segunda-feira, 6 de abril de 2009

Brenda.

Arrumava-se toda acreditando plenamente que ia encontrar Brenda. Com os olhinhos colocando fogo em lampiões de tanta ânsia, as mãos não paravam quietas e o coração sozinho daria conta da Banda de Chico Buarque, bonito para quem senta e assiste, dolorido para ela que sente e insiste. Disso eu tenho certeza que sim, seus olhos transmitiam dor.
E se ela chegasse com tanta pressa e tanta euforia e descobrisse que Brenda não tinha ido? E se quando ela chegasse com tanta pressa e tanta euforia e Brenda não lhe desse a mínima importância? É difícil engolir a seco, mas não há muito o que fazer.
Ela usava o perfume mais cheiroso do armário, passava aos montes até começar a espirrar. Porque ela queria que chegasse a noite e ela ainda estivesse cheirosa, mas Brenda não percebia. E ela mudava o penteado, retocava a raiz do cabelo, falava algo mais interessante e Brenda nunca reparava, por que ela queria tanto ver Brenda naquela noite? Brenda nem se importava.
Ela era até uma boa garota. Era forte, resistente e o melhor: Fingia muito bem. Mas nada escapava aos meus olhos.
Vez ou outra eu a pegava respirando fundo, trocando os pés pelas mãos e quando eu pedia a sua mão, estava sempre muito gelada, com os nervos a flor da pele, quase sendo expelidos pelos poros.
Por que ela tinha que amar logo a Brenda? Esta que nunca a olhou nos olhos em uma conversa, esta que mal sabia o seu nome, esta que nem fazia questão de saber o seu nome. Coração idiota da porra o que ela tinha.
Mas era assim, não tinha muito o que fazer. Era uma paixão que parecia que não ia mais acabar, ia consumindo partes imensas de onde quer que estivéssemos, ia iluminando o chão durante a noite e o céu durante o dia, e Brenda não se importava.
E quando ela descobrisse finalmente que Brenda nunca iria se importar?
E também que Brenda já tinha uma namorada e era fiel aos seus sentimentos? E quando ela descobrisse que Brenda nunca lhe deu valor porque ela não significava nada para a loura? Eu não quero nem saber. O problema é que ela também não queria nem saber, se ia doer, se ia sangrar, se ia tirar o fôlego, se ia ficar para sempre no subconsciente, se ia fazê-la chorar, se ia tirá-la do eixo, se ia fazê-la não querer mais ninguém e em nenhuma possibilidade. Ela não queria saber se ia passar sete dias e sete noites deitada em uma cama que não se importava com ela tal qual Brenda, não queria saber se ia andar pelas ruas sem saber para onde ir e esbarrar com pessoas que não se importavam com ela tal qual Brenda. Se ia encontrar pessoas que também já amaram Brenda e ficaram na mesma situação e nem queria saber o que essas pessoas fizeram para sorrir novamente. Eu tinha medo de vê-la morrer por dentro, tinha medo de saber que ela não fazia mais questão de muita coisa tudo por causa de uma desilusão amorosa e/ou uma ilusão sádica, que ela daria tudo para continuar vivendo ao menos um pouquinho mais, jurando que era feita de ferro.
Pobre menina boba, ia andando e deixando pedacinhos dela pelo chão, já estava completamente desfragmentada, procurando um lugar para sentar e nunca mais sair dali, procurando um lugar para se esconder e depois nem ela mesma conseguir se achar, tampouco Brenda.
E o pior de tudo, era eu ter a plena razão de que em nenhum instante ela era possessiva, em nenhum instante ele ajoelhou-se aos pés de Brenda e em nenhum instante ela deixou Brenda saber de alguma coisa, ela preferiu morrer sozinha, com a dúvida de se a Brenda poderia um dia olhar para ela e enxergá-la verdadeiramente, tinha medo de ter certeza de que para Brenda, ela não passava de uma atriz insensata. E realmente não passava.
E ela chegava sempre sorrindo um sorriso amargo, fingindo que estava tudo sempre muito bem, e Brenda – para variar – não estava dando a mínima importância.
E quando ela descobrisse que Brenda era grande amiga do seu ex-namorado? Não que influenciasse em algo, mas talvez fosse um bom motivo para iniciar uma boa conversa, mas Brenda nunca tinha tempo para bater um papo. Caralho, Brenda era difícil.
Eu sei que enquanto eu a observava, eu ficava pensando em milhões de coisas, como em o que ela faria caso Brenda chegasse do nada e lhe desse um beijo. É como um cachorro que vai correndo atrás de um carro em velocidade, mas provavelmente não saberia o que fazer caso o carro parasse. Não que ela fosse um cachorro, enfim.
Até que desta vez ela está em um equilíbrio invejável, esta noite ela chegou no curso e ficou no pátio enquanto não começava a aula. Parecia que o coração ia sair pela boca, estava com os nervos a flor da pele, então sentou bem distante e fingiu estar copiando uns assuntos. Isso porque ela quase arrumava uma briga no ponto de ônibus, mas respirou fundo e seguiu. Eu só estava esperando a hora de vê-la jogar tudo para cima e ir embora, sem nem um Boa noite e tampouco um “Olá, Brenda.”, ela quase não queria nem saber.

Ela até descobriu que já houve outras garotas que quiseram Brenda, mas ela foi a única que quis tanto, tanto querendo dizer DEMAIS mesmo. E para Brenda, ela é só mais uma na multidão.
Será que ela não tem vontade de mudar isso? Será que ela vai ficar nisso por muito tempo? Ou só até Brenda chegar e falar que não agüenta mais isso tudo e precisa dizer que não quer nada com ela e que ela precisa mesmo se libertar? Será que ela espera que Brenda vá até ela dar essa lição? Espera mesmo? Queria ter mais intimidade para chegar mais perto e dizer que Brenda – de fato – não está nem aí para ela. De novo, para firmar, nem aí.
Depois ela acabou se distraindo, dois amigos perguntaram o que havia com ela por estar com olhos tristes e ela disse que era sono. Sei o sono dela, queria mesmo era dormir para sempre.
Mas é assim mesmo, eu sei que ela nunca mais vai se apaixonar por nenhuma outra garota, eu quero dizer com muita franqueza e sabedoria que se não for a Brenda não será mais nenhuma em todo o mundo.
Como dizer para ela que Brenda realmente vale a pena, vale uma dor, mas não todas elas? Como dizer à ela que existe milhões de mulheres tão bonitas, engraçadas, carismáticas e todos os adjetivos minuciosos que só ela sabe ver em Brenda e poderia existir nas demais, em todo o resto do mundo?
Mas se bem que não adianta, eu vejo nos olhos dela o tempo inteiro que se não for Brenda, não será mais nenhuma, nem uma sequer, pela milésima vez.

Eu via.
Desculpa, eu via, eu não vejo mais.
Ela só queria mesmo era um motivo realmente importante para descansar em paz.

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