sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O valor que as pessoas dão, quase sempre me cabe no bolso.


- Pega o telefona, diz que me ama, diz que me adora, não me engana, vocÊ é tudo o que eu mais quero na vida... (8)

Todos os dias – sem exceção – ela vai àquela rua sem saída e encontra as mesmas pessoas, faz as mesmas coisas e isso nunca foi um problema, ela nunca reclamou. A rotina em sociedade onde a sociedade inteira se encontra satisfeita. Pouco possível, mas é verdade.
A priori, se ela chegava trinta, quarenta minutos após o horário que ela costumava chegar, era previsível o telefone tocar e do outro lado da linha alguém perguntar “Não vem hoje não, é moamor?”. Nessa época ela nem levava o dominó, não era por interesse não, era por afeto, por saudade que ligavam, por querer ver. E era assim uns com os outros.
E essa mesma menina passa a semana inteira estudando dois horários e à noite vai a tal rua, ela passa a semana inteira na expectativa de ter um fim de semana maravilhosa, sair na sexta e chegar no sábado, sair no sábado e chegar no domingo e sair no domingo e voltar na segunda, para recomeçar a batalha.
Essa noite, ela perguntou “Chico, você quer dormir?” ele insistiu que não, ela insistiu para tirar a dúvida e ele insistiu que não ia dormir, foi o tempo de um banho que o Chico caiu no sono. Às 22:00 hrs estava todo mundo brincando de lama, cada um na sua cama, e ela aos prantos querendo pular da janela. No final das contas ela chorou tanto que adormeceu, a menina chorou.
Em nenhum instante, n e n h u m instante alguém que ela pensou que talvez ligasse, ligou. O menos provável o fez, chamou para sair, lhe deu boa noite e um “Até amanhã”. Logo o Alex, o mais psicado, o mais esquecido, o mais problemático, somente o Alex ligou.
Algumas pessoas têm a mania de achar que as demais pessoas são apenas servidoras de sorrisos e bem estar, é ruim de acreditar, mas algumas pessoas precisam chorar também. Precisam e fica muito mais fácil quando essas pessoas vêem que estão sozinhas naquela situação, quando essas pessoas descobrem que gostariam muito de abraçar alguém, mas na verdade todos os alguéns possíveis e que realmente lhe interessam estão ocupados demais bolando um baseado, jogando dominó ou fazendo qualquer outra coisa que ocupe suas mãos e empeçam de efetuar um telefonema para oferecer um ombro amigo.
Essa peste dessa menina só queria sumir, somente isso. Queria abrir a porta sem fazer barulho, descer as escadas e nunca mais voltar, somente isso. Não seria nada tão escandaloso, demorariam três dias para sentir falta. Nem o Chico sentiria falta, ele é tão desligado, lhe dá tão pouca atenção que talvez três dias fosse até pouco demais.
É verdade, é verdade, eu concordo, ela nunca foi muito boa em relacionamentos, o fato é que ela realmente acreditava que ao menos desta vez seria diferente. Menina bobinha, colocando a mão no fogo e uma vã ilusão.
Pior que ela gosta do desgraçado, gosta mesmo, mas é que você sabe, conhecendo-a como conheço, acumulando as coisas como só ela acumula, mais uma sexta-feira em casa, mais uma ou duas pisadas no pé dela e ela nem vai esperar a madrugada para sair porta a fora e se voltar, SE voltar, só voltar depois que o sol se pôr pela décima sétima vez.

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