terça-feira, 22 de janeiro de 2013



  Que a espera não me ouça, há um pouco de ansiedade. O estômago vazio, meio embrulhado, meio agoniado. Rodando depressa, como um triturador de carne - vruuum vruuuuum! Que a demora não me escute, mas é a pressa que me faz falar e a chegada que me cala. Não sei mais se quero o que acompanha, talvez que venha e vá logo embora, não sei mais. Sei que a espera faz o lado de dentro cantar, existe um tenor aqui dentro. Dentro do triturador de carne - vruuuuuuuuum vruuuuuuuuuuuuuuum! 
  Ele veio com a bandeja na mão. Tão bonito, tão atraente, com a curva mais perfeita no sorriso. Desligaram o triturador, era só fome.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

  A noite foi logo uma grade merda. O colchão tinha perdido o formato do meu corpo e eu acordava a cada hora para tossir até querer morrer. Acordei cedo porque o sol entrou pela janela e não era o Falcão cantando, queria invadir meu quarto, invadiu. Nem lembro se tive café da manhã, lembro só que pensei nele, mas logo esqueci. Depois fiquei pensando em como eu pensei e logo esqueci e isso me tomou todo o dia, mas o dia inteiro mesmo. Até no cinema ele estava lá! Na poltrona vazia ao lado, na tela, na lanterna do lanterninha, no milho da pipoca, ele estava o tempo inteiro. Estava na tosse pertinente e também nas lágrimas dos vizinhos. Pensava que o filme seria também uma grande merda, mas nem foi - apesar de que eu nem lembro como começou.
  Sei bem que aos poucos as coisas vão se encaixando, encaixando e quem tiver que ficar, vai ficar.
  Eu sei que esqueci novamente, por muito tempo. E quando lembrei já estava me debulhando em saudades no chão do quarto, escrevendo uma música dramática na parede como se não tivesse papel nessa casa.
Mas aí eu esqueci de tudo isso e voltei à minha nadamolevida real.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

   A grande questão é que ele faz elogio em troca de nada. Conversa mesmo quando não se tem o que dizer, sorri aos poucos, não deixa cansar. Ele sempre sai, mas também sempre volta logo. Faz muita coisa errada, mas nunca perde a educação, a paciência. Abre a porta do carro, pede "por favor" mesmo quando o favor é feito com prazer, satisfação. Ele fala baixo, é engraçado de vez em quando, se preocupa, dá a mão para ajudar a levantar. Deus, quem nesses dias de hoje dá a mão para ajudar alguém a levantar? 
   Ele tem postura, humildade, planos. Ele quer um futuro, ele também pensa "até os 30", existem metas, criou metas, traça um caminho e não quer ir sozinho. Porém se tiver que ir, ele vai.
   O fato é que dá medo, dá receio, dúvida, confusão. Será? E se não?
Ele se oferece para buscar em casa e diz não se importar se demorar duas horas para se arrumar, ele acha que vale a pena. Será que vale mesmo? Nunca valeu para ninguém, nem para você, mas para ele vale. 
   Tu achas? 
Voto de confiança, vale sim.
   Tem que valer e dar voto para alguém que pede licença, oferece o lugar para sentar, oferece o cigarro, confia o celular. Se presta a abraçar mesmo depois de horas de treino, suor, cansaço, manda mensagem de Feliz Ano Novo, pede desculpas. TEM que valer e dar uma chance para alguém que cuida, que toca, que percebe que mudou o perfume ou que chama de linda quem passou o dia gripada, com febre e morrendo de dor no corpo. Você está linda hoje.
   Só precisava disso.
   A grande questão é que ele se importa e isso me importa.