segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Coisinhas de papel


Eu queria poder chegar aqui e dizer que te amo. O fato é que você me ocupa, me preocupa e se não fosse assim eu continuaria sendo aquela garota amargurada e sem sorrisos que você conheceu. Mas não vim para dizer que te amo, às vezes eu prefiro deixar subtendido para não perder a graça. Ou talvez por medo de assumir de repente e ver que você não queria saber, ou quem sabe que você até queria saber, mas agora que sabe não se interessa mais.

Eu sinto sua falta, meu bem, sinto uma falta que parece que grita aqui dentro e entope meus ouvidos com uma surdez serena, para não ouvir o tic-tac do relógio me aperreando. Eu sei que você vai chegar esta noite – e espero que não esqueça o envelope que eu te pedi -, eu sei que você vai chegar sorrindo e me abraçando como fez tempos atrás. Um abraço de saudade recíproca, de vontade de ver, de tocar, um abraço tão real quanto a minha vontade de te sorrir. O abraço. Haha. Seus abraços são tão confortáveis. Outra noite mesmo brigados eu precisei dele para dormir em paz, fechei os olhos e te pedi, e você deu, e na manhã seguinte eu parecia renovada.

Sabe, algumas pessoas poderiam ser tão mais cautelosas, procuram tanto ao redor do mundo um alguém para ter perto e não vêem que o mais perto as querem tanto e não as têm.
Elas poderiam ser tão mais reais se fizessem aquilo que querem, aquilo que gostam e não precisassem de uma capa pesada para satisfazer o mundo. Na minha sala tem um rapaz que faz flores e corações de papel e quando vai embora, esquece tudo em cima da mesa. O perfume e sangue não perfumam a sala, mas quem olha vê o que quer ver e pensa o que quer pensar, e no dia seguinte ele volta da mesma maneira que no dia anterior, sem se importar muito com o que pensaram no outro dia. E faz de novo as flores e os corações, e esquece de novo tudo sobre a mesa, e quem vê pensa de novo até chegar uma hora que ninguém vais mais olhar e pensar, porque já estarão olhando para outras pessoas e pensando coisas sobre outras pessoas e é um vício que nenhuma reabilitação cura, o vício na vida alheia.

E todos os dias eu sento em qualquer lugar onde eu possa ver passar qualquer pessoa que eu nunca vi passar por mim e estudá-la o máximo que eu possa conseguir no tempo curto de sumir da minha atenção. Seja menino, menina, homem, mulher, garoto, garota. Todos os dias eu estudo as pessoas e descubro suas manias e seus vícios e seus pontos fracos e seus perfumes e a maneira de andar, de falar ao telefone, de espirrar, de tossir, de sorrir, de expressar uma dor, um sentimento, o frio, o calor e acredite, cada pessoa que eu estudo me faz perceber o exato e perfeito motivo de eu estar com você, o exato e perfeito motivo de eu não querer mais não ficar com você.

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