sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A dor que não quer falar.


Às vezes você tem tanta ternura dentro de si, e para você apenas uma pessoa no mundo seria digna de tamanho afeto, mas essa pessoa se faz pequena quando chega e finge que não te vê. Então toda a sua ternura se transforma em tristeza e essa tristeza vai invadindo a sua alma e seu corpo por inteiro, e de repente você não tem mais para onde fugir. Se até o abismo se esconde por ter tanto medo da sua dor. Então você cai, cai para dentro de você mesmo e tenta encontrar a solução de qualquer coisa, qualquer coisa que possa te pegar nos braços e te fazer ninar, para que você possa finalmente dormir em paz, por um período de tempo curto, por ao menos uma noite.
E ele continua ali, o tal ser digno da sua atenção continua ali se fazendo de invisível para você não se aproximar porque ele também é humano e quer curtir a solidão. Mas você sabe melhor que ninguém o quanto esse vazio tira o fôlego e você só queria que ele dividsse com você para que ele não ficasse sem respirar sozinho. E você bem sabe que esse vazio tira a paz, mas só o sorriso dele te satisfaz e você não quer vê-lo chorar, nem derramar uma só lágrima que possa molhar a seca que cerca seu coração, ou o dele, tanto faz, você só quer vê-lo bem. Só quer vê-lo por perto, tê-lo por perto por todo o tempo, você o quer perto, cada vez mais perto. Mas ele se afasta para sofrer sozinho e você assiste de longe, querendo fazer alguma coisa, mas todo mundo precisa disso uma vez ou outra. Você quer sugar toda a dor que tem nele para vê-lo bem, mas você também não pode. No coração dele tem gravado outro nome, você vê isso quando olha bem fundo nos olhos dele e vê outro sorriso refletindo, outro cabelo saindo do lugar. Você vê e sente isso no silêncio que ele insiste em manter, e sente tudo naufragar nas lágrimas que ele mesmo derramou, nada em você sabe nadar.
Então você se engasga com o seu desejo, mas não o coloca para fora, você já deve estar cansado desta vida monótona que você tentou mudar, tentou alegrar, mas ele monopolizou seu coração e agora está sob comando dele, e ele perdeu o controle. Mas que caralho.
Eu bem sei o quanto você gostaria de abrir a porta e ir embora e deixá-lo ver a cadeira vazia e sentir a sua falta, mas ele não vai sentir. E sua vontade de ir embora para sempre fica presa aí dentro porque você não quer deixá-lo para trás. Quer tentar até o final, insistir até a última gota. Você quer não deixar isso morrer, mas você precisa porque você sabe que não vale a pena. Mas, acredite, talvez valha. Talvez não, com certeza vale, ao menos para você. Mesmo que isso faça você inflamar de tanta ternura acumulada e sendo transformada em tristeza mal vinda, e essa ternura ou tristeza desprezada vai fazer rolar lágrimas, e dessa vez serão suas e todo o ciclo se repetirá over, and over again.
Então você permanece sentada, com papel e caneta na mão procurando um verso simplório para descrever aquilo tudo, mas não consegue porque tem algo a mais desviando a sua atenção. Você estaciona a caneta sobre a mesa e fica o assistindo sofrer sozinho, sentado, distante.
Você até se levanta, vai até lá, lhe dá a mão, mas para ele você não faz diferença. Ao menos é o que parece. E é uma merda quando isso acontece, quando você sente seu sentimento tão lindo se repartindo inteiro dentro de você e encontra o tal ser tão digno te encontrando apenas como "mais um na multidão".
Numa situação como essa, apenas faça o que tem de ser feito.
Ofereça-lhe a mão, pois o coração e a alma você já lhe entregou, ofereça a mão e se ela for negada, guarde-a em seu bolso, tire o rancor que está se acumulando há tanto tempo e coloque a mão afetiva no lugar. Um dia, quem sabe, alguém precise dela e você passe a oferecer-lhe.
Ah, sei lá. Eu sei que tudo o que você gostaria era tê-lo para você, mas aceite os fatos, ele ignora a sua existência, portanto siga em frente sem nem olhar para trás.
Se você olhar, ele vai estar lá. Sentado, sozinho, distante e você vai querer voltar para buscá-lo e tirá-lo do abismo, mas não. Novamente? Não.
Deixe-o sozinho ou com quem ele quiser, dessa vez você vai aprender à força como manipular o próprio órgão muscular oco, imbecil.
Porque de uma forma ou de outra você tem que aprender que na prática a teoria é outra e se você não passar a agir da maneira certa mesmo que doa, você não vai sair do lugar nunca.

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