segunda-feira, 28 de abril de 2008

A DOR QUE DÓI MAIS - Por Martha Medeiros

"A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.



- Martha medeiros

domingo, 27 de abril de 2008

Você mudou meu rumo, minha rotina, meu almoço e meu jantar.
E agora, onde você está? Quando vai voltar? Não quero mais esperar.
Arrume um jeito, qualquer jeito de me levar até você.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Carta fora do baralho

Numa noite, eu estava conversando no MSN e disse a ele que tinha que lhe contar algumas coisas, havia tempo que não conversávamos seriamente, sobre nossas vidas. Precisei sair no mesmo instante e esse tal assunto nunca foi debatido, ele nunca ficou sabendo da existência do Rapaz na minha vida, então hoje resolvi pedir para que ele tirasse minhas cartas no Tarot, resultado:

teardrop. diz:

saiu a carta da raposa, a carta da cruz e a carta dos livros
teardrop. diz:
ou seja, vc tem aprendido a se relacionar com a malícia dos outros
teardrop. diz:
vc tem experiência em relação a essas malícias
teardrop. diz:
pode intuir quem é de confiança ou quem vai fazer um joguete de você
teardrop. diz:
porem pensa
teardrop. diz:
ainda
teardrop. diz:
numa aliança
teardrop. diz:
que preencheria todos os vazios
teardrop. diz:
e que mudaria muito sua vida
teardrop. diz:
e aqui diz que esse sentimento de esperar o principezinho encantado vai permanecer na tua vida por algum tempo.
Jucy- Perdoe, eles não sabem o que fazem. diz:
oq a carta da cruz ker dizer?
teardrop. diz:
vc não quer qualquer cara
teardrop. diz:
vc quer aquele cara.

Jucy- Perdoe, eles não sabem o que fazem. diz:
a história q eu disse q ia te contar, era a história do tal príncipe encantado =]
teardrop. diz:
ta brincando comigo ne?
teardrop. diz:
:|
Jucy- Perdoe, eles não sabem o que fazem. diz:
Não. =)



Já me disseram uma vez "Relaxe e confie nas cartas. "
Quero que isso tudo acabe por aqui, preciso encontrar terra firme e ganhar esta partida.
Por favor, mais uma dose de Martíni.

terça-feira, 22 de abril de 2008

O mesmo que NADA

Eu o tratei tão bem, tão bem.
Me importei também, também.
Quis dar-lhe o mundo nas mãos
O céu e cada estação
Eu quis, meu anjo
Quis acreditar que não era nada em vão.
Estendi-lhe a mão
Abracei e lhe desejei bem perto
Lhe chamei para mais perto, mais perto
Mas nem tanto.
Eu acreditei que você valia à pena
Crença perdida, sem volta
Você não passa de mais um na multidão
Acreditei no seu sorriso e nas vezes que lhe vi chegar
Acreditei em você, em cada gesto seu
Você estragou tudo
Eu acreditei que você valia à pena
Crença perdida, eu quero de volta
Gostaria mesmo que tivesse dado certo
Mas você não vale
Não vale à pena
Talvez não valha a pena de um pardal
Portanto, selecione
Selecione melhor as pessoas que você anda
Selecione
Selecione melhor as pessoas que você ama.

sábado, 19 de abril de 2008

Ar, calmaria.

Céu nublado, pássaros cantando, muralhas desabando aqui dentro.
Pensamentos ao vento, música alta, querer e não ter.
Planejar para sair, descansar e finalmente sair, se divertir, ou não.
Desejar quem não se deve, sentir falta de quem não quer sentir, chorar escondido embaixo do travesseiro.
Filme sem graça na televisão, ruas paradas como em feriadão e insistir que não há nada no coração.
Há sim, amor.
Acordar, almoçar, vegetar e fazer qualquer outra coisa que termine em "ar".
Fuma um cigarro, faz um chá, senta na cadeira e olha tudo o que estiver do outro lado da janela.
Vê o sol virar lua, o céu azul ficar pardo, passarinho virar morcego, gavião, abutre, leopardo.
Céu nublado.
Tempo estável, saudade nada estável e um sorriso agradável no rosto, nem parece que é tudo real.
Pintar as unhas, furar as orelhas, apertar a saia justa, escolher o sutian e lembrar de não usar calcinha de lã esta noite.
Atende ao telefone, discute ao telefone, desliga o telefone, liga o telefone e faz a última ligação, depois das 30ª última ligação.
Ele sempre tira o certo do lugar.
Céu nublado, feriado num fim de semana, não queria não. Oh, inferno!
Muralhas ainda caindo, dores ainda mais fortes e o sorriso ainda no rosto, sempre singelo, sempre belo, sempre belo.
Esmalte da unha borrado, cabelo desarrumado, café gelado e a rede a balançar, que magnífico.
Tão magnífico quanto observar o nascer do sol de algum lugar em Maceió, belo.
Céu nublado, oh minha menina, não se impressione. É um fim de tarde de um sábado qualquer.
Não se impressione.



P.S.: Eu te amo.

Eu e o Fun


"Há urgência em estar vivo."

Beach

" Enquanto odiamos as coisas, a vida passa."

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Anjo não tem sexo, paixão também não.

Ela o queria, de longe, de perto, certo ou incerto, ela o queria.

Era uma dor de moça sem rapaz, agonia de perda de amor, eu já sabia como era, eu já senti isso também.

E tudo o que ela mais queria era não querer, não desejar tanto tê-lo pra si. Eu não sei como o seu olhar conseguia me mostrar tanta coisa, eu a lia tão claramente que parecia que eu conhecia essa moça há anos.

Ela se sentia como eu me sentia tempos atrás, ela queria poder preferir uma tarde “semi-só”, acompanhada de vinho, de flores, música e poesia, mas não, ela o queria. Mesmo que ele estivesse esparramado no sofá, sentado ao seu lado e falando uma besteira qualquer, reclamando do tamanho da roupa dela, ela o queria ali com ela, pra ela. Ele e ela.

Gostaria de preferir uma noite na praia, lua cheia, noite fria, a 5ª dose da madrugada, calça justa com preço acessível, mas não, ela preferia tê-lo.

O chamava mais que os lados opostos da pilha, o desejava mais que a sede que desejava o vinho, que a pele branca e macia que desejava a seda lisa.

Queria preferir as cordilheiras, as fronteiras, banho de cachoeira e fim de semana em Blumenau, mas NÃO!

Ela o preferia, ela não queria, mas ela o queria.

Os cristais que lhe escorriam docemente pela face, saltavam vagarosamente daqueles olhos misericordiosos. Ah a sensação de angústia que me dava. Até agora não consigo decifrar se era vazio ou nostalgia o que estava me arrepiando os pêlos dos braços, só sei que era um sentimento que doía, mas que era bem menor que o dela, ou se era maior ou tal qual o dela, eu sofria menos por opção minha, não sei como. Ela era diferente de todas as outras que também tiveram suas almas estraçalhadas, ela alterava o meu estado de espírito de uma maneira que até eu duvido, ela era só uma menina chorando por um rapaz que talvez nem se importasse com o lugar na qual ela apoiava os joelhos, uma moça qualquer, até chegar e transtornar o ambiente na qual eu estava, ela anoiteceu o meu espaço. Quanta beleza.

Eu baixava a cabeça e sorria sozinha, aquele lugar finalmente me serviria para algo? Minhas mãos não se conformavam em dividir os mesmos gestos, o tradicional de se juntar e rezar, na verdade elas queriam tocá-la. Meus lábios não se conformavam em bocejar naquela noite (até então) chata, eles também queriam tocá-la. E eu não podia nem sequer lhe oferecer um lenço, estava tão morta sobre meus joelhos naquele santuário, que qualquer movimento brusco me abandonaria no purgatório.

Eu tentava fingir que ela não estava ali, mas seus suspiros interferiam minhas vãs tentativas. A presença dela me preenchia por um tempinho qualquer, eu não sei explicar bem o motivo, sei que era bom tê-la ali, eu não queria que ela fosse embora.

Gostaria de poder lhe oferecer um cigarro, mas ali dentro era proibido alimentar o meu vício preferido, imaginei que seria mais proibido ainda manifestar esse vício. [Foda-se, não ofereci porque não queria dar o braço a torcer, sair daquela posição ia doer muito. Também não queria ir pro purgatório (Espero que essa desculpa ainda funcione).]

Quando eu a vi, o silêncio pairou. As orações baixinhas que vinham de todos os lados já não me atordoavam mais, aquele lugar me serviria para alguma coisa, eu queria acreditar nisso. E não havia nada que me fizesse mudar de opinião enquanto ela estivesse lá, abaixo do mesmo teto que eu.

O lugar era mórbido, não sei porque todas aquelas pessoas fazem questão de voltar ali. Era tudo muito atormentador, aquelas velas, aqueles véus, aquele antro de desesperados que não acharam soluções para seus problemas e resolveram apelar ao milagre, ao faz-de-conta. Mentir para si mesmo não é a melhor opção, deveriam saber disso, não concorda não?

Enfim, era uma noite com um toque de “estranheza”, não sei explicar muito bem, só sei que não era igual as demais. Parecia manhã de domingo, podia-se até sentir o cheiro de café fresco e cuscuz quentinho saindo do forno. (Ok, essa parte é mentira.)

Ela era a moça mais bela que eu já tive a oportunidade de presenciar um choro, como chorava.

Às vezes eu achava que ela nunca pararia! Ela queria sumir naquela noite, eu sei que sim. Pelo jeito que ela agarrava o terço com uma das mãos e dizia “Você me abandonou, filho da puta!”.

O tratamento da cristã para com o Cristo era um tanto quanto estranho também, tal qual a noite. Poucos devem se referir a ele tão carinhosamente, mas a fé da moça era grande, por mais que não acreditem. Eu podia ver, com esses olhinhos que a terra há de comer.

A fé pode dominar um corpo pequeno com uma mente menor ainda, pode mover montanhas, pode até fazer uma moça parar de chorar ou... Pode fazer dessa a sua ação preferida no dia-a-dia. Pode fazer acreditar que a dor é arte, e é.

Ela não largou aquele colar de bolinhas em nenhum momento enquanto eu a observava ser triste, eu disse: Nenhum momento. Ela sofria ali naquele metro quadrado que ocupava, e como sofria sozinha. Se ela pudesse abrir aquele chão e entrar lá como uma toupeira, ela o faria. Ela sentia muito, por algo que eu tinha até receio de imaginar, não sei porque. Talvez eu tivesse receio mesmo era de me encontrar com ela nesse mundo vazio e aí sim teríamos um drama. Preferi evitar e estudá-la, preferi observá-la enquanto ela ainda não percebia, me encantava o quanto ela era bonita. Ela mantinha uma luz no olhar e essa luz ia se apagando com a fração de segundo que ia se desgastando, uma beleza que sofria.

E como me doía. Olhava-lhe nos olhos já avermelhados de tantas lamentações numa só noite de quinta-feira, eu queria lhe estender uma das mãos, mas a minha posição me adormecia por horas.

Ela o amava, lembro muito bem quando fechou os olhos com força, juntou as mãos, curvou-se diante da estatueta de gesso, já escuro graças à fumaça das velas ao seu redor e pediu “Traga-me o único que amei, em tempo breve, eu suplico.”

O “eu suplico” no final pode parecer um tanto quanto desesperado demais (embora ela estivesse mesmo desesperada demais), mas eu prefiro acreditar que ela queria mesmo era se reaver com o “Senhor” por ter-lhe elogiado de “filho da puta”. Se não demonstrasse tamanha precisão, talvez ele não a atendesse. “Pois é, minha dama! Suplique mais, pois não está funcionando. Quer um chá?” Eu pensei. Às vezes eu tinha raiva de mim mesma por ser tão sarcástica e imbecil numa hora dessas, eu bem que poderia pensar “Calma, vai dar certo.” Oh, céus! Acredito que mereço meu martírio.

Não reclamo, vê-la ali era mais bonito. A tristeza me encanta, desculpa.

Enfim. Ela suplicava enumeras vezes, suas mãos tremiam, sua voz era um tanto quanto nervosa e os soluços estavam sempre interrompendo o balbuciar daquela frase que me fez lembrar velhos tempos. Eu também já quis muito, supliquei para que me trouxessem o único que amei, em tempo breve. Até hoje espero (ou melhor, acho que não espero mais. Não sei o que é pior, oh vida!).

Pela agonia da menina, não deveria estar esperando há tempos, ela precisava se acostumar.

Moça triste.

Na qual a tristeza era tão vasta e doce que ia se propagando por todo o lugar.

Eu não fazia a mínima idéia de qual era o seu primeiro nome e já queria o número do seu telefone para ligar na noite seguinte, ao menos para saber se ela estaria bem.

Tão cheia de tragédia, havia tomado um banho disso antes de sair de casa, mas banho de tragédia não faz bem. Não consigo imaginar nada pior para que ela tivesse uma noite daquelas. Ela despia os santos com o olhar, despia os jarros, os buquês, as freirinhas que desfilavam pelo tapete vermelho.

É, moça triste.

Eu gostaria de lhe conhecer nua de todas as máscaras e de lágrimas impuras que lhe ocupavam o corpo, gostaria mesmo. Gostaria de sorrir pra ela e em troca receber um sorriso honesto, sem ser do tipo forçado. Queria um sorriso tímido, embora cansado.

Quanta cautela que lhe guardei só de vê-la sofrer sozinha naquele lugar, mas aquele infortúnio ia se espalhando e ia atingindo todas as devotas da esquizofrenia, da saudade, da dor e do rancor que lhe rodeavam. E cada uma delas ia saindo de fininho, acho que elas acreditavam que ninguém veria. Tão discretamente que dava até vontade de rir. Bem devagar elas se levantavam, recolhiam o véu, o terço e ligavam o celular para ver se não tinha nenhuma chamada não-atendida, não tinha. Eram todas dispensáveis na vida de qualquer um, afinal, era quinta-feira e estavam na igreja pedindo tudo à ninguém. E eu lá também, pagando a promessa que havia feito tempos atrás e que não vou contar agora (talvez nunca conte, não é interessante mesmo.)

No final só estávamos: Eu e ela.

Nem uma dose de Martini eu tinha para lhe oferecer, também pudera, estávamos em um lugar hipócrita e... “Sagrado”.

Eu gostaria de lhe dizer que ia ficar tudo bem, mas ela estava em transe, como se ali fosse apenas seu corpo, morto também sobre os joelhos. Parecia uma morta-viva, ela estava totalmente à parte do mundo.

Ela era uma bela moça, devo ter repetido isso umas quinhentas vezes aqui, mas é porque era uma beleza diferente, encantadora. Do tipo de beleza que você não encontra em qualquer lugar, olhos vivos, lábios bem desenhados e o nariz já vermelho depois de todo aquele rio de lágrimas, usava um véu preto todo rendado sobre os cabelos claros, unhas longas, salto alto e muita, mas muita tristeza no olhar.

Abismada, era assim como eu já me encontrava naquele instante. Como ela conseguia chorar aquilo tudo em tão pouco tempo? Bonito. Gosto de amores assim e confesso que já quis muito ter um, mas quando cheguei perto, eu perdi. Ou cheguei ao máximo e simplesmente não deu certo, enfim, machucou de qualquer jeito. Então, não é algo que eu aconselho de todas as maneiras, mas é algo que eu acredito que valha a pena. Mas o meu caso não vem ao caso, falemos mais daquela noite. Aquela mulher estava me viciando.

Ela era atenciosa quando acordada (o estado de transe deixou a desejar), prestava atenção em cada detalhe, cada pétala espalhada no chão. Seus olhos pareciam metralhadoras que iam atingindo todos os sofredores que estavam amordaçados até instantes antes naquele calvário que nós nos esbarramos.

Ah! Como eu gostaria de dizer-lhe que aquilo ia passar, mas não podia. Meu egoísmo já tinha caminhado por todo o meu corpo, se espalhado sobre mim. Já estava na ponta do meu salto, na sola do meu sapato. Quando você está ali, todos os demais sofrem menos que você, todos eles são mais fortes, ao seu ver. Quando você chega ali, quer dizer que você já passou por outras etapas, mas quando eu me deparei com ELA, mudei o meu conceito. As minhas etapas até me pareceram bem doces e sociáveis quando vi que embaixo de seus joelhos tinham grãos de feijão, como nos séculos passados quando eles faziam isso como castigo. Ali todos lhe parecem mais fortes para que você possa enfatizar a dor e acreditar que ganha créditos com o tal “Senhor” (entre aspas novamente), coisa de gente besta e louca. Todos parecem necessitar menos, todos parecem sorrir mais até que você se depara com alguém como a moça de vestido preto e põe-se a pensar, você se coloca sentado numa poltrona velha e sem poeira e fica lá pensando se você não foi injusto o tempo todo, enquanto você se preocupou tanto consigo mesmo e esqueceu que no mundo tem mais gente e se todos ajudassem uns aos outros, talvez tudo fosse diferente, tudo fosse melhor e aquele lugar não estivesse tão cheio, cheio de vazio.

O pessimismo nos envolve por interesse nosso, em certos momentos a gente prefere desacreditar para ter gratidão e pena em troca, não quero pena, quero amor. Há pessoas mais tristes que eu, eu sei e eu não sou digna de pena, de sentimento ruim. Controlo o meu sarcasmo e a minha frieza, mas dessa vez eu não quero. Eu olho pra ela e estou convicta de que posso eliminar-lhe a dor, mas e ela? Será que ela pode?

Não pode, senão o já teria feito.

Ela chorava, como criança desmamada. E respirar fundo era inconstante, não sei como podia. Chorava a ponto de ir caindo por cima de si mesma, a donzela do século XXI estava se desmontando ali, na minha frente.

Então, com um esforço até apreciável, eu diria, levantei-me com alguns poucos gemidos e tomei-lhe em meus braços, pobre moça. Me abraçou com tanta força que eu até quis acompanhá-la nas lágrimas incontroladas, ela me parecia ser tão só.

Sentei-a no banco vago de madeira que estava o tempo todo assistindo aquela cena e ela parecia que tinha encontrado o seu lugar ao sol, assim, de repente.

Encostou as costas, cruzou as pernas com um certo esforço e finalmente pude lhe oferecer meu lenço que estava esperando o momento certo para enxugar-lhe as lágrimas, ela aceitou.

Vagarosamente dançava com o lenço sobre o rosto, e eu mantinha um olhar fixo ali, não conseguia desviar. Eram mãos tão delicadas e soluços tão silenciosos, que se eu tivesse um cálice contendo apenas dois dedinhos de ambrosia, seria um dedo meu e um dedo dela, só para que aquele momento nunca acabasse. Impossível. Já havia acabado.

Ela depois de recomposta, me abraçou novamente e me entregou seu terço, me disse com um tom de voz tão doce que eu acabei ficando sem conseguir falar absolutamente nada. Disse que eu mantesse a fé em mim mesma e em mais nada, que coisas materiais como terços e estatuetas não faziam sentido, a realização de meus sonhos estavam aqui dentro de mim. Disse também o quanto eu era jovem e bonita e não merecia passar minha noite de quinta-feira ajoelhada ali, eu não merecia terminar como ela estava terminando. Levantou-se e saiu rastreando o caminho com o som do seu salto altíssimo, um verniz que refletia fitando o meu olhar.

Levantei-me bem devagar como faziam as senhoras nostálgicas que já não estavam mais ali e segui o rastro que ela estava deixando para trás, segui com um nervoso que só você vendo, meu caro amigo leitor. Minhas pernas balançavam. Não faço a mínima idéia de porque tanto nervosismo se tudo o que eu queria era saber se ela ia descer as escadas sem tropeçar no último degrau, não sei pra que tanta preocupação. Ela continuou sem nem olhar pra trás e eu criei coragem e disse em um tom alto o suficiente para que ela escutasse “Ei!”, ela escutou.

Deu uma volta de 180º e me calou por uns segundos só pela forma que me olhava, confesso que gostaria de lhe pedir um beijo ou qualquer coisa mais afetiva, mas tudo o que consegui falar foi um singelo “Boa noite, moça.” e ainda mais dos mais tímidos. Ela sorriu, foi o primeiro e último sorriso da noite, mas iluminou todo o meu dia seguinte. Ela deu uns passos à frente, ficou a um palmo de mim e me adormeceu com um lento beijo na testa, deu meia volta novamente e sumiu na escuridão.

Fiquei estática por cerca de uns 60 segundos, sem mover nem uma pálpebra, nem um dedo do pé ou da mão. Em seguida, guardei na bolsa o terço bonito que havia me presenteado, não sei bem o porque já que havia me dito para não acreditar nele. Acho que ela queria que eu o jogasse fora, mas não o farei, é a minha única lembrança de uma forma não abstrata, além do perfume de suas mãos que ficou nas minhas na transferência do terço, gelei. Embrulhei meu terço também bonito e sem importância alguma no véu já amassado e joguei numa latinha de lixo que encontrei ali, deveria estar cansada de tantas promessas e oportunidades jogadas nela, ganhar um terço aquela noite deve ter mudado sua rotina. Sim, a da lata de lixo. Hahaha. Desculpa, enfim. Passei a noite inteira com seus olhos encarando os meus e me fazendo ter medo de manifestar sentimento ou entusiasmo, não queria confundir as coisas. Mas acordei pela manhã com a mesma moça no pensamento, no retrovisor do carro, no quadro pendurado sobre a minha cama e é claro que no reflexo no espelho, ela estava impregnada em mim.

Eu gostaria de dizer com convicção que ia me libertar dessas coisas, dessas paixõezinhas repentinas, mas a vida prega peças. Maldita seja a fraqueza que eu carrego no peito, desperta nas piores horas.

Não a encontrei novamente além de aqui: Dentro de mim, como a realização dos sonhos. Não que eu queira muito encontrá-la, mas seria uma boa, só para saber se o único que ela amou, voltou num cavalo branco para buscá-la.

Sarcasmo de novo, porra!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Matriz - Ramirez

Sei que vão dizer que não adianta olhar
Pois acabou de passar dos 16

Mas olha só o jeito dela dançar
Seu tênis preto All-Star

Sem nem ligar se vão notar
Sorri e fecha os olhos, sabe que
É musa soberana nesse bar
Mas se você quer ser feliz

Confia em mim, me deixa te mostrar
Que de todas é a matriz
Menina singular
Capaz de transformar meu desenho em arte final

Olha só o seu perfume no ar
Maquiada com ar de quem sofreu
Por amor e não quer mais se entregar
Espero o tempo passar

E até já dizem por aí
Que ninguém vai conseguir se aproximar
Que o lápis no seu olho é pra afastar
Quem não quiser te ver feliz


Não há ninguém assim, que faça prometer
Você vai ser a mais feliz
Se confiar em mim
Deixar eu te mostrar
que eu não sei viver sem você

Vou ficar até a festa acabar
Só pra ver se ela vai
Olhar pra mim...

Insulina

Ela tinha acabado de buscar a chave com a intenção de jogá-la riacho abaixo, seu coração estava fechado para balanço e já fazia uns 17 anos.
Morria de medo de arriscar abrir assim, de repente.
Mas há coisas, momentos na vida da gente que quando tem que acontecer, acontece .
Ela conheceu um rapaz, diferente dos demais. Já começou por aí.
Ele nem sequer pediu licença, foi se aproximando e invadiu o seu coração.
Ela estranhou no início, mas percebeu que não queria que ele saísse, não queria que ele fosse embora e deixasse o espaço vazio novamente.
Era a melhor sensação que já havia sentido em todos os tempos.
Vã ilusão.

Sorria a maior parte do tempo, colhia rosas, cultivava o jardim. Sempre assim, como as fadas nos contos de crianças.
Não durou muito tempo e o invasor já tinha ido embora, levando vários pedaços da estrutura.
Ela não queria de volta, nem um pedacinho sequer.
Ficou com retalhos de coração, se assim podem ser chamados.
Pedaços bem pequenos e machucados, e doía, como doía.
Resmungava, reclamava da dor a tarde inteira. Era uma dor que incomodava, mas que era bem melhor que o vazio que morou ali por tanto tempo.
O amor é amargo olhando de determinado ângulo, e ela?
Bem, ela já sofria de Diabetes há anos.
Um doce a mais e tudo desabaria na sua vida! Mas que arriscassem a invadir novamente e deixá-la pra trás mais uma vez, ela já estava preparada. Com sorvete, brigadeiro, refrigerante e uma caneta para assinar o atestado de óbito. Ela poderia até morrer, mas do amor ela não ia fugir, não mais! Nunca, jamais.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sem fórmula para NÓS

Há coisas que não precisam de explicação, a madrugada por exemplo. O amor, a vida.
Há coisas que se você for parar pra explicar acaba perdendo todo o sentido, toda aquela atmosfera especial, doce. Há coisas que não.
Tentar explicar o inexplicável é só uma perda de tempo comum, é só um desperdício de abraços, olhares e claro que é desperdício do bom e velho entusiasmo.
Aiai o seu silêncio.
Me afeta de uma maneira que eu gostaria que não afetasse, mas afeta.
E o seu olhar também, me flecha de um modo que vara de um lado meu ao outro lado já seu, queria eu que tivesse sentido.
Mas não, você desvia.
Aiai a sua ausência.
Me causa um frio que queria eu que não causasse, não é o mesmo frio que tempos atrás fazia você me abraçar, é um frio mais frio, mais mórbido.
Você não deveria tratar assim um coração que te cuida tão bem, nem desperdiçar assim as oportunidades que lhe são entregues de bandeja.
Aiai o seu gelo.
Nem me dá tempo de pensar e já está tudo tão encolhido por dentro, gelando os muros mais altos, as paredes mais rígidas e gelando também o órgão muscular oco. Seu gelo, me gela.
Ah se eu pudesse manipular todas essas coisas com as pontas dos meus dedos, tudo seria tão mais fácil, menos dolorido e tão... sem graça.