual a todos eles e todos dizem isso, mas meu amor, na prática a teoria é outra. Você acha que se eles pudessem, eles estariam nas ruas jogados no chão depois de fumar N gramas desta porcaria? Acha que arriscariam suas vidas para assaltar uma bobagem qualquer para trocar por uma pedrinha? Uma pedrinha, Pedrinho? Pedrinha, Pedrinho. Um Pedrinha não custa dois reais não, meu amor. Quanto custa a sua vida? Ela tem algum valor? E se tem, é o mesmo que você dá à essa tal pedrinha, Pedrinho? Pedrinho, isso não vale nada. Essa porcaria vale a sua vida e você não queria enxergar, mesmo com os tais olhos arregalados que podia ver tudo exceto a realidade. Eu te falei isso, não falei? Eu te pedi, não pedi? Foram duas horas de conversa, desabafo, medo.
Desabafo por ver que seu coração não agüentava mais guarda aquilo por tanto tempo e medo de ser tudo da boca para fora, medo de ser tudo uma viagem, um efeito alucinógeno daquilo branco que estava no canto esquerdo do seu nariz. Eu não queria que fosse uma viagem errada do pó. Não tinha como negar, a ampola ainda estava em suas mãos quando você sentou e ficou com a cabeça baixa.
- Levanta a cabeça, Pedrinho.
- Não, agora não. Eu sou um homem! Eu posso esconder essas lágrimas?

E as suas lágrimas fizeram as minhas, que não sabiam por onde escorrer e escorreram pela mente, por o coração já está ocupado demais tentando romper a película que eu citei uns parágrafos acima.
No fim das contas, a gente ia para casa e você disse que ia comprar uma cerveja.
- Não, vem com a gente, Pedrinho.
- Não, se você estivesse sozinha eu te levava até em casa e depois ia comprar a minha cerveja, mas você está com o Chico e eu sei que você está segura, então podem ir.
- Mas eu sei que essa cerveja só vende muito longe daqui, vem com a gente.
No mesmo instante eu pensei “Este filme eu já vi.” Eu te pedi por favor para ir conosco, pedi por favor e você disse “Eu só vou comprar uma cerveja e só quero que você confie em mim.” Eu larguei você, disse que qualquer coisa me ligasse e fui embora. Eu ainda confiava em você.
No dia seguinte me disseram que você estava partindo para Recife, para a clínica de lá. Na mesma hora eu comecei a chorar e pensar em diversas coisas. Será que foi a conversa de ontem? Será que se nós não estivéssemos na hora em que ele chegou, ele iria se tratar? E o GOG? Ele falou de uma conversa que teve com o GOG, será que foi isso? E o pai dele? E a mãe dele? O que pensaram? O que disseram?
“Eu vou levá-lo antes que ele desista.” – Falou o seu pai.
Você tem a família que merece, Pedrinho. Você precisa de apoio e eles são o apoio que você procura.
Será que ele vai demorar? Será que ele vai passar o Natal por aqui? E se passar? Será que ele vai superar? Enlouquecer? Gritar?
“Pedrinho, eu fiquei sabendo, liguei para desejar boa viagem, para dizer que é para o seu bem e pedir para que se comporte. Não brigue com ninguém, eles farão o que for preciso. Cuide-se, cure-se e volte que eu vou morrer de saudades suas, vou morrer de saudades suas.”
Você respondeu com carinho, com alegria, eu te ouvi sorrir, Pedrinho! Eu ouvi quando você sorriu e era um sorriso sincero, eu ouvi. DESCULPA não ter te dado um abraço, eu já fiquei sabendo à noite e não dava mais tempo, você estava com sua família e eu não podia incomodar. Mas acredite, foi a coisa mais certa que você fez na sua vida, foi a sua maior atitude de coragem, de decisão, de força. E acredite que você já é um guerreiro, por ter combatido todos os pudores e todos os medos e ter ido com a intenção de voltar em paz. Eu quero a sua felicidade, Pedrinho, por favor, faça por onde.
E tudo bem se você não lembrar direito de mim mesmo estando aí distante e mesmo que quando voltar você não me veja mais como tão amiga, o que eu mais queria eu já consegui, que foi fazer parte de você, da sua vida, da sua decisão e se você ficar bem, fica tudo bem, tudo blue.

Trote de um traficante.


Deveria ser... Sei lá, 21:30, 22:00. Era sexta-feira, disso eu tenho certeza. Sexta-feira, dia 4 de dezembro. Eu estava pronta para tomar um belo banho e cair no mundo, como em todas as sextas-feiras. O telefone sobre a pia, tira a roupa, pendura a roupa suja para jogar no cesto de roupa suja do banheiro social porque se deixar no da Miss Mag alguma coisa não vai dar certo no futuro. Aí o telefone tocou, o número não estava salvo na agenda e ligeiramente pensei que fosse engano.
- Alô? Quem é?
- É a Jucy... Espera, quem é?
- É o Ronaldo! O Ronaldo do Tabuleiro!
Foi a partir deste “Ronaldo do Tabuleiro” que começou toda a confusão. Eu de frente para o espelho, perguntava se por acaso eu conhecia algum Ronaldo, mas apesar da memória sempre fraca, era uma certeza, não conhecia. Sei que ao desenvolver da conversa, esse tal deste Ronaldo começou a alterar a voz e acelerar a respiração, e pronto! O estranhou surtou. Perdeu o domínio sobre si, era um desvairado sem saber o que dizia a alguém que não conhecia pelo telefone que nem sequer era dele. Isso mesmo, além de tudo estava gastando os créditos de outrem para fazer uma – suposta – brincadeira sem graça e sem sentido. Ele pediu aos berros para eu parar de destruir a família dele e parar de ir comprar drogas diretamente em sua casa. Vê se pode? Pediu para eu parar de bater na porta dele todos os dias para comprar minhas drogas porque ele estava ficando com uma imagem ruim. Imagem ruim, quem já viu um traficante ter imagem ruim? Mas quem já viu, meu Deus? No Brasil é tão natural. -Eis a ironia.
Pois bem, o Dodói do juízo ressaltou que se eu voltasse lá outra vez ele iria meter bala. Com essas palavras! M e t e r b a l a. Como faz? Minha sexta-feira mal havia começado e já estava terminando com uma ameaça de morte safada por uma pessoa maluca e que estava em uma provável abstinência profunda.
- Meu querido, eu não compro drogas. Tem certeza absoluta que você ligou para a pessoa certa?
- Absoluta! É a Jucy, a cabelo de fogo! Eu passo de moto e te vejo, ontem mesmo te vi conversando com uma pivetona na frente de casa.

Jucy? Cabelo de fogo? Pivetona? Será que esse cara me conhece de verdade? Mas eu nem compro drogas a ele. Mas eu nem compro drogas! Será que só me viu em algum lugar? Mas e meu número? Como ele conseguiu? Pivetona? Que linguajar é este?


- Eu vou mandar uma carta para a sua mãe e seu pai para eles saberem quem você é.
- Meu pai? Se encontrá-lo me dá um toque, faz um bom tempo que não o vejo. – Pensei.

E a conversa ia ficando cada vez mais tensa, eu falava cada vez menos, ele ficava nervoso cada vez mais. Não perguntava nada, só reclamava, ameaçava, falava bosta. A ligação começou a cortar e eu pensei que fosse uma investigação da polícia. Para que? Eu nem sou uma criminosa. Vai ver queriam pegar esse maluco. -Mas que pena, é um problema dele.
Em seguida eu desliguei o telefone, liguei para a Miss Mag e ela não me deixou sair nesta noite, também pudera, não dá para confiar em uma mente insana como a dele.
Com o tempo eu fui juntando os fatos, os pedaços pequenos e juntando e juntando e juntando e cheguei a alguém. Repare só, cheguei a alguém que tem o mesmo nome, a mesma moto, trafica a mesma porcaria e só me viu uma vez. Ele quase se fodeu, não era ele, foi um trote filho da puta e o envolveu de graça. Já pensou? A polícia batendo na porta dele por causa de um trote e o cara ser preso por um desentendimento e eu ser morta por saber que os capangas dele não iam deixar barato? Sabe qual foi a sorte? Minha identidade sumiu nesta noite. Como eu faria um Boletim de Ocorrência? Como provaria que eu era eu sem a porra de uma identidade? É, se salvou, Ronaldo.
No dia seguinte o Chico ligou para o número:
- Alô? Quem é?
- É Alexandre... Quem é?
- Rapaz, ontem ligaram deste número, um homem chamado Ronaldo. Você conhece?
- Brother, nunca ouvi falar. Deste meu telefone?
- Exatamente, este Ronaldo ligou ameaçando a Jucy.
- Brother, conheço não, véi.

Véi? Ele disse Véi? Que linguajar é este?
Tsc... tsc... tsc... Resumindo a história. Enchi o saco deste cara, acendi um cigarro e fui jogar dominó, afinal, quem não deve, não teme.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Só venha a nós e vosso reino... Nada."

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A novidade era o máximo, nã nã nã

E como todo poço tem seu fim (nossa!), todas as pessoas têm suas surpresas e momentos que lhe arrancam um sorriso sem o menor dos esforços.
Pessoas novas são sempre bem vindas, cuidar de pessoas novas é sempre uma boa opção, zelar por pessoas velhas e novas em nossas vidas deveria ser uma virtude para todos, mas já que não é assim, eu consegui aprender isso aos poucos. Você bem sabe, a cultura do meu povo já foi um pouco mais afetiva, mas nessa época eu era muito pequena, mal conseguia alcançar a pia da cozinha.
Depois de ver que algumas pessoas simplesmente esquecem, eu pude ver que do outro lado existem pessoas que simplesmente se lembram, simplesmente assim.





(Lago, obrigada. Hihhihihi, eu gostei tanto de você :P )

O valor que as pessoas dão, quase sempre me cabe no bolso.


- Pega o telefona, diz que me ama, diz que me adora, não me engana, vocÊ é tudo o que eu mais quero na vida... (8)

Todos os dias – sem exceção – ela vai àquela rua sem saída e encontra as mesmas pessoas, faz as mesmas coisas e isso nunca foi um problema, ela nunca reclamou. A rotina em sociedade onde a sociedade inteira se encontra satisfeita. Pouco possível, mas é verdade.
A priori, se ela chegava trinta, quarenta minutos após o horário que ela costumava chegar, era previsível o telefone tocar e do outro lado da linha alguém perguntar “Não vem hoje não, é moamor?”. Nessa época ela nem levava o dominó, não era por interesse não, era por afeto, por saudade que ligavam, por querer ver. E era assim uns com os outros.
E essa mesma menina passa a semana inteira estudando dois horários e à noite vai a tal rua, ela passa a semana inteira na expectativa de ter um fim de semana maravilhosa, sair na sexta e chegar no sábado, sair no sábado e chegar no domingo e sair no domingo e voltar na segunda, para recomeçar a batalha.
Essa noite, ela perguntou “Chico, você quer dormir?” ele insistiu que não, ela insistiu para tirar a dúvida e ele insistiu que não ia dormir, foi o tempo de um banho que o Chico caiu no sono. Às 22:00 hrs estava todo mundo brincando de lama, cada um na sua cama, e ela aos prantos querendo pular da janela. No final das contas ela chorou tanto que adormeceu, a menina chorou.
Em nenhum instante, n e n h u m instante alguém que ela pensou que talvez ligasse, ligou. O menos provável o fez, chamou para sair, lhe deu boa noite e um “Até amanhã”. Logo o Alex, o mais psicado, o mais esquecido, o mais problemático, somente o Alex ligou.
Algumas pessoas têm a mania de achar que as demais pessoas são apenas servidoras de sorrisos e bem estar, é ruim de acreditar, mas algumas pessoas precisam chorar também. Precisam e fica muito mais fácil quando essas pessoas vêem que estão sozinhas naquela situação, quando essas pessoas descobrem que gostariam muito de abraçar alguém, mas na verdade todos os alguéns possíveis e que realmente lhe interessam estão ocupados demais bolando um baseado, jogando dominó ou fazendo qualquer outra coisa que ocupe suas mãos e empeçam de efetuar um telefonema para oferecer um ombro amigo.
Essa peste dessa menina só queria sumir, somente isso. Queria abrir a porta sem fazer barulho, descer as escadas e nunca mais voltar, somente isso. Não seria nada tão escandaloso, demorariam três dias para sentir falta. Nem o Chico sentiria falta, ele é tão desligado, lhe dá tão pouca atenção que talvez três dias fosse até pouco demais.
É verdade, é verdade, eu concordo, ela nunca foi muito boa em relacionamentos, o fato é que ela realmente acreditava que ao menos desta vez seria diferente. Menina bobinha, colocando a mão no fogo e uma vã ilusão.
Pior que ela gosta do desgraçado, gosta mesmo, mas é que você sabe, conhecendo-a como conheço, acumulando as coisas como só ela acumula, mais uma sexta-feira em casa, mais uma ou duas pisadas no pé dela e ela nem vai esperar a madrugada para sair porta a fora e se voltar, SE voltar, só voltar depois que o sol se pôr pela décima sétima vez.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Que mulher nunca teve...


Um sutiã meio furado,
Um primo meio tarado,
Ou um amigo meio viado?

Que mulher nunca tomou
Um fora de querer sumir,
Um porre de cair
Ou um lexotan para dormir?

Que mulher nunca sonhou
Com a sogra morta, estendida,
Em ser muito feliz na vida
Ou com uma lipo na barriga?

Que mulher nunca pensou
Em dar fim numa panela,
Jogar os filhos pela janela
Ou que a culpa era toda dela?

Que mulher nunca penou
Para ter a perna depilada,
Para aturar uma empregada
Ou para trabalhar menstruada?

Que mulher nunca comeu
Uma caixa de Bis, por ansiedade,
Uma alface, no almoço, por vaidade
Ou, um canalha por saudade?

Que mulher nunca apertou
O pé no sapato para caber,
A barriga para emagrecer
Ou um ursinho para não enlouquecer?

Que mulher nunca jurou
Que não estava ao telefone,
Que não pensa em silicone
Que "dele" não lembra nem o nome?"

(Autor desconhecido)



- Eu não sou a única. Beijosmeliga. Hahaha

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Risco de fogo.


E eu gostava tanto de você. E de tanto gostar, a intimidade ficou demais. Eu queria gritar de volta quando você gritava comigo, mas eu não conseguia fazer nada além de olhar para os seus olhos que me odiavam tanto. Eu fazia silêncio. Você falava mais um milhão de coisas até que uma delas me atingisse, mal sabia que as milhões me apunhalavam em qualquer ângulo que eu me inclinasse, qualquer ângulo que eu me esquivasse. Então eu fazia silêncio novamente, procurava ternura em você por inteiro e não encontrava nada. Eu tentava ir embora e você tentava me comprar com suas desculpas. Desculpa a gente pede quando pisa no pé de alguém. – Eu dizia.
Você tentava segurar a minha mão, mas a minha já não queria mais tocar a sua, como se você fosse uma tocha de fogo gigante e tivesse a intenção de queimar o meu cabelo. Eu só queria ir embora, ir embora sabe-se lá para onde, sabe-se lá com quem, só não queria o seu calor derretendo o meu juízo.
Então você insistia e eu cedia, cedia porque as pernas já estavam fracas de tanto correr. Isso aconteceu uma vez, duas, vinte, milhares, e você acreditando que nada disso nunca ia cansar.
Lembra quando eu te liguei esta última noite e você me foi frio?
Eu fingi que não tinha nada para dizer, mas eu tinha. Eu ganhei um vestido novo, preto, mas eu preciso levar para a costureira diminuir um pouco pois eu prefiro mais curto. Era isso, eu sei que parece bobagem, mas eu fiquei feliz com o vestido novo.
E o casal de senhores que mora vizinho de La Bobonera, quebrou garrafas de vidros nos bancos para que nós habitantes não pudéssemos sentar. O Gauchinho cortou o pé e ficou bem machucado, eu fiz curativo. Todas as garrafas escondidas para quebrar nas cabeças dos caras que querem destruir a nossa área, estão estraçalhadas ao redor dos bancos, camufladas com o capim seco que a chuva não molha faz uns dias. Eu queria te contar também que eu estou pensando em colocar pregos e furar os pneus do carro de um deles, mas eu sei que você não vai deixar, mas eu também não me importo.
Eu gostava tanto de você, você lembra? Eu chegava mais cedo só para te ver e queria que você não saísse mais do meu lado. Você sempre saía e eu não levantava por dois minutos, pensando na possibilidade de você voltar. Você nunca voltava e um minuto depois eu já tinha esquecido de esperar. Eu queria que você fosse mais responsável, mais fiel ao que você diz. Dissesse que ia e fosse, de fato. Dissesse que vinha e viesse, sem pensar. Não deixasse nada para depois e nem esperasse o amanhã para tomar uma decisão boba. Você ainda tem tanto para aprender. Tem tanta barba para acertar, tantos quilos para engordar e tem tanto que provar meu açaí na tigela e dizer que é melhor que o que vende ali na orla. Tem tanto o que aprender, tanto o que parar de gritar e de falar sem rodeios, sem pensar, sem nem saber se é aquilo mesmo o que quer falar. Já viveu tanto nessa vida e as coisas que deve levar por todo o resto dela, você esquece. Por que você é tão desligado e esquece de colocar os pés no chão? Eu não quero política de boa vizinhança quando você quer tanto me jogar pela janela, eu só quero que você seja bem sincero. Eu só quero que você não queria ficar longe, meça as suas palavras, respeite as decisões e viva. Viva como se fosse o último dia, esqueça os meus receios. Bem sincero, bem sincero para que eu pare de gostar de você e aceite o tal do amar você.
Tudo bem, a amizade é a mesma.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

No mais, isso passa.

Restante do que eu tinha para dizer.


Segurar a sua mão e não largar, não largar.
Acariciar os seus cabelos, ser fiel aos seus apelos e não mais te deixar. Largar-me, me largar. Em poucos meses foram muitas histórias, a maioria sem um ponto final e o final alegre está em você. Sem tanto romance, sem tanta conversa, com muita cautela, eu ainda não posso dizer que te amo. Não posso, não devo, não quero, não sei.

Lembra de quando nós dois estávamos no mesmo ambiente, com as mesmas pessoas, tendo a mesma conversa? Sem trocar uma palavra, só uns olhares safados e repentinos? Você sempre soube que era aquele outro lá quem eu amava, eu sei que para você eu nunca conseguia esconder, mas era você quem eu queria. Aquele ali estava em mim por inteira, até nas pontas dos dedos, mas era você quem eu queria. Era o seu carinho, a sua doçura, o seu olhar antes de dormir. Era você quem eu queria ter, e não quem eu precisava ter. E como eu fiz em toda a minha vida, me acostumei com meus desejos e as necessidades eu deixei para quando fosse bem possível e maleável, fiz de tudo para te ter. E agora eu não só te tenho, eu te preciso. E dessa necessidade eu não quero me livrar.

É esse seu silêncio que me agride, essa sua vontade incontrolável de falar e que nunca fala. É o seu sorriso que me comove, sua dor que me machuca, seu abraço que me aquece e o que mais eu posso fazer além de mudar meu caminho e ir por um caminho melhor junto contigo?
Fingir que o passado não tem mais importância e parar de dar valor a quem não me retribui. O meu passado está guardado, guardado em um lugar distante, mas que eu sei muito bem onde está. Eu sei que mais cedo ou mais tarde a vida vai fazer a gracinha de desenterra-lo e esfrega-lo na minha cara, mas enquanto esse dia não chega, eu quero estar com você. E quero estar com você também no dia em que a vida pegar o seu passado e pendurar na sua orelha, eu quero estar por perto para te ver decidir. A vida é estranha, meu amor, é complicada, é difícil. Quem foi que lhe disse que a vida é uma gracinha? Não é não. Aqui para sobreviver tem que ter sangue no olho e escolher se prefere um estômago vazio para não correr o risco de vomitar ou se prefere enche-lo para não correr o risco de desmaiar no meio da jornada.

Menino, menino, quem tem medo de queimadura não brinca com fogo não, tem que ficar atento, tem que fazer e muito mais que isso, tem que saber o que faz. Tem que ir em frente mesmo sem ter como ir em frente, tem que subir montanhas sem ter medo de cair porque quando a gente tem medo e deixa esse medo suprir nossas vontades, a gente não sai do lugar não. A gente não sai do lugar nunca. A gente tem que saber que a vida não está sempre pronta para a gente viver não, a gente tem que arruma-la, a gente tem que colocar cada coisa em seu lugar senão uma hora vai perder o equilíbrio e nem mel e nem cabaço. Já ouviu esse ditado, Chico? Ouviu? Minha avó dizia isso, era sempre quando eu arriscava acima das minhas condições, tendo a certeza de que ia perder tudo, mas eu queria. E foi esse meu tanto querer que me fez quebrar a cara, cair no chão, sangrar por dentro até entender que tem que ser assim mesmo porque quando os avós da gente falam, eles têm razão, mas quando a gente não desiste, quando a gente faz uma coisa com esperança, confiança, a razão da gente é maior que a de qualquer avô.

Ow, Chico, pare com isso, menino. Eu já te falei que eu posso muito bem me virar, que os fulanos e beltranos não ameaçaram e nem ameaçarão os nossos versos e somente nós dois podemos construir uma história, somente nós.
Você lembra que eu sempre achei seu sorriso lindo demais? Não lembra, Chico? Acho que eu nunca te falei, mas eu sempre achei o seu sorriso lindo demais e sempre quis saber como ele seria por trás de uma caneca de café às 6 da manhã. Hoje eu descobri, é mais lindo ainda e com cheiro de café. E o cigarro após o almoço nem parece que me faz tanto mal, é uma vã ilusão, mas ele me distrai. Ele vai desenhando o seu rosto com a fumaça que vai se destacando na parede branca aqui da sala de estar. Não fica tão perfeito, mas a fumaça faz o seu esforço.

Eu não queria que você fosse, menino, não queria que você fosse porque o que eu tanto temia era que você tivesse um surto e não voltasse nunca mais. E aí, Chico? O que era que eu ia fazer? Já te falei que desses olhos misericordiosos não escorrerá mais nenhuma lágrima, eu não falei? Você não iria me testar, iria? Faz isso não, você cantou para mim naquele dia, lembra? “Não vá embora, não me deixe nunca mais. Lalala” Vai mudar o tom da canção? Depois de eu ter criado toda uma melodia em cima da letra e uma coreografia para te ver dançar no ritmo concreto da música? Faz isso depois do Natal, é a época mais bonita do ano e eu não queria ir olhar as luzes das casas dos outros com um olhar de tristeza. Eu posso mazelar depois, lá para o mês de março que é quando já passou a época das luzinhas e dos pierrots e colombinas saltitando pela rua.


É, Chico, eu quero beber champanhe na taça e brindar com você. Correr malassombrada – com o juízo derretendo - pela rua e te encontrar no final dela, eu quero me apaixonar por você todos os dias e cada dia um pouco mais, quero me encontrar com você quando eu me perder para tentar me encontrar. Tenta não ir embora, mas se por acaso for, fecha a porta e não deixa mais ninguém entrar.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Alma má.

A rosa é linda, mas você esqueceu que ela tem espinhos. Eu posso ver o sangue escorrendo por entre seus dedos e a dor estampada no seu olhar e no sorriso sem graça. A rosa tem espinhos, mas sente o perfume dela. Você não encontra perfume igual em nenhuma das outras rosas, cada uma tem o seu, como as impressões digitais dos dedos dos humanos, dos lábios que beijam outros lábios, e que talvez por isso quase nunca se encaixem, é preciso muito amor.
No momento exato da dor mais escandalosa possível, a alma se decomporá e nada irá aliviar os calafrios. A dormência seria o mais essencial, mas falhou dessa vez. Reza-se pelo encontro das almas amadas e amantes que se perderam no mundo e passaram a vida inteira encontrando um motivo plausível para pararem de procurar umas as outras, elas não sossegam, elas não conseguem. Estão sempre aflitas em busca do que nunca viu, da que nunca viu, mas que bem sabem que é a metade que lhe completa. Então junta tudo em uma só estrofe: As almas, a dor e a dormência que nem existe mais.
Os dias vão passando como quando mudam as estações, todos fingem que vêem, mas na verdade estão todos tão desinteressados com o mundo que nem percebem quando o dia vira noite e quando a tal alma tão procurada passa pelo outro lado da rua olhando para cima esperando uma luz esperançosa e suficiente para fazer desistir agora. É preciso arregalar os olhos para não perder nenhum movimento.
A falta de atenção, a complexidade dos fatos tão lícitos e limpos diante do mar, e mais ainda quando joga tudo para o alto e faz do dia um dia sujo cheio de cheiros ilícitos e nada que os faça parar. Não param. É como se o mundo fosse seu, como se você estivesse manipulando cada um com cordinhas. Nem o vento consegue derrubar a cinza do cigarro, nem a maresia consegue tirar o balançar dos cabelos, nem a noite consegue tirar a vista do mar. A natureza é linda, mas até então não tem conseguido ser mais forte que a poesia que está dentro daquelas pessoas.
É como se o mundo fosse de fato seu e você tivesse medo de tê-lo. É como se o mundo estivesse pesando em suas costas e você não conseguisse mais andar, como se estivesse em suas mãos e você não conseguisse carregar. O peso do mundo muito além de uma folha de jornal, muito além das metas que cada um traçou, muito além das idéias que não foram expostas ainda e pelo tempo não serão mais e se forem, não farão mais sentido algum.
No momento exato da displicência com o coração, no momento na qual mais faltou com cuidado com as forças, com o resto das forças que foi guardando para quando não mais tivesse o que fazer, a casa caiu. Caiu porque uma das almas resolveu ir embora de vez e deixou uma carta que dizia coisas que doíam no coração, doíam na alma. Sabe-se lá qual era o destinatário que estava escrito, mas carta e receptor se encontraram e a alma foi se desmantelando como criança se desmantela em prantos quando sente fome, a alma foi se espalhando pelo chão.
Foi espalhando e foi se transformando em lágrimas e essas lágrimas foram regando as raízes daquele roseiral, aquele tão quieto e sorridente fincado no meio do nada. Aquele que você foi lá arrancar um pedaço dele, arrancar a rosa mais alta, mais vermelha, mais bonita, mais cheia de espinhos. Depois de ter para si a rosa mais linda, reclama do sangue sujo que escorre e mistura nas lágrimas que ainda nem secaram de vez. Você não tem jeito mesmo, vai fazer das próximas rosas, rosas bonitas, vermelhas, brilhantes, perfumadas, espinhadas e sujas. Sujas como o seu sangue sujo.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

M A T A N Z A !



EU VOU VER MATANZA DE NOVO! HAHAHAHAHA!

Sério, por favor, que NADA estrague esta noite!

É HOJE!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A vida está corrida e eu tenho que transformar dois minutos em meia hora, a princípio.
Melhor seria se esse tempo todo ocupasse outros sufocos e os resolvesse, ocupasse outros minutos, outras meias horas que eu esperei por tanta coisa, tanta gente e até hoje espero sem perceber.
Tanta gente, nem foram tantas assim, mas com todo esse peso parece que foi o mundo inteiro. As meias horas de relógio que atrasaram a minha vida, tiraram meu sono para me fazer criar coragem. Depois das noites mal dormidas não tinha medo que e é lá que eu quero chegar, e eu vou.
A vida está confusa e nessa idade é perigoso ficar parado. Tem que fazer corre, tudo nas carreiras e quando o nariz começar a sangrar é porque a hora de parar com isso já passou faz dois minutos. Então senta, olha o mundo pulando ao seu redor e a sua vida se resumindo a pó. Tem quem cheire, tem quem cheire essa droga.
Minha alma intacta de volta, por favor. De tão limpa e pura para esse vestígio de adubo. Perdoem, perdoem. Hoje eu estou meio assim mesmo, arrogante, máscula, sem saber direito como falar.

domingo, 19 de julho de 2009

Poema: Te olho nos olhos - Ana Carolina.

"Te olho nos olhos e você reclama que te olho muito profundamente.
Desculpa, tudo que vivi foi profundamente.
Eu te ensinei quem sou e você foi me tirando os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.
Eu que sempre fui livre, não importava o que os outros dissessem.
Até onde posso ir para te resgatar?
Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade de me inventar de novo.
Desculpa... Se te olho profundamente, rente à pele.
A ponto de ver seus ancestrais nos seus traços.
A ponto de ver a estrada muito antes dos seus passos.
Eu não vou separar as minhas vitórias dos meus fracassos!
Eu não vou renunciar a mim nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser
Vibrante, errante, sujo, livre, quente.
Eu quero estar viva e permanecer
Te olhando profundamente."


quarta-feira, 24 de junho de 2009

De boa.


"De boa na lagoa, de boresta na floresta, de leve na neve." Eis o poema que o garoto nos ensinou. Ele é amigo meu, amigo nosso. Hahaha. [Perdoe, só queria lembrar. ]
Sem goles na cerveja, cem goles na cerveja e cheio de tragos no cigarro. Passei um bom tempo parada me perguntando o que era que eu estava fazendo ali. De um lado estava o dito cujo tentando chamar a minha atenção falando nada com nada, mal sabe ele que eu estava em um mundo tão distante que até tropeçava nos anéis. Bobinho, bobinho, como me encanta.
Do outro lado era o barulho, aquela multidão. Alguém havia aberto as porteiras do inferno e aqueles cães todos haviam fugido. A cada passo você encontrava quatro P.M.’s, quatro marginais e uma mulher feia, a cada passo.
E enquanto isso tudo acontecia, ele continuava lá falando umas bobagens e eu suponho que se eu lhe incomodava era por não me incomodar, mas honestamente, não estava nem to you. Estava em uma vibe tão estranha que eu nem reparava o quanto estava ausente sentada dentre toda aquela gente ao redor da mesa. E tudo de repente ficou em paz. Ele é tão lindo, tão lindo. O idiota só bastava me sorrir que meus olhos se enchiam de brilho, bobinha, bobinha.
Então depois eu fui para casa, madrugada, meu bem. Para no dia seguinte acordar às 06:30 e ir trabalhar, em pleno feriado que está no meio das férias, isso mesmo, trabalhar.
Na loja, o rapaz da outra escrivaninha não é muito de meu agrado, ele é simpático, mas é simpático demais. É educado, mas é educado demais. Um tanto esnobe, na minha opinião. Tem um jeito de falar que me incomoda e bem, eu sinto uma energia ruim quando estou com ele. Não que ele seja uma pessoa má, ele só não me faz bem, enfim. Mas eu juro que eu queria saber o que era aquilo que ele estava tomando hoje pela manhã, estava em um copinho, deveria ser uma bobagem, mas eu juro que queria saber. Hahaha.
Calibrada, calibrada.
Queria muito ter acordado hoje pela manhã calibrada, com energia esborrando pelos poros ou ao menos com o mínimo de força para abrir os olhos enquanto esperava o ônibus chegar. Um cansaço, um cansaço, um sono, uma preguiça, uma saudade, uma saudade, má saudade, uma saudade tão grande que parecia que ia doer na alma. Já dói.
Até meus dentes doem por não ter mais onde doer, meu bem, até os fios do cabelo, as pontas das unhas, a pulseira do relógio, tudo me dói, não me toquem.
Não me toquem porque hoje eu sou uma brasa, uma tocha acesa, sou uma fogueira para entrar no ritmo de São João, sou fogo, sou brisa, fogos de artifício, cuidado! Se não tiver cuidado, eu posso te machucar. Eu sou frio, sou o frio, sou calafrio, sou brasa, sou brasa, sou chuva, sou fogo, sou fogo, sou nada, sou nada.
E hoje eu acordei de manhã com uma vontade intensa de te ver. Se quiser me abraçar, eu não vou te machucar.

domingo, 14 de junho de 2009

Wagnho!


Minha vida, parabéns. Não só por hoje ser seu aniversário, mas por você ser quem é.
E para sempre levarei comigo o seu cheiro, seu jeito de menino, seu sorriso, suas reclamações, seus surtos psicóticos, seu abraço, seu jeito de andar, de falar, de respirar, seu olhar e tudo o que lhe envolver estará comigo. E você por inteiro estará comigo, sempre, por toda a vida, sempre dentro do meu coração.
Eu quero que você seja feliz, quero que você consiga realizar seus sonhos, quero que você seja saudável, construa uma família e sejam felizes.
Eu te amo, meu amor. Eu te amo de um jeito que nem cabe em mim e acredite, ter você em minha vida é um dos presentes que mais agradeço aos céus. Eu não sei não porque você demorou tanto para aparecer.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Um esparro estranho e invisível.




Aí agora ela é estranha. Passa desapercebida, invisível. Um espaço gigante ao lado dela e o lugar mais apertadinho parece mais confortável. E se antes lhe sorria, nem isso. Vale nada, nem um “boa noite”, um cumprimento, uma palavra qualquer. Vai embora sem nem olhar para trás, “que se foda” deve pensar. Ela já apanhou muito na porra da vida, já caiu feio com a cara no chão e levantou. Reagiu como quem tinha tropeçado, como quem tinha machucado a perna em um espinho daquelas plantinhas safadas que ficam nos cantos dos bancos esperando o primeiro otário para se machucar. A menina ficou invisível de um jeito que nem eu mais vejo. Se há motivos? Motivos? Dê-me um, meu jovem. Um só para que eu possa chegar aqui com palavras mais límpidas e explicar o que está acontecendo, nem isso, nem isso!
Aí ela começou a espirrar, os olhinhos chega estavam pequenininhos graças a fumaça que o tempo inteiro ia beijar seu rosto e sem nem pestanejar ficou agachadinha procurando um tal de um pino que o mocinho simpático tinha deixado cair no chão. Era em vão, de um outro ângulo. Afinal, o pino era pequeno, afunilado, marrom e perdido em um chão cheio de galhinhos pequenos e marrons, areia que por sinal era marrom, um chão escuro e para completar, sob nem mesmo a luz da lua. Tinha gente impedindo a visão. E ela lá, procurando sem nem saber o quê. “Como é o negocinho que caiu no chão?” Dois minutos de silêncio, chega o outro e “Como é o negocinho que caiu no chão?” e consecutivamente a resposta que ela esperava e que vale constar que não foi dada. Ótimo, ele além de cego, é surdo. “Você não me ouviu perguntar? Custava responder?” e é claro que a resposta não foi a mais bonita “Você nunca vai achar.” O NUNCA foi o que entupiu a garganta já travada da alergia. NUNCA? Ah, vai tomar no cu. Com toda a quase nada de sutileza que pode haver nessa expressão. Vai tomar no cu!
Mas ela foi calma, repare só, foi calma! Agradeceu e continuou a procurar, não encontrou. Mas se ela tivesse uma lanterninha ela encontraria, tenho certeza. E alguém se importaria? Não, ninguém. Pois bem. - Levanta daí, menina. Deixa essa porcaria para lá.
Ele nem para perceber que ela mudou de perfume e que o atual parece ser bem melhor que o antigo, nem isso. Nem o cheiro dela ele sente mais, e ela odeia.
Invisível. Porra, invisível?
Vamos, imagine. Você ama um alguém, ama de um jeito tão forte que parece que nem vai lhe caber, ama. Não sabe de onde vem esse amor e não quer nem saber, apenas ama. O outro lhe é amoroso, não lhe dá as esperanças devidas, mas meu deus, ele te vê. Ele te toca, te abraça, ele fala com você ou no mínimo dos mínimos responde quando você fala com ele e de repente... Nada. Bosta nenhuma, de repente é como se você fosse uma pessoa desconhecida, d e s c o n h e c i d a. Você merece uma explicação, não merece? Claro que merece. Uma breve explicação, um motivo, uma causa, uma circunstância, você merece uma meia frase que possa te deixar claro o que você quer realmente saber. Nada. N a d a . Porra nenhum, caralho nenhum. Entendeu? Nada.
Aí dizem que a pobre da menina é grossa, fala palavrão, mas porra, quem nesse mundo ia achar bonito? É, fala mesmo, mas não perde as estribeiras. Não grita, não chora, não reclama e finge que está aceitando isso numa boa. Numa boa uma porra, ela quer mesmo é que o mar todinho exploda para comer peixe assado, quer uma façanha, um desejo concebido mesmo que depois da tragédia. Além do mais, como dizem por aí, meninas doces só servem para juntar formigas.
Sim, mas aí ela fingiu que nem viu, nem sei como, mas fingiu. Ele ia embora e ela sempre ia embora com ele, alguns moravam tão perto quanto, mas só ele lhe era tão agradável, só com ele ela se sentia tão segura. Quem já se viu? Segura ao lado de alguém que não quer nem ouvir falar seu nome, nem tocar seu ombro, nem abraçar seu abraço que foi sempre o mais sincero. Ela que nunca se humilhou, mas nunca negou amor. Ela, a otária, que sempre velou seu sono, sempre enriqueceu o espírito com alegria com um sorrisinho bobo dele. Ou a amante, não tão otária, apenas amante.
Enquanto ele abraça com tanto calor aqueles ou aquelas que vivem lhe difamando, falando mal, reclamando disso, chiando quando falam sobre ele e essas coisinhas de adolescente. A vida é mesmo uma comédia. UMA COMÉDIA. Primeiro que ela não entende como podem falar tão mal de alguém e no fim das contas dizer que ama. Não é criticar. Criticar, todo mundo critica. É falar mal, dizer que ele é aquilo, aquilo e ainda aquilo outro lá. Aquilo outro lá é o pior, mas sempre falam, ela sempre escuta, sempre defende, sempre reclama por falarem mal e aí se torna o alvo. Não que ele precise de uma advogada de defesa o tempo em que não está, mas é o mínimo que ela pode fazer.
É, a menina invisível ama visivelmente e é deixada de escanteio. Ela só queria que ele a amasse também, ou que ao menos se permitisse poder sem querer querendo amá-la. Mas ele é um estúpido e se essa estupidez valesse um real, ele teria um real. Já seria contribuição para o cigarro. E se a arrogância do rapaz valesse para a garota um mísero real, ela também teria um real, e já seria contribuição para a água que todos querem depois que o dinheiro todo e de todos tem acabado.
Contudo, ela só queria saber por que. Não só isso, mas ao menos isso.
É difícil para ela talvez por nunca ter aberto mão de nada e tampouco de ninguém, por sempre acreditar em algo que quis muito e não querer saber se muito depois ia quebrar a cara, só queria saber de viver aquele momento.
Chegou em casa fodida, claro. Sorrindo sempre, mas na verdade não queria estar com ninguém, queria estar sozinha no canto do quarto e viajando nas idéias idiotas que ela tem quando não tem ninguém por perto. Ou o inverso, queria estar com quem mais ama para poder abraçar, inclusive com ele.
Oito ou oitenta, às vezes nada. E bem, não quero mais falar sobre ela.

terça-feira, 9 de junho de 2009

A música que quis falar por mim esta noite



"As vezes no silêncio da noite eu fico imaginando nós dois

Eu fico ali sonhando acordado, juntando o antes, o agora e o depois

Por que você me deixa tão solto?

Por que você não cola em mim?

Estou me sentindo muito sozinho

Não sou e nem quero ser o seu dono, é que um carinho às vezes cai bem

Eu tenho meus desejos e planos secretos, só abro pra você e mais ninguém

Por que você me esquece e some?

E se eu me interessar por alguém?

E se ela de repente me ganha?

Quando a gente gosta é claro que a gente cuida

Fala que me ama só que é da boca pra fora

Ou você me engana ou não está madura

Onde está você agora? "

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Cabum, maestro!


Então fui te percebendo cada vez menor, você estava se distanciando aos poucos e eu queria mesmo te envolver com uma corda e te prender a mim, mas você não queria, não deixava, então joguei a corda no chão e te olhei ir embora. A vontade maior era de envolvê-la em meu pescoço e enlaçar a outra ponta no seu tornozelo, para nunca mais nada me doer como eu senti quando vi que nós nunca mais seríamos para sempre.
Contudo, você foi. Mesmo ainda estando ao meu lado. E quando começava a falar, a voz era cada vez mais baixa e o eco era cada vez mais límpido, parecia que o mundo estava vazio e só restávamos nós dois. E eu com aquela vontade sádica de arrancar o sentimento do peito e jogá-lo no mundo com a esperança de que ainda houvesse vida, vã ilusão. Só fez o favor de me sufocar lentamente, uma lentidão de gelar a espinha. E de repente ia embora de novo, quando falava algo que eu definitivamente não gostaria nem um pouco de ouvir, e desta vez nem para olhar para trás, para acenar com a mão ou para deixar na memória um olhar misericordioso que me fizesse acreditar que você estava indo pela razão e não pela emoção, para me fazer acreditar que a vontade que gritava no seu peito era a de ficar ali comigo, por todo o sempre.

E algo explodia, aí eu caía na realidade. E você dizia “olhe para mim quando eu estiver falando, porra” e eu olhava, e via nos teus olhos um vazio sem tamanho, e eu continuava te olhando, e te ouvia bem baixo, bem longe, bem onde o vento faz a curva e volta depressa para tirar as folhas secas do lugar.
Eu queria mesmo era encontrar algum jardim, ou alguma rosa, ou alguma lua ou qualquer outra coisa ali dentro, naquela imensidão de nada e nunca via nada, nunca encontrava nada. O paraíso estava escondido nos teus olhos e você nem para me explicar as artimanhas para encontrá-lo sem tanto nervoso de não encontrar em nenhum outro lugar.
E algo explodia de novo, mas desta vez era a sua garganta dando sinal de vitória. Como você gosta de gritar, meu amor. Eu já estava te ouvindo, “nenhuma moto tem cano de escape do lado esquerdo, a não ser que tenha dois, aí sim ficará um do lado direito e o outro do lado esquerdo”, eu sempre te escuto, é que às vezes eu gosto mais de te olhar.

E vou olhando e olhando e me perco nas curvas do teu machucado, os arranhões, as cascas, o sangue que teima em querer fugir, mas a derme não está mais sozinha e a epiderme vai criando forma, e o sangue fica lá preso, mostrando a cor para chamar a minha atenção. E vou seguindo as listrinhas, até onde elas chegariam, até onde elas chegaram, porque elas conseguem ficar com você o tempo inteiro e eu não. Embora elas uma hora ou outra vão ter que ir embora para sempre e se fosse eu não ia querer nunca mais cicatrizar.


E outro estouro, dessa vez foi você ensinando qualquer coisa, e eu tiro o foco do sangue e coloco o foco em você e no sonho, o de sermos um só. E sua voz começava a se distanciar e eu começava a pensar em milhões de coisas. Nos risos intermináveis que você me trazia, no cheiro bom do seu pescoço, no sorriso que iluminou toda a minha trajetória já traçada e mais ainda a que eu pretendia/pretendo traçar, nas mentiras, nas verdades, nas mordidas que muito doíam, mas que nem se comparavam às dores da alma. Nos cuidados, na vontade de dizer para você que você é a pessoa que eu mais amo neste mundo e que se todos os homens se pusessem sob meus pés, nenhum seria homem o suficiente para me fazer completamente feliz, exceto se este homem fosse você. Mas não, melhor manter meu silêncio e observar o seu movimento das mãos.

E lá gritava outro estouro no meu ouvido, era você me ensinando a cantar aquela música do Sabotage, “menina Leblon, vermelho batom, foi vista com o Joe malhando na praça. Sabot Canão convoca no som a paz dos irmãos em toda a quebrada. Sabotage nan nan nan” e eu até aprendi uns versos, até aprendi a fingir que enjoei de te ouvir cantar isso. Então eu me perco novamente, mas desta vez é a sua voz, ela vai fazendo uma melodia tão bonita, ela vai ligando um desejo a outro e vai virando uma corrente bem longa, que mais parece que nem tem mais fim. Vai, maestro, decifra o som da minha lágrima que escorre e cai no chão, decifra o som do meu suspiro, do meu sussurro, do meu silêncio. Faz uma música, maestro, faz uma música. Segura o riso, segura o fado, eu construo teu mérito em meu sorriso, amor, eu faço explícito o teu mérito em meu sorriso.

Cabum! Foi você de novo, acertando a carteira de cigarro na minha testa. Nem doeu, mas é claro que eu fiz drama para exigir carinho. E você ficou do tamanho normal, nada de menino distante, nada de menino pequeno. E por estar tão perto, não deixa esse meu riso cair. Nenhum chão suportaria o peso, é ternura demais para segurar em uma queda só, então também não deixa ir caindo aos poucos, não deixa, maestro, não deixa.
E você inventa de sorrir de volta, e eu vou seguindo o delírio da graça, que vai subindo e subindo e até parece que consegue tocar o céu, perde-se entre as estrelas, entre uma nuvem e outra, entre uns sonhos que voa e outro e depois encontra de novo os teus lábios, e me rouba para si.
Nem deu tempo de enterrar minhas dores, nenhum buraco é tão fundo para que caibam todas elas, mas há cura mais rápida que o sorriso que brota dos teus lábios seja lá por qual motivo?

Boom! Porra, de novo. Não precisa gritar, mas dessa vez eu entendo, foi gol do Corinthians.

Muito embora futebol no século XXI seja sinônimo de dinheiro, ninguém mais joga pela camisa, mas quem disse que eu me importo? Prefiro vibrar o seu entusiasmo, a sua euforia que treme bancos e quarteirões, como gosta de gritar o meu menino.

E bem, o jogo acabou e você já deixou para lá. Então continuamos sós no mundo, eu desejando ter você mais perto, te amando como nos contos de fadas e você sem ter a mínima idéia. Mas aí já é noite, a gente vai dormir. Eu aprendi a chorar em silêncio e você aprendeu a fingir que não vê. E durante a noite não tem Cabum nenhum, mas vez ou outra eu desperto por alguns minutos para te olhar dormir e dizer que te amo, é quando eu falo sem ter medo, amo sem ter dor. Você comigo e qualquer lugar é lugar.

domingo, 31 de maio de 2009



- PRRRRRRR!!!

- Mermão, você peidou.

- Não fui eu não, foi aquele filhodaputa ali, ó!

- Não, foi você que eu vi!

- Você viu meu cu fazendo bico, foi?

HAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHA. - Todos.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Disseram assim:

"Homem, nem precisa vigiar.
Você está em tudo, nas músicas que ouço, no sol que todos os dias insiste em me tirar da cama.
No vento que toca meu rosto e desalinha meu cabelo, no espelho quando me deparo comigo e lembro você com aquele olhar cativante e cheio de malícia.
E minha vida hoje tem outro sentido, o que você conseguiu dar a ela.

O que sinto é verdadeiro, intenso e delicioso que vale por uma vida inteira.
Quer você esteja ou não ao meu lado.
Eis o verdadeiro sentimento... Incondicional, repleto de vida e pleno de felicidade... Onde poder compartilhar é maravilhoso.
Loucura?
Não, porque te conheço nu de tuas máscaras, dos teus papéis ou do que representa ser.
Conheço tuas qualidades tanto quanto os teus defeitos.
Essa tua personalidade nervosa e irritada.
Sei que és tempestade ou uma doce brisa de verão
, depende do que eu despertar em você.

Guarde bem essas palavras... Não é sempre que admito minhas fraquezas..."

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Azul.

Sentar no chão de terra ou deitar e rolar na grama, sentir o sereno beijar a pele, abraçar com fervor o vento fresco, o canto dos pássaros, fazer uma fogueira e cantar. Tomar banho de rio, contar histórias de terror, dançar qualquer música, apenas dançar.
Subir no pé de caju e pegar os maiores e mais amarelos, depois colocar para gelar, cortar em fatias, colocar açúcar e voltar aos meus 12 anos.
Morrer de nostalgia e ressuscitar nos braços de quem mais amo. Tocar violão, tomar café, fumar. Rir, abraçar o Azulino, dizer que o amo sem que ele ouça e sentir que não preciso de mais nada. Quero isso tudo para agora, para já.
Pés descalços, chão frio, noite fria, não querer que amanheça pelos próximos 40 dias, 40 anos. Querer ter para sempre quem nunca teve por instantes, mas ainda assim, não desistir.
Escrever poemas como as moças de décadas atrás, sinhá. Nem polícia, nem vizinhos, nem computador, tirar a cidade de perto.
Segurar a mão do Azulino, olhar no olhar do Azulino e ver que meu dia não começa enquanto não vejo os olhos dele. Há dois dias que meus dias não são dias. Faça meu dia começar.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Mais um trago.

Ela é cheia das coisas, das músicas, dos textos roubados de alguém que sentiu a dor de verdade. Cheia dos sentimentos copiados e colados e cheia das dores poéticas e escritas que nem foi ela que escreveu. Eu não quero saber se ela deveras sente, tenho medo do que você deveras sente. As pessoas arrumam maneiras para se expressar, eu faço isso também, há músicas que falam melhor por mim do que eu mesma. Há silêncios que falam melhor por mim do que minha tagarelice. E ainda assim, eu finjo desconhecer o lema que diz que o silêncio não comete erros e tento te dizer através de palavras o que meus olhares e sorrisos foram incapazes de dizer, fico tentando ser mais franca, mais límpida, o mais transparente possível para te mostrar que dentro de mim só existe você.
Entende? É difícil ter que aceitar que de uma maneira ou de outra, é tudo platônico. Tudo não vai poder sair dos sonhos, os tais sonhos que eu passo a noite lutando para tentar te tirar de lá e te trazer para perto, mais perto, o suficiente para te abraçar e não te deixar fugir.

Deixa eu te tragar mais uma vez, viajar “até o infinito e mais além”. Deixa-me te beber de uma vez, te virar em um gole só. Deixa-me? Deixa-me. Não deixa. Deixa.Deixa-me assistir o teu sorriso trincado, os dentes travados, sentir o cheiro bom que fica no ar quando você vai passando. Deixa-me pegar sua mão, tocar seu coração com o que eu vou falando. Deixa, não me deixa.

Eu te amo, eu sei, mas somos racionais. Você lembra? A gente não deixa o coração falar mais alto que a razão, embora a minha primeira intenção fosse essa mesmo. E eu fico tentando abafar seus gritos e a penúria de meu ser vai se lamentando enquanto o coração vai desfalecendo aos poucos, aos poucos, bem poucos, numa lentidão de atormentar. Arriscar sem medo, me jogar, cair de cara e se doesse, depois ia passar. Esse vazio é que machuca e não pára nunca de doer. Maldita imunidade que não me serve para nada. Não me serve para o que deveria me servir, não me alivia o que mais me dói.

Maldita imunidade que não serve para nada.
Eu sinto a sua falta o tempo inteiro, eu quero te abraçar o tempo inteiro, você é o meu vício, meu amor, o meu vício. “Eu não quero te ver sofrer”, sabia que eu ficar sem você por dois minutos já é dor? E sabia que eu ter a noção de que ficarei sem você por todos os demais dois minutos da vida também é dor?

E essa dor não se cura, não passa, não alivia, é dor.
“A gente se ama”, eu te amo.
“Minha Gloriosa”, sempre sua.
“Minha neguinha”, mulata, enfim.
“Minha piveta”, piveta?
Hahahaha.
Você dá uma luz na minha vida que até eu me impressiono. Queria nunca mais me afastar de você. Embora eu não possa, eu não deva, eu não queira.Eu quero transbordar em afeto, mergulhar em ternura e me perder da solidão, do frio, do calafrio, do medo. Quero desviar a repugnância do meu caminho, desviar a dor que vai sufocando copiosamente.
Eu quero você comigo, somente.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Das tantas palavras


Eram tantas palavras que ela conhecia e dizia três por sentir falar. Tantas risadas que ela mantinha presa por dentro por ter medo de faltar. Tantos suspiros e tantas canções foram servidos naquele jantar, tantas mentiras e conspirações explícitas naquele olhar.
Ela sabia muito bem, tão bem, meu bem que não podia confiar. Mas era tanto amor e tanta saudade que eu prefiro nem contar.
Foram tantos abraços enviados por estrelas com a esperança de que chegassem lá, foram tantos cuidados, tanta cautela com medo de lhe perturbar. Ela sabia, meu bem, não deveria se machucar.
Portanto ficava em silêncio quando muito queria falar. Ficava um vazio quando passava a hora de você chegar. Foi tanta saudade, tanta ameaça de ver o coração quebrar. Tanta ilusão, pouco solidão, mas o suficiente para fazê-la surtar. E durante a noite ela não era mais ela, escondia-se embaixo do cobertor jurando que o mundo não mais a encontraria, e ali ela procurava uma forma de não chorar. Pois era tanta pressão, tanta confusão que ela preferia dormir. Era tanta bagunça, tanta ausência que não sabia se queria partir. Eram tantas palavras que ela conhecia e dizia três por sentir falar. Mas era tanta dor que o silêncio ajudava a aliviar. Tanta fumaça que ela escrevia no ar, tanta cinza que ela queria se espalhar. Um sopro, outro suspiro, um espirro e estava tudo desfeito. Era tanto defeito que em seus olhos eram efeitos que não queria distinguir a verdade e a validade. A qualidade era guardada para si, por não querer mais dizer. Era tanta euforia que de novo ela dormia por não saber mais o que fazer. Eram tantos olhares que o mundo se enchia de cor, tanta vontade que o peito se enchia de dor. E o ardor no estômago não era a Gastrite, menino, ela não acreditava na flor triste que você dizia ter cheiro, ela queria um sorriso dos lábios teus. Eram tantos desenhos que o retrato abstrato refletia no espelho, e eram tantas pegadas perdidas, passos marcados na areia que imaginava se fossem os seus. Para onde estava indo? Com quem estava indo? Por que você não estava ali? Eram tantas perguntas que a dúvida enxuta não mais a deixava sentir. Sentir o que deveras sentia ou o que mal queria sentir. O mesmo medo de perder o que nem sequer tinha para si. Foi a força enlouqüente que a manteve de pé, a força que mudava o destino da maré. Eram tantas palavras que ela conhecia e dizia três por sentir falar. Era um coração tão cheio de ternura que mal lhe cabiam lá. Ela queria, meu bem, mais de vinte e quatro horas em um dia, ela esperava, meu bem, o dia inteiro para passar um minuto com você. Ela não cansava, ela não parava, ela acreditava no sonho que tinha, no amor que mantinha e na barreira enorme que queria tanto derrubar. Você mal dizia, nunca mentia para não a machucar.
Ela era menina de ferro, tinha um brilho no olhar, um sorriso no rosto e uma força no punho, no peito, na mente. Ela era menina de ferro, menina de aço, vaso ruim que não quebrava.
Era tanta algazarra que ela preferia deitar, contar as estrelas para não cantar os males aos céus. Ela era teimosa, menino, ela era perversa. Matava com tanto gosto que dá até gosto de ver. Ela era bonita, menino, amável, fazia todo mundo rir. Ela camuflava tão bem o jeito mais bonito de cair. E era tanto frio que o calor não podia suprir, se ela te ama, por que te deixaria partir?
Era tanta saudade que na verdade ela te queria por lá, se ela te chama, por que te deixaria calar?
Foram tantos remédios embaixo da cama que lhe mandaram tomar, ela não sabia como dizer que aquilo não tinha cura. Foram tantas cartas e tantas rosas acumuladas no sofá, ela não sabia como dizer que aquilo não tinha conforto. Foram tantas chamadas não atendidas no celular, no dia seguinte ligou de volta dizendo que havia esquecido o celular em casa. Ela até conseguia mentir para o resto do mundo, viam uma boneca de aço, mas na verdade era boneca de porcelana, de vidro, quebrava com o vento, mas mantinha todos os pedaços partidos no chão. Não perdia uma parte sequer. Eram tantas palavras que ela conhecia e dizia três por sentir falar.
Mas dizia com sinceridade, não mentia um verbo. E foram tantos verbos exibidos e só um sabia decifrar, tantos erros mantidos, mas nem um a fazia parar, tantas falhas reparadas e tantas taças quebradas, mas não estragou o jantar. Era tanta saudade que não podia parar.
Ela era crente, meu bem, crente em uma história faz-de-conta que ela mesma criou, crente em uma farsa bem feita que ela não acreditou. Crente em nada, descrente.
Ela só queria ir embora sem precisar sair de lá, e te deixar mais livre, mais solto, queria te amar sem precisar te prender. Era tanta exigência que ela preferiu esperar, tanta assistência que ela preferiu ajudar, tanta absurdo que preferiu se entregar e eram tantas palavras que ela conhecia e dizia três por sentir falar.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O responsável assim dizia: Na minha festa não tem bebedeira
Porque aqui no meu barraco só tem Coca aí na geladeira

Tem Coca aí na geladeira?


- Bezerra da Silva.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Abraça a minha boca na sua.


Às vezes eu tenho um certo medo – essa não é a palavra, mas soa melhor – de chegar aqui e dizer que te amo e de repente tudo acabar. Tudo sempre acaba.
Você diz que não ama e que o mundo lá fora não te interessa, então qual o sentido de viver tão sozinho do lado de dentro? Eu queria poder gostar de verdade de você, mas eu não acho que seja a melhor opção. Ou talvez seja e eu que esteja perdendo tempo, bastante tempo, mas é a minha escolha agora, embora não seja – de fato- a que eu quero muito tomar.
Incrível como nada disso nunca dá certo para mim, e eu nem me importo. Concluí que o mundo é um lugar legal para viver, e a vida é algo interessante para aproveitar, independente de se seu coração está ocupado com alguém amável ou não.
Ontem vieram me contar que alguma boca suja estava me difamando por aí. Acendi um cigarro, cruzei as pernas e disse – Conte.
Não contaram, nem foi necessário. Conversei do mesmo jeito, ri do mesmo jeito, fiz tudo do mesmo jeito e eu estou do mesmo jeito. Algumas pessoas passam a ser dispensáveis, passam a passar desapercebidas e perdem o valor, perdem a essência, mesmo quando nem sabe quem elas são, mesmo quando não sabem o sentido que isso tem.
E eu te amo sim, digo aqui por saber que está longe de você me ouvir e me encontrar, longe de você querer saber qualquer detalhe e mais longe ainda de você questionar – algumas coisas falam apenas por serem elas. Amo, mas não vou chorar na sua solidão e nem me deitar no seu sofá esperando uma demonstração de afeto. Isso só fica bonito em poemas, novelas e afins, na vida real doem as costas.
Nem com muito gás, nem com pouco gelo, você ainda me conhece tão pouco.
Sou de Touro, ainda não tenho habilitação e bem, eu passaria meus próximos anos de vida ao seu lado sem pensar duas vezes. Você é tão ausente.
Não vou te chamar mais de uma vez ao dia, eu canso dessas coisas e você também não tem muita paciência. Se bem que você adora alguém jogado aos teus pés e eu sempre acho que o chão é baixo demais para mim. Eu tenho o que você precisa e só lhe resta admitir certas coisas, eu sei que eu te amo, mas às vezes eu sinto que isso não é suficiente. Embora eu queira, os demais fatores estão fazendo falta. Você é bloqueado, é psicologicamente afetado e nada do que eu diga ou faça vai ser o suficiente para você, então paciência. A suficiência para mim pode ser atingida com um pouco só de reciprocidade, para você eu não sei. Mas agora eu preciso de um pouco de atenção, como todos os outros homens, como todas as outras mulheres. São dois corações gelados querendo se aquecer no inverno, no inferno. Não, meu amor, não temos tempo para ilusão, precisamos, de fato, colocar os pés no chão.
Hoje quando eu acordei a minha cabeça parecia que ia explodir, eu preferiria que sim, assim pensaria menos, assim dormiria mais, assim não causaria mais.
Aí eu liguei para você um tempo mais tarde, a simpatia quase me beijava a boca pelo aparelho celular, eu desliguei. Às vezes eu me pergunto porque eu sempre tenho que me apaixonar pelo tipo mais errado de sujeito possível, e pior que isso, por que eu tenho que amar o sujeito mais errado entre os típicos mal amados e grossos e rudes e hostis e puta que o pariu, por que eu tenho que amar justinho você?
Dentre tantos que fariam questão de acender meu cigarro e entre os tantos que me pediriam licença para entrar em minha vida, por que logo você? Imbecil, estúpido, grosso, arisco.
Enquanto tem tantos que me ligariam para dar boa noite e enquanto tem tantos que fariam o possível para me ver sorrir por um motivo bobo qualquer, por que logo por você? Peça lastimável perdida no meu quebra cabeças enorme. Não mente para mim, não diz que me ama, eu quase quase acreditei. Eu sei que você vai embora assim que puder, ou assim que esse seu cigarro infernal acabar, eu só queria te ter um pouco mais, um pouco meu sem possessão, um pouco são, um pouco só. Diz-me que me ama até eu quase quase quase acreditar, só para dormir bem durante a noite. Não, não diga que me ama se de fato não me amar, eu prefiro a verdade que machuca e sangra e depois não dói mais. Ouvi mentiras que até hoje me atormentam, até hoje refletem a cicatriz tão grande no espelho. Ela vai de lado a lado. Eu te amo. Ufa, falei de novo!
Eu não quero ter que ouvir seus gritos e seus resmungos e também não quero mais ter que ficar o tempo inteiro te esperando, eu odeio ter que esperar por muito tempo. Odeio. Se bem que eu quase não canso de esperar por você, ou sempre canso de esperar por você e acabo desviando o caminho e caindo no abismo, como ontem, como anteontem, como antes de anteontem. Eu não tenho vocação para segundo plano, perdoe minha exigência.
As coisas até poderiam dar certo caso nós deixássemos, o mundo fica mais cheiroso e mais bem pintado quando você está comigo, entende? Eu pararia o tempo no instante em que o sol se pôs e mais ainda no instante em que ele nasceu tão lindo naquela manhã bonita que mal sabíamos quem nós éramos e nem queríamos mais saber e nós ainda nem sabemos, só queríamos estar ali. Bom ser jovem, bom amar sem barreira, sem estribeira.
É difícil gostar muito de você, é difícil gostar de qualquer outra pessoa, eu suponho. Porque acabamos nos desprendendo de certos vícios e criando uns novos, uns mais difíceis ainda de lidar, uns mais prazerosos ainda de alimentar, como você.
Sempre você.
Mas você não me ama, eu senti isso da última vez que você me abraçou fingindo que não queria que eu fosse embora, não lhe faria diferença alguma. Eu sempre descubro certas coisas, não adianta. Como a boca suja que me difamava por aí, era a mesma boca suja que queria me beijar por aí.
Eu ia te deixar ir e te esperar voltar, mas não sentada.
E eu te amaria incondicionalmente, com C, com a mente, com o coração.
Caso você deixasse.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Analogia.

E quem foi que lhe disse que o amor é uma arte? Arte é um quadro, uma música. Uma folha seca voando no outono, amor é sentar no centro de um lugar vasto e rir sem saber porque, é esperar ansioso alguém chegar, alguém que te completa. O amor é uma dor, uma dor que não acaba. É a comédia na sepultura da alma, é a tragédia no riso da dor. O amor é o inferno particular de cada um. A paz indefinida por ter perdido as estribeiras. Amor é o riso da criança, a saudade de quem lhe traz frio na barriga, o tiro na lembrança, o sonho indomável. Quem foi que disse que o amor é uma arte? Hahaha. Arte é fazer o que nem todos conseguem fazer com honestidade, arte é ter o dom de fazer o que preencha algo ou alguém com alguma coisa, com ternura, afeição, com idéias, luz. O amor é fazer chorar e nas lágrimas desenhar um faz-de-conta, arte é viver o informal, amor é ver beleza onde quase não há, é sentir que de repente o seu pulmão enche de ar e em dois segundos nada mais há. Meu Deus, o amor é uma arte. Eu sou uma artista. Hahahaha.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O Waguinho viu a dor vil que ninguém viu.

domingo, 12 de abril de 2009

"Sócrates explicava a contradição dizendo que trazia no rosto as marcas das paixões que poderiam ter sido suas se a filosofia não lhe tivesse permitido dominá-las."


Bendita seja a filosofia que dormiu no meu quarto e não quer mais sair de lá, bendita seja.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Fica quieta, fica calada, eu só quero ficar e olhar para você.


terça-feira, 7 de abril de 2009

......................Parabéns para você.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Brenda.

Arrumava-se toda acreditando plenamente que ia encontrar Brenda. Com os olhinhos colocando fogo em lampiões de tanta ânsia, as mãos não paravam quietas e o coração sozinho daria conta da Banda de Chico Buarque, bonito para quem senta e assiste, dolorido para ela que sente e insiste. Disso eu tenho certeza que sim, seus olhos transmitiam dor.
E se ela chegasse com tanta pressa e tanta euforia e descobrisse que Brenda não tinha ido? E se quando ela chegasse com tanta pressa e tanta euforia e Brenda não lhe desse a mínima importância? É difícil engolir a seco, mas não há muito o que fazer.
Ela usava o perfume mais cheiroso do armário, passava aos montes até começar a espirrar. Porque ela queria que chegasse a noite e ela ainda estivesse cheirosa, mas Brenda não percebia. E ela mudava o penteado, retocava a raiz do cabelo, falava algo mais interessante e Brenda nunca reparava, por que ela queria tanto ver Brenda naquela noite? Brenda nem se importava.
Ela era até uma boa garota. Era forte, resistente e o melhor: Fingia muito bem. Mas nada escapava aos meus olhos.
Vez ou outra eu a pegava respirando fundo, trocando os pés pelas mãos e quando eu pedia a sua mão, estava sempre muito gelada, com os nervos a flor da pele, quase sendo expelidos pelos poros.
Por que ela tinha que amar logo a Brenda? Esta que nunca a olhou nos olhos em uma conversa, esta que mal sabia o seu nome, esta que nem fazia questão de saber o seu nome. Coração idiota da porra o que ela tinha.
Mas era assim, não tinha muito o que fazer. Era uma paixão que parecia que não ia mais acabar, ia consumindo partes imensas de onde quer que estivéssemos, ia iluminando o chão durante a noite e o céu durante o dia, e Brenda não se importava.
E quando ela descobrisse finalmente que Brenda nunca iria se importar?
E também que Brenda já tinha uma namorada e era fiel aos seus sentimentos? E quando ela descobrisse que Brenda nunca lhe deu valor porque ela não significava nada para a loura? Eu não quero nem saber. O problema é que ela também não queria nem saber, se ia doer, se ia sangrar, se ia tirar o fôlego, se ia ficar para sempre no subconsciente, se ia fazê-la chorar, se ia tirá-la do eixo, se ia fazê-la não querer mais ninguém e em nenhuma possibilidade. Ela não queria saber se ia passar sete dias e sete noites deitada em uma cama que não se importava com ela tal qual Brenda, não queria saber se ia andar pelas ruas sem saber para onde ir e esbarrar com pessoas que não se importavam com ela tal qual Brenda. Se ia encontrar pessoas que também já amaram Brenda e ficaram na mesma situação e nem queria saber o que essas pessoas fizeram para sorrir novamente. Eu tinha medo de vê-la morrer por dentro, tinha medo de saber que ela não fazia mais questão de muita coisa tudo por causa de uma desilusão amorosa e/ou uma ilusão sádica, que ela daria tudo para continuar vivendo ao menos um pouquinho mais, jurando que era feita de ferro.
Pobre menina boba, ia andando e deixando pedacinhos dela pelo chão, já estava completamente desfragmentada, procurando um lugar para sentar e nunca mais sair dali, procurando um lugar para se esconder e depois nem ela mesma conseguir se achar, tampouco Brenda.
E o pior de tudo, era eu ter a plena razão de que em nenhum instante ela era possessiva, em nenhum instante ele ajoelhou-se aos pés de Brenda e em nenhum instante ela deixou Brenda saber de alguma coisa, ela preferiu morrer sozinha, com a dúvida de se a Brenda poderia um dia olhar para ela e enxergá-la verdadeiramente, tinha medo de ter certeza de que para Brenda, ela não passava de uma atriz insensata. E realmente não passava.
E ela chegava sempre sorrindo um sorriso amargo, fingindo que estava tudo sempre muito bem, e Brenda – para variar – não estava dando a mínima importância.
E quando ela descobrisse que Brenda era grande amiga do seu ex-namorado? Não que influenciasse em algo, mas talvez fosse um bom motivo para iniciar uma boa conversa, mas Brenda nunca tinha tempo para bater um papo. Caralho, Brenda era difícil.
Eu sei que enquanto eu a observava, eu ficava pensando em milhões de coisas, como em o que ela faria caso Brenda chegasse do nada e lhe desse um beijo. É como um cachorro que vai correndo atrás de um carro em velocidade, mas provavelmente não saberia o que fazer caso o carro parasse. Não que ela fosse um cachorro, enfim.
Até que desta vez ela está em um equilíbrio invejável, esta noite ela chegou no curso e ficou no pátio enquanto não começava a aula. Parecia que o coração ia sair pela boca, estava com os nervos a flor da pele, então sentou bem distante e fingiu estar copiando uns assuntos. Isso porque ela quase arrumava uma briga no ponto de ônibus, mas respirou fundo e seguiu. Eu só estava esperando a hora de vê-la jogar tudo para cima e ir embora, sem nem um Boa noite e tampouco um “Olá, Brenda.”, ela quase não queria nem saber.

Ela até descobriu que já houve outras garotas que quiseram Brenda, mas ela foi a única que quis tanto, tanto querendo dizer DEMAIS mesmo. E para Brenda, ela é só mais uma na multidão.
Será que ela não tem vontade de mudar isso? Será que ela vai ficar nisso por muito tempo? Ou só até Brenda chegar e falar que não agüenta mais isso tudo e precisa dizer que não quer nada com ela e que ela precisa mesmo se libertar? Será que ela espera que Brenda vá até ela dar essa lição? Espera mesmo? Queria ter mais intimidade para chegar mais perto e dizer que Brenda – de fato – não está nem aí para ela. De novo, para firmar, nem aí.
Depois ela acabou se distraindo, dois amigos perguntaram o que havia com ela por estar com olhos tristes e ela disse que era sono. Sei o sono dela, queria mesmo era dormir para sempre.
Mas é assim mesmo, eu sei que ela nunca mais vai se apaixonar por nenhuma outra garota, eu quero dizer com muita franqueza e sabedoria que se não for a Brenda não será mais nenhuma em todo o mundo.
Como dizer para ela que Brenda realmente vale a pena, vale uma dor, mas não todas elas? Como dizer à ela que existe milhões de mulheres tão bonitas, engraçadas, carismáticas e todos os adjetivos minuciosos que só ela sabe ver em Brenda e poderia existir nas demais, em todo o resto do mundo?
Mas se bem que não adianta, eu vejo nos olhos dela o tempo inteiro que se não for Brenda, não será mais nenhuma, nem uma sequer, pela milésima vez.

Eu via.
Desculpa, eu via, eu não vejo mais.
Ela só queria mesmo era um motivo realmente importante para descansar em paz.

domingo, 5 de abril de 2009

"Você devia ter feito alguma coisa para me ter.
Ou me deter.
É fim de tarde.
E, você sabe, eu te amava."

(Fernanda Young)