quarta-feira, 10 de junho de 2009

Um esparro estranho e invisível.




Aí agora ela é estranha. Passa desapercebida, invisível. Um espaço gigante ao lado dela e o lugar mais apertadinho parece mais confortável. E se antes lhe sorria, nem isso. Vale nada, nem um “boa noite”, um cumprimento, uma palavra qualquer. Vai embora sem nem olhar para trás, “que se foda” deve pensar. Ela já apanhou muito na porra da vida, já caiu feio com a cara no chão e levantou. Reagiu como quem tinha tropeçado, como quem tinha machucado a perna em um espinho daquelas plantinhas safadas que ficam nos cantos dos bancos esperando o primeiro otário para se machucar. A menina ficou invisível de um jeito que nem eu mais vejo. Se há motivos? Motivos? Dê-me um, meu jovem. Um só para que eu possa chegar aqui com palavras mais límpidas e explicar o que está acontecendo, nem isso, nem isso!
Aí ela começou a espirrar, os olhinhos chega estavam pequenininhos graças a fumaça que o tempo inteiro ia beijar seu rosto e sem nem pestanejar ficou agachadinha procurando um tal de um pino que o mocinho simpático tinha deixado cair no chão. Era em vão, de um outro ângulo. Afinal, o pino era pequeno, afunilado, marrom e perdido em um chão cheio de galhinhos pequenos e marrons, areia que por sinal era marrom, um chão escuro e para completar, sob nem mesmo a luz da lua. Tinha gente impedindo a visão. E ela lá, procurando sem nem saber o quê. “Como é o negocinho que caiu no chão?” Dois minutos de silêncio, chega o outro e “Como é o negocinho que caiu no chão?” e consecutivamente a resposta que ela esperava e que vale constar que não foi dada. Ótimo, ele além de cego, é surdo. “Você não me ouviu perguntar? Custava responder?” e é claro que a resposta não foi a mais bonita “Você nunca vai achar.” O NUNCA foi o que entupiu a garganta já travada da alergia. NUNCA? Ah, vai tomar no cu. Com toda a quase nada de sutileza que pode haver nessa expressão. Vai tomar no cu!
Mas ela foi calma, repare só, foi calma! Agradeceu e continuou a procurar, não encontrou. Mas se ela tivesse uma lanterninha ela encontraria, tenho certeza. E alguém se importaria? Não, ninguém. Pois bem. - Levanta daí, menina. Deixa essa porcaria para lá.
Ele nem para perceber que ela mudou de perfume e que o atual parece ser bem melhor que o antigo, nem isso. Nem o cheiro dela ele sente mais, e ela odeia.
Invisível. Porra, invisível?
Vamos, imagine. Você ama um alguém, ama de um jeito tão forte que parece que nem vai lhe caber, ama. Não sabe de onde vem esse amor e não quer nem saber, apenas ama. O outro lhe é amoroso, não lhe dá as esperanças devidas, mas meu deus, ele te vê. Ele te toca, te abraça, ele fala com você ou no mínimo dos mínimos responde quando você fala com ele e de repente... Nada. Bosta nenhuma, de repente é como se você fosse uma pessoa desconhecida, d e s c o n h e c i d a. Você merece uma explicação, não merece? Claro que merece. Uma breve explicação, um motivo, uma causa, uma circunstância, você merece uma meia frase que possa te deixar claro o que você quer realmente saber. Nada. N a d a . Porra nenhum, caralho nenhum. Entendeu? Nada.
Aí dizem que a pobre da menina é grossa, fala palavrão, mas porra, quem nesse mundo ia achar bonito? É, fala mesmo, mas não perde as estribeiras. Não grita, não chora, não reclama e finge que está aceitando isso numa boa. Numa boa uma porra, ela quer mesmo é que o mar todinho exploda para comer peixe assado, quer uma façanha, um desejo concebido mesmo que depois da tragédia. Além do mais, como dizem por aí, meninas doces só servem para juntar formigas.
Sim, mas aí ela fingiu que nem viu, nem sei como, mas fingiu. Ele ia embora e ela sempre ia embora com ele, alguns moravam tão perto quanto, mas só ele lhe era tão agradável, só com ele ela se sentia tão segura. Quem já se viu? Segura ao lado de alguém que não quer nem ouvir falar seu nome, nem tocar seu ombro, nem abraçar seu abraço que foi sempre o mais sincero. Ela que nunca se humilhou, mas nunca negou amor. Ela, a otária, que sempre velou seu sono, sempre enriqueceu o espírito com alegria com um sorrisinho bobo dele. Ou a amante, não tão otária, apenas amante.
Enquanto ele abraça com tanto calor aqueles ou aquelas que vivem lhe difamando, falando mal, reclamando disso, chiando quando falam sobre ele e essas coisinhas de adolescente. A vida é mesmo uma comédia. UMA COMÉDIA. Primeiro que ela não entende como podem falar tão mal de alguém e no fim das contas dizer que ama. Não é criticar. Criticar, todo mundo critica. É falar mal, dizer que ele é aquilo, aquilo e ainda aquilo outro lá. Aquilo outro lá é o pior, mas sempre falam, ela sempre escuta, sempre defende, sempre reclama por falarem mal e aí se torna o alvo. Não que ele precise de uma advogada de defesa o tempo em que não está, mas é o mínimo que ela pode fazer.
É, a menina invisível ama visivelmente e é deixada de escanteio. Ela só queria que ele a amasse também, ou que ao menos se permitisse poder sem querer querendo amá-la. Mas ele é um estúpido e se essa estupidez valesse um real, ele teria um real. Já seria contribuição para o cigarro. E se a arrogância do rapaz valesse para a garota um mísero real, ela também teria um real, e já seria contribuição para a água que todos querem depois que o dinheiro todo e de todos tem acabado.
Contudo, ela só queria saber por que. Não só isso, mas ao menos isso.
É difícil para ela talvez por nunca ter aberto mão de nada e tampouco de ninguém, por sempre acreditar em algo que quis muito e não querer saber se muito depois ia quebrar a cara, só queria saber de viver aquele momento.
Chegou em casa fodida, claro. Sorrindo sempre, mas na verdade não queria estar com ninguém, queria estar sozinha no canto do quarto e viajando nas idéias idiotas que ela tem quando não tem ninguém por perto. Ou o inverso, queria estar com quem mais ama para poder abraçar, inclusive com ele.
Oito ou oitenta, às vezes nada. E bem, não quero mais falar sobre ela.

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