sábado, 6 de fevereiro de 2010

Passamos o ano inteiro programando o Natal e o Reveillon. Eu disse O ano inteiro. Quando um termina – ou mal começa, já planejamos o próximo. Temos um ano de futuro incerto e nem sequer nos importamos, apenas planejamos o do ano seguinte e vamos perdendo cada minuto deste que está acontecendo. É sempre assim, estouramos cartões de créditos para comprar roupas novas e desfilar para pessoas que nem sequer vão reparar, e sapatos novos que apertam os pés, uma maquiagem que mal dá para sorrir e um cabelo tão bem arrumado que nos limita o vento, rouba a nossa liberdade.
Ainda assim eu amo o Natal. Amo as luzes brilhando nos prédios grandes aqui na frente e nas vitrines, escolas, hotéis. As luzes brilhando nos olhinhos das crianças quando ganham presentes, bonecas novas e acreditando que papai Noel existe. Vã ilusão, sempre descobrem que não é verdade, malditos cinco anos.
Acontece que de uns tempos para cá algumas coisas vêm mudando, alguns sorrisos perdendo o brilho e as pessoas vão cansando mais. Nós não mais queremos esperar pelos outros, pelo que eles têm a dizer, nem tampouco pelo que eles têm a sorrir. Nós não queremos mais dar abraços vazios e nem chamar para dançar uma música ruim. Nós não suportamos mais esses nojos e mentiras e falsidades que são criadas para manter tudo do jeitinho que a sociedade padrão quer, nós nem sequer nos suportamos, nós não queremos mais suportar ninguém. E se o Natal algum tempo atrás chegou a significar alguma coisa, o Natal de hoje não significa mais nada. A menos que tenha Substation que dure três dias, a menos que tenha Bike 100 anos na cidade, nem isso, pessoal, nem isso.
O Natal me traz lembranças boas, eu tinha 8 anos quando me embriaguei roubando um copo de champanhe largado sobre a mesa, minha mãe pouco sorria e meu pai não largava o copo de cerveja. Eu lembro também do calor que fazia quando todos iam para um lugar só, e todos queriam o mesmo pedaço do peru, que coxa que nada, eles queriam mesmo era o sobrecu.
Perdeu a essência, o cheiro de Natal, a vontade de Natal, perdeu tudo, restou apenas um dia nas férias e uma vontade incessante de voltar a ser criança e me embriagar novamente com aquele copo de champanhe.

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