sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Um bom sono e uma página virada

 Eu resolvi te chamar para sair, chamar como quem não quer nada, como quem só quer te divertir. Você prometeu ir, eu prometi ligar e te esperar, mas no fim você não foi, eu não liguei, mas te espero como uma gestante espera o bebê vir ao mundo e depois espera esse bebê crescer e depois espera esse bebê virar adulto e depois virar mamãe ou papai também, e durante todo esse trajeto essa mãe espera amando, como eu te esperei amando, como ainda te espero amando.

 Ainda tentei fingir que não me importava, mandei mensagem no fim da noite como quem não queria nada e depois mandei outra mensagem como quem não fazia nada e depois não mandei mais nada porque eu já não era nada depois de me doar por inteira a você e você fazer esse inteiro de gato e sapato e fingir que não via o que estava escrito em todas as capas de jornais e outdoors da orla da cidade e mais ainda nos meus olhos que não param de brilhar quando estou bem perto de você. Mesmo sem você me tocar.

 Na verdade, com todo o coração, eu às vezes fecho os olhos e desejo muito que você seja só um sonho e amanhã de manhã eu vá despertar e esquecer o que sonhei, ou mais ainda, desejo que você seja uma página de um livro chato que eu folheei, tentei ler, desinteressei e resolvi ler outro livro. Um livro que possa prender minha atenção e fique comigo até que todas as páginas acabem.

 Quem é você? Eu quero saber, quem é você no jogo no bicho? Quem é você na noite? Quem é você no mundo que chegou assim com essa cara de puta e essa boca mais linda do mundo inteiro sorrindo para mim como quem quer só ser simpático e no entanto sugou tudo o que há de bom em mim, colocou no bolso e nunca mais tornou a aparecer. Quem é você que simplesmente me cativa, me toma por inteira, dá vida aos meus olhos e braços e coração e depois vai embora como se isso tudo não precisasse de você para se manter vivo? Quem é você? Para que você veio? De onde você veio? Para onde você vai e por que não vai me levar com você? Ou por que já não levou? Por que quis ir só? Eu lembro que eu era uma boa companhia e por que não devo ser mais?

 Talvez eu não fosse, talvez o mundo girou, a fila andou e há outra pessoa em meu lugar. Essa vida é uma grande ilusão filhadaputa, ou quem sabe ela seja uma página em branco que a gente deva escrever alguma coisa e eu criei uma história que me prendesse a escrever um livro inacabável e que eu fechei os olhos para imaginar e a minha imaginação me levou até você, onde perdi os sentidos e não vi que acabaram as páginas, ou acabaram as histórias, ou acabou comigo. Quem é você?

 Eu não posso te procurar por muito tempo, nem te estudar por muito tempo e nem querer saber muita coisa. E não posso chegar e bater na sua porta da frente como se fosse a casa da minha tia que me oferece chá com torradas e orégano. Não posso jogar tudo para o alto como se não corresse o risco de tudo cair em minha cabeça, não posso te arrancar de mim, não posso te expulsar de mim, não posso dormir e acordar amanhã como se você fosse a porra de um sonho.
 Você poderia ter ido, você poderia ter vindo comigo, nós poderíamos ter sumido no mundo juntos e voltar quando nos desse vontade.
 Depois de tudo, acho que eu só queria saber tocar violino e fazer de você uma nota musical, uma que músico algum consiga tocar, uma que eu possa transformar em várias outras notas e depois compor uma canção que músico algum vai conseguir tocar, mas o mundo inteiro vai tentar ouvir, o mundo inteiro vai poder ouvir, o mundo inteiro vai querer ouvir enquanto eu estarei em silêncio, morrendo sozinha no meu sofá sem almofadas tentando descobrir quem é você, quem foi você um dia ou se você ainda é e finalmente querer descobrir quem eu sou.

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