sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Eu sei que posso.




Eu posso mentir que não quero você. Não posso? Claro que posso. Fingir como sempre que não sinto a mínima falta, fingir que não quero fugir com a saudade que dá quando você não está e não voltar mais para não querer te ter pra mim. Fingir que de repente meu coração não palpita quando está perto do seu. Mas eu posso guardar isso para mim, não posso? Claro que posso.
E fingir que tenho outros amores, que sinto falta de “outros alguéns”, que eu te liguei, mas foi sem querer. Que eu te gostei, mas foi sem saber. Eu posso fingir que não me preocupo contigo, não posso? Claro que posso.
Que não acho graça no que você fala, que não me apaixono pelo seu abraço. Eu posso fingir que não amo ninguém, que não quero ninguém e que nesta porra deste coração quem manda sou eu. Eu posso sim, mesmo que nisso tudo eu só consiga enganar a mim mesma. E a você, é claro. Sempre vidrado demais em outras coisas e pessoas, que acaba por nem me enxergar. E já que eu não me esforço nem um pouco para saltar na sua frente, fica até mais difícil de você tropeçar em mim e pedir desculpas. Então pode passar direto, cuidado com os carros.
E o pior é que eu paro para lhe observar, os defeitos são inúmeros, as qualidades são também. Então vai um suprindo o outro e do nada eu já não sei mais quem é quem.
Só lembro de você. Dizendo-me umas coisas doces achando que eu vou acreditar, eu acho graça, viro o rosto e procuro outro foco em outro lugar.Queria eu que tudo partisse da sua sinceridade, e do âmago do seu sentimento mais doce, mas não. Ser só mais uma na sua lista "Otárias que usei." , não está na minha lista de “Fiz sem me arrepender”. Queria eu, Amor, queria eu que desejos e fantasias por ao menos um dia estivessem sob meu controle. Assim eu poderia, quem sabe, sentar num banco de um bosque e assistir todo o conto de fadas entrando em conflito. Pegar um bloco de notas e escrever uma peça, diante de tantos tapas e abraços e fogo e gelo e frio e medo e susto e agonia e desejo e desejo e desejo e mentiras e verdades e saudades e cantigas... Nem sempre o poder é meu desejo, quero que as coisas aconteçam naturalmente, sem pó de pi ri lim pim pim. Plin!*
Entretanto, nada disso me impressiona mais. Nada disso me dói mais e eu até já fiz o que podia. Fui sutil, agradável e não me escondi por detrás de nenhuma falcatrua, e você, como sempre, não me viu.
Chamei-lhe para sentar, joguei beijos no seu prato e você nem para me enxergar ou me fazer sentir um pouco sua.
Então agora, depois de tudo, eu posso fingir que aquelas cartas não eram para você, que meu sorriso não foi conseqüência do seu e que o seu cheiro não me atrai. Posso fingir que estou bem e que não aceito o seu cigarro por ser seu. Posso fingir que não quero segurar a sua mão, que não fiquei feliz com seu telefonema e que você não pode colocar a mão no meu joelho. A mentira é minha, a dor é minha, o sentimento é meu, faço deles o que eu bem quiser, o que eu bem entender. Guardo, escondo, exponho, parto em fragmentos bem pequenos, são meus mesmo, você também não se importa. Portanto, não amo, não quero, não gosto, não sinto, não temo, não digo, não ligo, não abraço, não vou, não volto, não grito, não choro, não choro, não choro, não penso, não quero, não quero, eu não quero.
E sim, isso tudo é desde a primeira vez que eu lhe vi e agora eu resolvi lhe dissolver em palavras. Passar bem.

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