terça-feira, 8 de abril de 2008

Insulina

Ela tinha acabado de buscar a chave com a intenção de jogá-la riacho abaixo, seu coração estava fechado para balanço e já fazia uns 17 anos.
Morria de medo de arriscar abrir assim, de repente.
Mas há coisas, momentos na vida da gente que quando tem que acontecer, acontece .
Ela conheceu um rapaz, diferente dos demais. Já começou por aí.
Ele nem sequer pediu licença, foi se aproximando e invadiu o seu coração.
Ela estranhou no início, mas percebeu que não queria que ele saísse, não queria que ele fosse embora e deixasse o espaço vazio novamente.
Era a melhor sensação que já havia sentido em todos os tempos.
Vã ilusão.

Sorria a maior parte do tempo, colhia rosas, cultivava o jardim. Sempre assim, como as fadas nos contos de crianças.
Não durou muito tempo e o invasor já tinha ido embora, levando vários pedaços da estrutura.
Ela não queria de volta, nem um pedacinho sequer.
Ficou com retalhos de coração, se assim podem ser chamados.
Pedaços bem pequenos e machucados, e doía, como doía.
Resmungava, reclamava da dor a tarde inteira. Era uma dor que incomodava, mas que era bem melhor que o vazio que morou ali por tanto tempo.
O amor é amargo olhando de determinado ângulo, e ela?
Bem, ela já sofria de Diabetes há anos.
Um doce a mais e tudo desabaria na sua vida! Mas que arriscassem a invadir novamente e deixá-la pra trás mais uma vez, ela já estava preparada. Com sorvete, brigadeiro, refrigerante e uma caneta para assinar o atestado de óbito. Ela poderia até morrer, mas do amor ela não ia fugir, não mais! Nunca, jamais.

Nenhum comentário: