segunda-feira, 2 de março de 2009

O silêncio que me sufoca.


De sorriso em sorriso foi me apaixonando. De palavra em palavra, abraço em abraço, olhar em olhar. Ah, inferno. Mas é do outro – a quem devo grande parte dos sorrisos que eu consegui sorrir sem esforço algum – a posse de um coração tão belo.
E enquanto ele caminha de um lado para o outro, falando uma bobagem ou uma teoria que seja, eu observo de um lado e o outro observa do outro.

E como quando avalia-se uma arte, uma pedra preciosa, vieram as perguntas insensatas e claramente sem respostas, e a atenção focada em cada mínimo dos mínimos detalhes.
Como consegue ser tão belo? Do menor ao maior, dos detalhes às controvérsias, das manias amáveis às manias odiáveis, ele é sempre tão bonito assim, mesmo quando acorda com mal humor, dorme com mal humor, conversa em silêncio, desenha bem calado, canta sem saber cantar, não dança, mas sabe dançar. Ele é sempre tão lindo. E tem sempre essas covinhas quando sorri que faz perder a razão entre o brilho dos olhos, os dentes bem alinhados e o conjunto - aiai, o conjunto.

Ele nunca perde a linha? Nem fala errado? Nem escreve errado? Nem escuta música ruim? - Ah, isso ele escuta sim, quase nunca, mas escuta que eu sei!
Ele é lindo, sim, é lindo. É dono de uma beleza rara, uma obra de arte da natureza.

E tão distante, e eu queria não querer senti-lo mais perto, queria muito não querer estar abraçada com ele a noite inteira, mas eu não consigo. E para ser muito sincera, depois de tantos desvios de olhares, eu não faço o mínimo esforço.
E enquanto ele está por perto, tudo vira paraíso. Todo o céu fica limpo, e até quando não tem música, eu escuto violinos empolgados contemplando a presença deste homem que eu bem sei como é almejada.
Eita, essa vida é mesmo uma brincadeira de criança. Eu brinco, brinco, caio, me ralo todinha, depois levanto e brinco, brinco e recomeço o ciclo, sem nem perceber direito.
Pois é, enquanto isso eu não tenho dúvidas de que também amo o outro, o outro que eu não gostaria de chamar de outro por ele ser ELE, amo sem ser amor passional, amo por ter plena consciência de que depois dele meus passos nunca mais foram os mesmos. São cada vez mais firmes, mais certeiros, amo por amá-lo, por saber que ele é alguém impossível de não amar, amo por não ter outra opção e se eu tivesse eu escolheria essa mesma, eu o amo e viver sem ele seria uma missão impossível.
E ligeirinho meu coração dispara, tum tum tum tum. O fulaninho está chegando, mesmo timbre de voz, mesmo olhar, mesmo cheiro – aiai. Mas o timbre está guardado, a voz abafada...
- Fala comigo!
Ele bem sabe que eu não suporto ver a boca dele tão perto e nem sequer ouvir um som. Nem um ruído? Nem sequer um saudoso Boa tarde para começar?
- Fala alguma coisa!
- Estou falando!
- Mentira! Está me enganando com seu olhar misterioso, avassalador. Fala direito!
- Estou falando!
- Mentira, está me encantando de novo! Pára com isso!
- Parar com o quê?
- Com isso! Está me apaixonando!
- Eu não sei parar!
- Aprenda! Pára!!!
Ele não parava, o coitado, realmente não sabe como fazer parar, ele não tem o que fazer. Ele nem sabe o que está fazendo de diferente, mas é esse o X da questão. É sendo ele mesmo que me encanta, cada vez mais e mais e mais e o outro ali, sem nem saber de nada que se passa por aqui. Eu sou asquerosa às vezes.
Gostaria mesmo era de arrancar o coração com uma das mãos e dar para o Pitu comer, aquele cachorro maluco que corre adoidado. Vai ver ele gosta, ainda não chega a ser um pedaço de bife estragado. Coração dilacerado por coração dilacerado, então que mate uma fome!
Pois bem, o coitado dirigiu o carro com o olhar somente preso na estrada por bastante tempo, com medo de falar qualquer coisa e a insana aqui se descontrolar civilizadamente. Eu queria amenizar a situação de alguma maneira, mas como? Se tocava uma música, eu cantava, enquanto ele só aumentava ou diminuía o volume. O outro segurava na mão dele ou fazia qualquer tipo de carinho que me fazia virar o rosto e procurar o prédio mais alto – não sabia que tinham tantos prédios com 7 andares na cidade.
E novamente eu me sentia um lixo, não era completamente culpa minha, mas eu estava apaixonada pela pessoa errada... Não, conhecendo-o como eu o conheço, - para ser bem honesta - eu estava mesmo era apaixonada pela pessoa certa, mas no instante errado, na vida errada, da maneira errada, sempre errada como só eu sei ser muito bem. Era o inferno partido em cubinhos para eu me alimentar no jantar.
E assim seguíamos, ele ia voltando ao normal, se acomodando em meus braços sem nem sentir, ia ficando à vontade novamente e de repente já estávamos rindo novamente, como era de costume. E eu sem perder as estribeiras, amando calada, em um silêncio que até dói nos ouvidos.
A sintonia entre a gente é a mais linda de todas.
Poderíamos nos completar caso eu não fosse peça em excesso nessa montagem, ah, o amor. O dono das minhas dores e dos meus confortos, da minha paz e da minha agonia. Aiai, o amor.
E quando ele se afasta por um tempo qualquer, refiro-me a minutinhos, eu fico paquerando-o com o outro. E o outro o elogia, e eu concordo, querendo acrescentar alguma coisa, mas nunca posso, então me calo e imagino, e falo comigo mesma, e conto para o canudo esquecido em cima da mesa ao lado, e me sinto suja de novo.
- Ele é lindo, não é?
- É, o mais lindo de todos.
E tudo vai seguindo como se nenhuma dor estivesse ocupando nenhum corpo naquele momento, como se o mundo fosse só nosso, como se eu fosse a cabeça que deita no terceiro travesseiro, ou talvez como se eu nem coubesse na cama.
E o outro – Mo cuishle – não deve saber de nada, mas às vezes fica triste - Suponho que também sem saber bem porque. E eu queria muito que ele fosse a pessoa mais feliz do mundo, que ele se sentisse realizado, mas eu não tenho muito o que fazer, e acabo ficando triste com ele, seja lá qual for o motivo.
E então, terminamos os dois por ali. Parados, tristes, olhando para o mesmo ponto fixo, fumando um cigarro e apaixonados pelo mesmo homem.


Nenhum comentário: