segunda-feira, 1 de junho de 2009

Cabum, maestro!


Então fui te percebendo cada vez menor, você estava se distanciando aos poucos e eu queria mesmo te envolver com uma corda e te prender a mim, mas você não queria, não deixava, então joguei a corda no chão e te olhei ir embora. A vontade maior era de envolvê-la em meu pescoço e enlaçar a outra ponta no seu tornozelo, para nunca mais nada me doer como eu senti quando vi que nós nunca mais seríamos para sempre.
Contudo, você foi. Mesmo ainda estando ao meu lado. E quando começava a falar, a voz era cada vez mais baixa e o eco era cada vez mais límpido, parecia que o mundo estava vazio e só restávamos nós dois. E eu com aquela vontade sádica de arrancar o sentimento do peito e jogá-lo no mundo com a esperança de que ainda houvesse vida, vã ilusão. Só fez o favor de me sufocar lentamente, uma lentidão de gelar a espinha. E de repente ia embora de novo, quando falava algo que eu definitivamente não gostaria nem um pouco de ouvir, e desta vez nem para olhar para trás, para acenar com a mão ou para deixar na memória um olhar misericordioso que me fizesse acreditar que você estava indo pela razão e não pela emoção, para me fazer acreditar que a vontade que gritava no seu peito era a de ficar ali comigo, por todo o sempre.

E algo explodia, aí eu caía na realidade. E você dizia “olhe para mim quando eu estiver falando, porra” e eu olhava, e via nos teus olhos um vazio sem tamanho, e eu continuava te olhando, e te ouvia bem baixo, bem longe, bem onde o vento faz a curva e volta depressa para tirar as folhas secas do lugar.
Eu queria mesmo era encontrar algum jardim, ou alguma rosa, ou alguma lua ou qualquer outra coisa ali dentro, naquela imensidão de nada e nunca via nada, nunca encontrava nada. O paraíso estava escondido nos teus olhos e você nem para me explicar as artimanhas para encontrá-lo sem tanto nervoso de não encontrar em nenhum outro lugar.
E algo explodia de novo, mas desta vez era a sua garganta dando sinal de vitória. Como você gosta de gritar, meu amor. Eu já estava te ouvindo, “nenhuma moto tem cano de escape do lado esquerdo, a não ser que tenha dois, aí sim ficará um do lado direito e o outro do lado esquerdo”, eu sempre te escuto, é que às vezes eu gosto mais de te olhar.

E vou olhando e olhando e me perco nas curvas do teu machucado, os arranhões, as cascas, o sangue que teima em querer fugir, mas a derme não está mais sozinha e a epiderme vai criando forma, e o sangue fica lá preso, mostrando a cor para chamar a minha atenção. E vou seguindo as listrinhas, até onde elas chegariam, até onde elas chegaram, porque elas conseguem ficar com você o tempo inteiro e eu não. Embora elas uma hora ou outra vão ter que ir embora para sempre e se fosse eu não ia querer nunca mais cicatrizar.


E outro estouro, dessa vez foi você ensinando qualquer coisa, e eu tiro o foco do sangue e coloco o foco em você e no sonho, o de sermos um só. E sua voz começava a se distanciar e eu começava a pensar em milhões de coisas. Nos risos intermináveis que você me trazia, no cheiro bom do seu pescoço, no sorriso que iluminou toda a minha trajetória já traçada e mais ainda a que eu pretendia/pretendo traçar, nas mentiras, nas verdades, nas mordidas que muito doíam, mas que nem se comparavam às dores da alma. Nos cuidados, na vontade de dizer para você que você é a pessoa que eu mais amo neste mundo e que se todos os homens se pusessem sob meus pés, nenhum seria homem o suficiente para me fazer completamente feliz, exceto se este homem fosse você. Mas não, melhor manter meu silêncio e observar o seu movimento das mãos.

E lá gritava outro estouro no meu ouvido, era você me ensinando a cantar aquela música do Sabotage, “menina Leblon, vermelho batom, foi vista com o Joe malhando na praça. Sabot Canão convoca no som a paz dos irmãos em toda a quebrada. Sabotage nan nan nan” e eu até aprendi uns versos, até aprendi a fingir que enjoei de te ouvir cantar isso. Então eu me perco novamente, mas desta vez é a sua voz, ela vai fazendo uma melodia tão bonita, ela vai ligando um desejo a outro e vai virando uma corrente bem longa, que mais parece que nem tem mais fim. Vai, maestro, decifra o som da minha lágrima que escorre e cai no chão, decifra o som do meu suspiro, do meu sussurro, do meu silêncio. Faz uma música, maestro, faz uma música. Segura o riso, segura o fado, eu construo teu mérito em meu sorriso, amor, eu faço explícito o teu mérito em meu sorriso.

Cabum! Foi você de novo, acertando a carteira de cigarro na minha testa. Nem doeu, mas é claro que eu fiz drama para exigir carinho. E você ficou do tamanho normal, nada de menino distante, nada de menino pequeno. E por estar tão perto, não deixa esse meu riso cair. Nenhum chão suportaria o peso, é ternura demais para segurar em uma queda só, então também não deixa ir caindo aos poucos, não deixa, maestro, não deixa.
E você inventa de sorrir de volta, e eu vou seguindo o delírio da graça, que vai subindo e subindo e até parece que consegue tocar o céu, perde-se entre as estrelas, entre uma nuvem e outra, entre uns sonhos que voa e outro e depois encontra de novo os teus lábios, e me rouba para si.
Nem deu tempo de enterrar minhas dores, nenhum buraco é tão fundo para que caibam todas elas, mas há cura mais rápida que o sorriso que brota dos teus lábios seja lá por qual motivo?

Boom! Porra, de novo. Não precisa gritar, mas dessa vez eu entendo, foi gol do Corinthians.

Muito embora futebol no século XXI seja sinônimo de dinheiro, ninguém mais joga pela camisa, mas quem disse que eu me importo? Prefiro vibrar o seu entusiasmo, a sua euforia que treme bancos e quarteirões, como gosta de gritar o meu menino.

E bem, o jogo acabou e você já deixou para lá. Então continuamos sós no mundo, eu desejando ter você mais perto, te amando como nos contos de fadas e você sem ter a mínima idéia. Mas aí já é noite, a gente vai dormir. Eu aprendi a chorar em silêncio e você aprendeu a fingir que não vê. E durante a noite não tem Cabum nenhum, mas vez ou outra eu desperto por alguns minutos para te olhar dormir e dizer que te amo, é quando eu falo sem ter medo, amo sem ter dor. Você comigo e qualquer lugar é lugar.

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