quinta-feira, 17 de maio de 2012



 Ela acordou com vontade de não acordar. Foi até a cozinha, desistiu do café. Foi até o banheiro, desistiu do banho. Foi até a janela, desistiu do pulo. Voltou para a cama e desejou que o destino enlouquecesse e que subitamente surgisse um buraco enorme por baixo da cama e levasse ela, cama, chão, dor, saudade e tudo o que tivesse ali para qualquer lugar sem volta. Não foi dessa vez. Então resolveu se entregar à realidade, levantou para a vida que não queria. Leu o livro que não queria ler, ligou para quem não deveria ligar, ouviu o que não DEVERIA precisar ouvir, mas precisava. Tentou fingir ser ela, mas ela é eu. Não deu.
“Você ficou chateada porque eu falei isso?”
Claro que não, fiquei chateada porque eu JÁ sabia disso e precisei que alguém me dissesse para eu deixar de ser otária. Por isso eu fiquei chateada, com você nunca.
Eu sei que eu sempre brinco, e pela primeira vez eu não sei até onde vai essa brincadeira.
Portanto desde então não surgiu buraco algum embaixo da cama, mas a sensação é a mesma. A de cair para um lugar sem volta, sem força alguma, sem razão nenhuma, sem raciocínio lógico.
“Você ficou triste?”
 Não, eu continuei assim. Continuei porque o botão de ‘on-off – Made in China’ não existe e não tem como desativar isso tudo e simplesmente viver minha vida como se nada disso afetasse meu estado de espírito.
 Foi erro meu. Foi porque eu tenho que aprender que nada disso é fantasia, que a realidade é árdua e que se eu me entregar ao sono o mundo me engole. Esqueçamos os filmes, os livros, os contos durante o dia. Todo mundo deve fazer isso: imagina situações, cria diálogos, sentimentos, respostas, textos, histórias. Cria que ama e que é correspondido, e cria o que falaria, o que falará quando aquilo acontecer. Então quando não acontece vem a decepção, o rancor, a tristeza e culpa alguém que não tem culpa! A gente culpa quem não tem culpa para não se sacrificar mais.

Decepção

de-cep-ção

s. f.
Engano; logro; desilusão; desapontamento.f.
Ato de enganar. Logro. Surpresa. Desilusão.

Aprendi a não me decepcionar, a não confiar, a não esperar, não contar com ninguém. Foi isso o que aprendi, aprendi que até minha sombra me abandona no escuro. Aprendi que ninguém morre de amor, vive por ele. Que saudade machuca, mas não arranca pedaço. Que a vida é complicada, mas sempre vale a pena.
 Eu aprendi tanto sobre isso tudo, que quis te ensinar e você não deixou. Então foi aí que aprendi que há coisas que precisamos guardar para nós mesmos, que há pessoas que por mais que pareçam valer muito a pena, é preciso estuda-las antes de guarda-las no coração.
Pelo amor de deus, me deixa em paz.

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