segunda-feira, 12 de maio de 2008

Amar não tira a dor do foco.

Ela fingia que não queria mais vê-lo, aliás, dizia isso sempre que sabia que ia esbarrar com ele em algum lugar e ia ao tal lugar por “coincidência”, o plano imperfeito, ele já sabia, pois seus olhos a entregavam.
Eles discutiam por motivos estúpidos, por um não aceitar que o outro era seu total oposto, por não querer aceitar que as pessoas não são exatamente como gostaríamos que fossem, até que pararam de se falar.
E desta vez pararam de vez, nenhuma recaída de ambas as partes, se bem que para ele não parecia fazer muita diferença, e ela não parecia se importar nem um pouco, era fria como uma pedra de gelo, a diferença era que ao menos desta vez ela não estava derretendo, não derramava uma gota sequer.
Querendo ou não ela pensava nele todos os dias, em todos os filmes e músicas, mas sempre que alguém dizia “Você está tão séria, está pensando em quê?”
Em besteiras, coisas sem importância.- Ela dizia.
Mal sabe ele que já estava invadindo as noites dela novamente. Pela centésima, milésima vez, na verdade.
Invadia aos poucos, minuto a minuto, hora a hora e em pouco tempo já lhe tinha roubado mais uma noite na semana.
Ele não podia fazer nada, ele era o leigo em tudo aquilo e o pior de tudo é que ela também não, mesmo que insistisse, era espontâneo, inevitável.
Ela pensava que já tinha se livrado dessa perseguição, dessa praga que quando a encontrava não largava mais. Errou, my darling.
Cortou relações, não ligava mais, não conversava mais via MSN, nem trocava bilhetinhos, nem o cumprimentava com afeição como era acostumada a fazer, ela foi se afastando de um jeito que nem ele percebeu, ela ia tirá-lo dos pensamentos assim, vã filosofia.
Em poucos dias lá estava ele falando com ela e ela ignorando os gritos na janela, fingia que era no apartamento vizinho e fechava a persiana. Lá estava ele a chamando para sair e ela dizendo que tinha coisas para fazer, errando como sempre, errando como sempre, Minha menina.
E naquela noite, ela estava alegre, amigos por perto, risos para dar e vender, só não tinha o brilho nos olhos que costumava ter quando ele entrava pela porta enorme e branca com os cabelos ao vento. Brilho apagado, como pavio aceso de vela quando soprado com força.
Até que de repente sua amiga entrou pela tal porta, com um sorriso de um canto ao outro dizendo: Ele está no carro e pediu pra lhe chamar.Espantada e já sabendo do que se tratava, ela disse:- Ele quem? – Ela respondeu.
- ELE. Aquele que ocupa seus pensamentos vagos, que briga com você por amar um cara que não merece nem um minuto da sua atenção, aquele que você insiste em dizer que não quer abraçar e quando o vê passar seus braços ficam inquietos, quase que com vida própria. Ele está a lhe chamar.
- Depois eu vou, obrigada, Loura. – Ela disse com os pés também inquietos, mas não saiu do lugar.
- Ele não está muito bem não.
- Beto, eu volto já. – E correu.

No caminho do balcão da recepção da boate até a porta do carro já aberta, ela pensou em mil coisas, mas quando sentou na poltrona do motorista e o viu deitado, não conseguiu pensar em mais nada.
Tocou-lhe o rosto e perguntou se estava tudo bem, ele não respondeu, só virou a cabeça para o lado esquerdo, de encontro com a mão já leve.
Ela perguntou se ele queria dormir, ele respondeu que sim com a cabeça.
Ela alisou um pouco seus cabelos e largou logo em seguida, já estava se perdendo novamente na presença dele. Afastou-se um pouco e perguntou se ele havia bebido ou usado drogas e ele respondeu que sim com a cabeça, novamente.
Então quando a preocupação já não tinha mais para aonde correr, quando ela ia finalmente pisar no orgulho com o salto que apertava seu pé, ele acariciou a moça ao lado.
Ela riu (e dessa vez ela queria mesmo rir daquilo), acendeu um cigarro e disse: Se vira, rapaz.
Voltou para a recepção como se nada houvesse acontecido e logo depois o viu entrar, fingiu que era só mais um cliente da noite de sábado, muito agitada, nem uma olhada, nem uma troca de sorrisos, nada. Ele ainda falou algo, mas ela fingiu que não foi com ela, sempre fingindo, fingida.
Então ele foi dormir no camarim, no sofá, sei lá. Sei que horas depois eles se esbarraram (e dessa vez não foi proposital), ele disse que não gostava da música e pediu pra ela fazer alguma coisa, então ela foi ao DJ e já era teoricamente tarde demais, colocaram a melhor música e foi visto um sorriso no rosto dele. E no dela, nada além de nada.
Ela espera que ele tenha “se virado” muito bem, porque a noite inteira ela não o procurou e até agora não teve a mínima vontade de ligar.
No dia seguinte ele não lembrava de NADA.
E você acha que ela está livre?
Engano seu, vã ilusão, meu anjo. Ela me descreveu aquela noite com detalhes, mas confessou que apenas um alguém ocupa tanto seus pensamentos, e esse alguém... Não tem nome, não tem identidade. Ou melhor dizendo: Tem, mas não vale a pena. Só tem o poder de chegar e tirar tudo do lugar sem movimentar nenhum de seus dedos.
É melhor quando ela dorme, nada a perturba.



P.S.: EU.te.AMO.

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