terça-feira, 15 de julho de 2008

Cruzando meus segredos


Então, tudo o que você quer é ir embora. Exatamente, deixar tudo para trás e partir com pressa para o mundo, sem data para voltar. Quer sumir completamente. Você quer apoiar em algo, quer o ombro que tinha anos atrás, quer o carinho que recebia meses atrás, mas você está sozinho novamente, como tempos atrás. Eu sei como você se sente, eu também já me senti assim. Já peguei papel e caneta para escrever “Miss Mag, fui embora. Desculpa e obrigada por tudo. P.S.: Eu te amo.” Mas não deu certo.
A rebeldia de adolescente me fez rir e acabei amassando o bilhete de despedida e jogando na lata do lixo, mas a vontade permaneceu e até hoje mora aqui dentro. E fica me chamando o tempo inteiro para fugir, eu já disse que não vou, mas ela insiste.
Assumo que às vezes eu não me encontro em mim mesma e me preparo para ir embora para sempre, mas nunca vou, e eu não sei o que me prende por aqui de verdade.
Eu só queria que isso tudo valesse a pena, queria que cada lágrima, cada grito, cada silêncio, cada moinho de vento tirando a minha paciência do lugar servisse para algo no futuro, mas eu sei que não servirá para porra nenhuma. Tudo só resolveu aparecer para infernizar a minha vida e se divertir as minhas custas. Espero que estejam às gargalhadas, sem mais ar nos pulmões e que isso seja permanente, para que eu nunca mais ouça um miado sequer.
Eu estou tão cansada.
Estou tão cansada de todas essa coisas, e de todas essas pessoas e de todas essas palavras que ecoam no meu ouvido e as músicas que não param de tilintar enquanto eu tento dormir. Estou cansada, definitivamente, da vida em si. De tudo o que a compõe, dos jardins, das alegrias, das lágrimas, das dores, das aflições, das discussões, das perdas, dos ganhos, dos ciúmes, das manias, do amor, do suor, do calor, das estradas, das saudades, das saudades novamente.
Estou cansada de todas as coisas que me rodearam o tempo inteiro e de todas aquelas que eu tanto quis me livrar e não me largaram um instante sequer. Eu não quero mais nada disso pra mim. Não quero mais ninguém gritando no me ouvido, nem quero mais levar a culpa por tentar ajudar alguém, nem quero mais olhares esquisitos, nem vozes no meu subconsciente me dizendo o que eu tenho e o que eu não tenho que fazer. Eu quero cantar, deitar num lugar macio e escuro e cantar, pra uma multidão imaginária, onde todos cantariam o refrão comigo, eu sorriria feliz, olharia para cada um e morreria em paz. E enquanto eu estivesse caída no palco, não queria ninguém me olhando estranho novamente, queria que todos continuassem a cantar, como se nada houvesse acontecido.
Eu estou tão cansada.
Cansada a ponto de não suportar mais esperar telefonemas, nem esperar que me amem como eu os amo, nem esperar aquele apoio moral, aquele carinho esperado e nem nada, não quero mais esperar por nada, estou cansada de esperar.
Eu só quero um instante de paz, um instante só e depois disso pode me carregar para a eternidade, que com certeza irei feliz. Não quero mais que ninguém me faça sofrer.
Eu estou cansada.
De destruir tudo, todas as coisas que eu batalhei tanto para conseguir e de repente, sem mais nem menos, eu faço o favor de pegar tudo isso, amontoar, pegar com carinho novamente e jogar tudo Everest abaixo, destruindo tudo. Todos os amores que deveriam ser inquebráveis e acabaram se espatifando na primeira fração de segundo da queda.
E de repente chega você, exatamente assim, sem mais e nem menos. Cruzando os meus segredos que podem não ser tão secretos assim, mas ainda são meus e eu quero mantê-los aqui dentro pelo tempo que EU quiser manter, e não pelo tempo que deve ser mantido.
Você não é o único no mundo que olha para os lados e procura uma saída e não encontra, há milhões de pessoas iguais a você e nem por isso saem por aí afligindo outras pessoas que estão em paz.
Quando se está triste e quando não sabe o que falar, é melhor ficar calado. Algumas palavras podem ofender outras pessoas e a gente não sabe.
Desculpa, desculpa ser quem sou, mas eu gosto de ser assim e não vou mudar. Eu sei como é isso, eu já passei por isso também.
Acontece que eu já estou cansada de ver tanta gente precisando de alguém, eu me sentir alguém e não poder fazer nada, que é quando eu deveria me sentir ninguém e me jogar na amargura, mas eu caio nela sem nem precisar parar para prestar atenção no que eu sinto.
Ai ai, a amargura. Que me desce pelos poros e alimenta meu sadismo, minha vontade de sofrer só por mais um instante. Por isso me mantenho viva, mas o sadismo também está me cansando.
Desculpa se eu machuquei alguém, desculpa se nem esse texto todo está dando certo, vai ver você não se importa como todos os demais, desculpa se eu não sou exatamente aquilo que um ou outro produziram em seus subconscientes, não foi a minha intenção decepcionar ninguém, com nada.
Não foi minha intenção confundir ninguém, nem fazer ninguém chorar e nem muito menos se sentir pequeno, eu deveria estar tentando ajudar, mas com certeza, eu só atrapalhei.
E eu estou cansada disso também.

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