domingo, 18 de julho de 2010

Jogue suas mãos para o céu...

Eu queria dizer para ele parar com essas coisas, mas o apelido que havia ganho o fazia se sentir bem. Ele sempre soube que não era, sempre soube que na verdade verdadeira mesmo, era só mais um prestes a morrer ou ser enquadrado. Pow pow pow! Era o hino de todos os dias.
Lindo, lindo, ele era lindo. Tinha um sorriso de causar inveja em qualquer outro fumante, uma inteligência que silenciava qualquer bobalhão que quisesse se aproximar querendo ser o melhor do pedaço, mas o espertinho voou baixo. Era – relativamente – o filhinho de papai, tinhas costas quentes, fazia merda, mas tinha quem limpasse depois. Já tinha feito outras merdas fedidas num passado não muito distante, mas enfim, não estou afim de falar no assunto.
O fato, o fato mesmo é que o gatinho está se perdendo na vida fácil. Universitário federal, o Barão do tráfico desapareceu da vida social, e eu sinto falta.
Sinto falta dos beijos e abraços e das tantas vezes que arrancou sorrisos meus.
Eu tentei dizer para ele que isso não leva a nada, que ele deve parar de decepcionar a dona Fulana que já está morta há anos e que ainda assim espera um orgulho do único filho, mas caralho, ele diz que não se importa e eu sei que chora todas as noites sentindo a falta dela. Ele sente a falta dela, quem não sentiria? Me diga, por deus, quem não sentiria a falta de uma mãe?
Se ele quisesse, se ele quisesse ele poderia me chamar de mãe, poderia, eu juro, eu permitiria. Cuidaria dele como se fosse um filho, não sustentaria a casa porque não posso, mas meu deus, lhe daria a benção antes de dormir e prepararia o jantar. Quando ele estivesse triste e deprimido eu sentaria com ele na sala fumando um cigarro e o mandando parar de fumar.
Eu poderia ser sua mãe, nada de vender drogas e nem de se atrasar para a aula, vai cortar o cabelo menino! Pára de tirar catota e vai tomar banho. Vem almoçar, benzinho, come um pouco de salada. Não ia querer o lugar dela no peito dele, nunca, jamais, só queria cuidar dele como ele nunca deixou ninguém cuidar, como ela já não pode mais cuidar. Ele precisa de ajuda, mas um “homem forte” não pode demonstrar fraqueza. Pára com isso, menino, pára com isso que o teu futuro é incerto, tem que seguir a risca o caminho que teus pais te ensinaram.
Larga isso tudo, menino, larga isso tudo que isso tudo não dá futuro a ninguém.Me ouve uma vez só, ouve o que eu tenho para dizer e se salva por mim, por você, por todos nós. Você sabe do que estou falando, faz esse favor para mim, faz? Você me prometeu que não ia me machucar, você lembra? Então pára com isso, moleque.
Bobagem.
“Não estou disposto a esquecer seu rosto de vez, e acho que é tão normal. Dizem que sou louco por eu ter um gosto assim, gostar de quem não gosta de mim... Jogue suas mãos para os céus e agradeça se acaso tiver alguém que você gostaria que estivesse sempre com você na rua na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.”
Canta comigo, bebê, canta comigo que eu sei que essa música você sabe cantar, ela te ensinou, você lembra?
Na rua, na chuva, na fazenda... ou numa casinha de sapê. Ou numa casinha de sa... pê...

Nenhum comentário: