quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Trote de um traficante.


Deveria ser... Sei lá, 21:30, 22:00. Era sexta-feira, disso eu tenho certeza. Sexta-feira, dia 4 de dezembro. Eu estava pronta para tomar um belo banho e cair no mundo, como em todas as sextas-feiras. O telefone sobre a pia, tira a roupa, pendura a roupa suja para jogar no cesto de roupa suja do banheiro social porque se deixar no da Miss Mag alguma coisa não vai dar certo no futuro. Aí o telefone tocou, o número não estava salvo na agenda e ligeiramente pensei que fosse engano.
- Alô? Quem é?
- É a Jucy... Espera, quem é?
- É o Ronaldo! O Ronaldo do Tabuleiro!
Foi a partir deste “Ronaldo do Tabuleiro” que começou toda a confusão. Eu de frente para o espelho, perguntava se por acaso eu conhecia algum Ronaldo, mas apesar da memória sempre fraca, era uma certeza, não conhecia. Sei que ao desenvolver da conversa, esse tal deste Ronaldo começou a alterar a voz e acelerar a respiração, e pronto! O estranhou surtou. Perdeu o domínio sobre si, era um desvairado sem saber o que dizia a alguém que não conhecia pelo telefone que nem sequer era dele. Isso mesmo, além de tudo estava gastando os créditos de outrem para fazer uma – suposta – brincadeira sem graça e sem sentido. Ele pediu aos berros para eu parar de destruir a família dele e parar de ir comprar drogas diretamente em sua casa. Vê se pode? Pediu para eu parar de bater na porta dele todos os dias para comprar minhas drogas porque ele estava ficando com uma imagem ruim. Imagem ruim, quem já viu um traficante ter imagem ruim? Mas quem já viu, meu Deus? No Brasil é tão natural. -Eis a ironia.
Pois bem, o Dodói do juízo ressaltou que se eu voltasse lá outra vez ele iria meter bala. Com essas palavras! M e t e r b a l a. Como faz? Minha sexta-feira mal havia começado e já estava terminando com uma ameaça de morte safada por uma pessoa maluca e que estava em uma provável abstinência profunda.
- Meu querido, eu não compro drogas. Tem certeza absoluta que você ligou para a pessoa certa?
- Absoluta! É a Jucy, a cabelo de fogo! Eu passo de moto e te vejo, ontem mesmo te vi conversando com uma pivetona na frente de casa.

Jucy? Cabelo de fogo? Pivetona? Será que esse cara me conhece de verdade? Mas eu nem compro drogas a ele. Mas eu nem compro drogas! Será que só me viu em algum lugar? Mas e meu número? Como ele conseguiu? Pivetona? Que linguajar é este?


- Eu vou mandar uma carta para a sua mãe e seu pai para eles saberem quem você é.
- Meu pai? Se encontrá-lo me dá um toque, faz um bom tempo que não o vejo. – Pensei.

E a conversa ia ficando cada vez mais tensa, eu falava cada vez menos, ele ficava nervoso cada vez mais. Não perguntava nada, só reclamava, ameaçava, falava bosta. A ligação começou a cortar e eu pensei que fosse uma investigação da polícia. Para que? Eu nem sou uma criminosa. Vai ver queriam pegar esse maluco. -Mas que pena, é um problema dele.
Em seguida eu desliguei o telefone, liguei para a Miss Mag e ela não me deixou sair nesta noite, também pudera, não dá para confiar em uma mente insana como a dele.
Com o tempo eu fui juntando os fatos, os pedaços pequenos e juntando e juntando e juntando e cheguei a alguém. Repare só, cheguei a alguém que tem o mesmo nome, a mesma moto, trafica a mesma porcaria e só me viu uma vez. Ele quase se fodeu, não era ele, foi um trote filho da puta e o envolveu de graça. Já pensou? A polícia batendo na porta dele por causa de um trote e o cara ser preso por um desentendimento e eu ser morta por saber que os capangas dele não iam deixar barato? Sabe qual foi a sorte? Minha identidade sumiu nesta noite. Como eu faria um Boletim de Ocorrência? Como provaria que eu era eu sem a porra de uma identidade? É, se salvou, Ronaldo.
No dia seguinte o Chico ligou para o número:
- Alô? Quem é?
- É Alexandre... Quem é?
- Rapaz, ontem ligaram deste número, um homem chamado Ronaldo. Você conhece?
- Brother, nunca ouvi falar. Deste meu telefone?
- Exatamente, este Ronaldo ligou ameaçando a Jucy.
- Brother, conheço não, véi.

Véi? Ele disse Véi? Que linguajar é este?
Tsc... tsc... tsc... Resumindo a história. Enchi o saco deste cara, acendi um cigarro e fui jogar dominó, afinal, quem não deve, não teme.

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