domingo, 19 de outubro de 2008

Abram as cortinas.



Aos que vão, aos que vêm, aos que choram quando a lua some. Uma salva de palmas.
Aos que amam, aos que amam em segredo, aos que amam e amam muito a ponto de não ter medo.
A quem gosta de sentir o cheiro de uma rosa, a quem vê beleza no pôr-do-sol e quem não acha que poesia seja “coisa de veado”.
Ao homem que sustenta a família sem ter como sustentar, à mãe de família que chora atrás da porta por não ter onde chorar.
A quem está aqui sem saber para onde ir, a quem está aqui por não querer saber para onde vai. A quem está de malas prontas esperando o momento exato de fugir para um mundo paralelo que se encontra na rua de trás.
E agora um brinde às moças que sobem na vida sem subir nas costas de ninguém, às crianças que fizeram sozinhas um castelo enorme de areia. Ao time de futebol que perdeu o jogo, mas jogou bonito. Fizeram o que puderam.
Eu quero novamente uma salva de palmas, mas desta vez é para aquele grandalhão que escreveu um poema e enviou para a garotinha do ensino médio, ela recusou as rosas.
Quero um aplauso bem caloroso para todos aqueles que não têm medo de perder, que arriscam tudo num projeto, que arriscam a vida num coração que em instante com certeza vai parar de pulsar... Parou.
Quero que aplaudam o mundo que está um caos e ainda não saiu do eixo, que aplaudam o cinema, o teatro, o mundo circense e as artes cênicas em geral.
Quero que aplaudam a música.
O ding dong do sino da igreja, o toque fino e interminável da corda do violino, o piano que mal me deixa dormir por me encher com tanta ternura que até me falta ar.
Um aplauso para a orquestra.
Quero que aplaudam a disposição de quem perdeu e ainda está de pé acreditando que ainda há chances, e há.
Quero que aplaudam o espaço vazio que os fracassados deixaram para trás, pode servir para algo, sei lá.
Aplaudam Chico Buarque.
Quero palmas e assovios para quem caiu e conseguiu se levantar sem apoiar em nada já derrotado e também em nada que ainda estava de pé.
Para quem tentou se livrar do amor rasgando livros e riscando discos por medo de machucar o coração. Para quem tentou fazer com que o amor parasse de doer, tomando aspirina, Tramal, corticóide, Dipirona ou seja lá o que porra for. Ao menos tentou, e ainda não aprendeu que isso não dá certo.
Aplausos para os insistentes, disciplinados e determinados.
Quero também que aplaudam os artistas. Eles que machucam os pés, não comem direito, se esforçam para subir no palco e trazer arte para nossos olhos. Olhos sem visão plena do futuro.
Um beijo para quem está chorando, outro beijo para quem está sorrindo e um abraço no desespero pois há um momento ou outro na vida que é realmente preciso juntar-se ao inimigo.
Quero todos de pé para aplaudir aqueles que amam e amados são, e também aqueles que amam e não são amados e ainda assim estão de pé desfilando por aí, construindo pontes entre a vida real e o faz-de-conta (Esses merecem duas salvas de palmas. Eu quero um pouco de glamour por esta noite).
Aos que duvidam, aos que não crêem, aos que mentem, aos indecisos, aos estressados, aos odiáveis, aos que não amam... Eu quero silêncio. Aplauso em silêncio.
Quero aplauso em silêncio para quem mente para si mesmo, para quem acha que o mundo cabe na palma da mão, para os gananciosos, para quem não gosta de brigadeiro e para quem tem alergia a cacau eu só lamento.
Na verdade eu só vim aqui para dizer que de cima do palco o mundo brilha de outra maneira, de uma maneira que ilumina até onde nunca a luz conseguiu chegar mesmo com toda a sua velocidade.
Em cima do palco você pode ser o que você quiser, e fora dele também.Eu só vim para dizer que todos merecem aplausos, até mesmo quem não merece.

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