sábado, 14 de agosto de 2010

Sobe no avião e vamos dar um rolé


Passei a tarde inteira cantando umas músicas da Ana Carolina e lembrando de ti. Fiquei tentando me decidir se ensaiaria um show para quando você chegasse, se faria um show para um público qualquer e depois te contaria, se cantaria no teu ouvido ou se dedicaria aquela canção para você. Sei lá. Resolvi não mais decidir e acabei cantando para mim em frente ao espelho, assim ninguém me ouviria e também não diria “eu conheço essa canção”, assim não lembraria mais de você, assim não sentiria tanta falta de você. Talvez se eu fugisse um pouco mais de você eu nem lembrasse que você existe em algum lugar do mundo. Não me parece divertido e nem satisfatório, mas é o que posso fazer em pró da minha paz.

Eu não queria olhar para a minha cama e ver que você não estava lá. Eu sei que isso pareceu meio homossexual, mas é que você sempre ficava sentadinha ali enquanto eu fazia qualquer coisa, sempre estava tão pertinho, tão pertinho dizendo “ok, ok, muda o repertório, está cantando tudo errado”.
Mas e daí? Deus, e daí? Você sorria e parecia que era o suficiente, eu não precisava de mais nada, absolutamente nada além do seu sorriso. Daí então eu cantava “nada ficou no lugar, eu vou quebrar essas xícaras” e você ria de novo e me chamava de boba, eu cantava “xícara” com o teu sotaque, que idiota. Mas eu via graça em tudo quando você estava, você era tão linda e tão perto de mim, tão mimosa, tão doce, tão, tão, tão sentada bem ali! Tão aqui, tão perto, tão você, tão eu, tão nós. E agora somos tão aqui e aí, aqui e acolá, lá, tão longe, aqui tão perto, ainda nós, mas tão distantes.

Vem cá, de onde você veio hein sujeitinha de merda? Por que você veio se sabia que ia ter que ir embora depois? Por que chegou aqui, roubou o coração de todo mundo se sabia que quando fosse embora você iria para tão longe? Por que não faz algo por nós? Por que não manda um carta? Não chega de repente? Você é estranha mesmo, faz coisas estranhas mesmo, compra cigarros sem ser fumante, bebe sem ser alcoólatra e joga sem saber jogar. Diz que não ama sabendo que ama e finge que ama para aprender a amar. Você é tão única, tão você, tão minuciosa, tão cautelosa. Tudo seu é tão seu, tão exclusivo, tão somente seu que até dá ciúmes quando vejo outra pessoa fazendo o mesmo.
Corrige meu alemão sempre tão arranhado e esquecido, inventa uma receita qualquer, doce, salgada, com molho, sem molho, uma praia. Quer um chá? É chá verde porque gente gorda tem que aproveitar as oportunidades para tomar chá assim. Então um café, um café você aceita, usa Sensodyne para depois clarear os dentes. Hahaha. Vamos comer cuscuz, princesa, abriu uma cuscuzeria bem aqui ao lado, dá para acreditar? Um lugar que só vende cuscuz enquanto eu ouço o tempo inteiro “cuscuz eu como em casa, porra!”. Mas vamos, eu te pago um cuscuz com café e você me paga com uns sorrisos de leve e uma companhia agradável.
Eu sinto falta, porra, sinto uma falta danada das piadinhas sem graça e da Bárbara mostrando os dedos pequenos. Parece até que fui eu quem me mudei. De tarde eu quero fugir um pouco da rotina e te ligar para te dizer qualquer coisa, ou chamar para ir sentar na beira da praia e contar as ondas.

Vem tomar banho de piscina, aqui no prédio tem uma, eu sei que você vai gostar. Vem, vem, eu coloco uma música legal para tocar e a gente tem permissão para ficar ali até 17:30, dá tempo para se divertir. Depois a gente pode jogar sinuca ou totó, garanto te dar trabalho.
A gente pode voltar para casa e fazer um bolo, um bolo de banana – porque é só o que eu sei fazer .
Ah, eu posso fazer um chocolate quente para você não se sentir tão longe de casa.
A Bárbara faz as batidas para que mais tarde nós não saibamos quem nós somos por pelo menos umas duas horas e amanhã de manhã a gente pode fazer tudo de novo. Inverter a ordem dos fatores. Cuscuz no café da manhã, piscina, almoço, bolos e batidas. Parece legal agora?
Vem, princesa, senta à mesa que esse lugar é seu.
Eu morro de saudades, morro! E morrerei quantas vezes for necessário, até você voltar.

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