quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O amor é intrigante.


Acabou por perder o controle, mas tomou uma bela xícara de café, fumou alguns cigarros-riscados porque o engraçadinho riscou escrevendo “Isso mata” e desenhando umas caveirinhas tronxas, respirou fundo e decidiu passar a cuidar novamente do seu coração, que já estava deixado para lá ao deus dará.
Não adianta dizer que não sente a falta dele, do abraço dele porque eu vejo quando arruma um pretexto bobo para ligar.
Mas depois de tanto tempo neste vai-e-vem que causa umas náuseas terríveis, já estava na hora de levantar a cabeça, soltar os cabelos, subir no salto e viver por si mesma.
O amor não lhe cansa, não é?
Pois deveria, ao menos por uma noite ou por um dia.
Por mais que você me diga que o amor é uma dádiva e todo esse papo doce e romântico que você repete dia após dia, o amor desconcerta a cabeça de qualquer um e a sua já não é muito boa, então quando você ama ou sente algo próximo “disso”, você fica visivelmente atormentada.
Eu sei o quanto você esperou para que desse certo com esse rapaz, sei o quanto você quis tê-lo por inteiro, me refiro a carne e coração, mas aceite os fatos, minha menina, o amor não é para você, ou como eu li um dia... “O amor não é para o teu bico!”.
- Putaqueopariu!
Foi isso o que você gritou quando colocou a mão no peito e o sentiu vazio, ele lhe tinha tomado o tal coração mesclado de amor, saudades e ódio. Então você se reergueu, se apoiou na janela e o viu sentado no banco do seu jardim, arrancando espinho por espinho de rosa por rosa do roseiral que você tanto se esforçou para manter de pé, e prosseguia alfinetando o seu coração como se fosse um brinquedo de criança, um pacotinho de algodão. “Isso é uma arma, porra!” Foi o que lhe passou pela cabeça, mas você o olhou com deveras aflição e não conseguiu dizer nada além de:
- Vá para a casa do caralho!
Incrível como o seu banco de palavras ficou curto em um tempo tão pequeno, mas você disse exatamente o que quis e conseguiu ser clara (Aliás, mais clara que isso, impossível.), só foi ruim quando você o viu sacudindo o órgão pela janela na qual você se apoiava, abriu o portão, tirou o chapéu, colocou o capacete que tem um desenho estranho na parte traseira, subiu na moto e nunca mais voltou.
Eu bem sei o quanto você gostaria que ele estivesse de volta, neste exato momento, mas ele deve estar abraçando outros braços, oferecendo flores e aceitando a futilidade das garotas que o rodeiam, tudo por uma noite de sexo.
E as otárias que acham que quando ele diz “te amo” ele quer dizer “Eu te amo.”, não percebem a diferença, a intensidade nas palavras, a ausência de fôlego quando o “AMO” é bem articulado e os olhos quase entram em um colapso nervoso de tanta euforia.
E ele nunca teve nem um “tiuti” deste tipo, sempre tão superficial, talvez não por ele e sim pelas pessoas deste tipo que o perseguem aonde quer que vá e fiquem lhe bajulando sabe-se lá porque.
Mundo estranho, gente estranha, ainda falam que a estranha nisso tudo sou eu. Repara se eu fico por aí cantando umas músicas que repetem “O Asa arrêa” durante 4 minutos, ou pintando o cabelo da mesma cor das amigas por elas serem minhas “bests” e por isso ser “cool”.
Willian Shakespeare, por favor, dê a honra da sua presença neste mundo cruel e asqueroso, cheio de coisas vagas e pessoas que não amam.
Chico Buarque, por favor, cante “Até pensei” para mim, enquanto eu sento nesta rede e bordo um xale para a vovó. *Vã ilusão, eu nem sei bordar.*
E você, aí, sentada com um olhar tão cabisbaixo, por que você não se levanta e vem comigo pintar um quadro, ou arrumar o quarto, ou recitar um poema?
Nada disso vai te perfurar o coração que você, por sinal, não tem mais.
Opa, perdão, “seria cômico se não fosse trágico”.
Mas estou falando sério, levante-se, segure a minha mão para isso, veja como daqui de cima o mundo é mais bonito.
E vê se não fala nem um palavrão até ele voltar.

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